“É incalculável o nível de carga que a estrutura sofreu naquele momento”

Ponte da BR

“É incalculável o nível de carga que a estrutura sofreu naquele momento”

Especialista em pontes, Rebeca Jéssica Schmitz, participou do programa Frente e Verso e falou sobre o quanto a colisão pode ter danificado a estruturada da ponte do Arroio Boa Vista

“É incalculável o nível de carga que a estrutura sofreu naquele momento”
(Foto: Ana Carolina Becker)
Vale do Taquari

Desde o acidente registrado no sábado, 13, quando um caminhão-tanque explodiu e danificou a estrutura da ponte sobre o Arroio Boa Vista, na BR-386, o Vale do Taquari vive uma nova rotina de deslocamento.

Em entrevista ao programa Frente e Verso, da Rádio A Hora 102.9, na manhã desta sexta-feira, 19, a especialista em pontes, mestre na área de estruturas pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rebeca Jéssica Schmitz, destacou que o fato de ter duas pontes no local salvou de algo ainda pior.

Agora, segundo a profissional, é necessário avaliar o dano na estrutura para começar uma reestruturação. “Não é nenhum conserto que vai levar seis meses. No caso dessa ponte, ela foi muito afetada pelo incêndio e dependendo como isso tivesse acontecido, ela poderia ter caído”, diz.

A ponte no sentido capital/interior é a estrutura mais antiga. “Não é um problema a estrutura ser mais velha, desde que ela esteja sempre sofrendo manutenções e vistoriais. Na minha visão, o fato de a gente não ter tido um colapso da ponte mostra que ela tinha uma robustez e manutenção”, considera.

A especialista explica que o nível de carga no momento do acidente foi alto. “Quando ocorreu a batida, explosão e incêndio representa uma carga na estrutura. Isso mostra que a construção conseguiu transferir para os elementos de forma que ela não caiu, isso já é uma questão relevante. Não estamos podendo utilizar no momento, mas quando uma estrutura entra em colapso, poderíamos ter uma situação pior agora.”

Por que o incêndio provoca um dano tão grande?

  • As vezes vemos essas estruturas e imaginamos que elas são inabaláveis ou que elas tem uma capacidade infinita. O concreto resiste muito bem em situações de incêndio, se comparar com outros materiais, como o aço. Mas a estrutura da ponte é uma estrutura em concreto armado, o que significa que a gente tem concreto e tem aço. O que aconteceu? A camada mais externa de concreto, que serve para proteger o aço que está dentro da estrutura, no momento que a gente expõe esse aço e armadura interna, a gente tem danos muito acelerados na estrutura.

O que acontece em um incêndio?

  • O concreto tem internamente água. Apesar de não parecer, ele tem poros e quando estamos em uma situação de altas temperaturas como um incêndio essa água presente internamente fica acumulada em alguns poros internos e quando tem elevação de temperatura essa água faz pressão para sair, quer evaporar, só que esses poros não são caminhos por vez definidos. Acontece essa pressão para a água sair e a gente tem como se fosse um arremesso dessa placa de concreto mais externo, se desloca da estrutura por causa da pressão que a água faz para evaporar.

O que precisa ser feito para reconstruir a estrutura?

  • Verifiquei que temos um dano muito alto e o que se tem falado é em reconstrução. O que acontece se for reformado é gerar mais dificuldade do que realmente reconstruir. Na reconstrução, elaborar o projeto de uma ponte é algo desafiador. Antes de começar a construir uma ponte, existe uma análise, projeto de qualidade e que seja exequível, que promova a segurança dos usuários, sendo economicamente viável.

Estudo da Univates

A intenção dos alunos da Universidade do Vale do Taquari (Univates) é realizar um estudo para diagnosticar o que aconteceu com a ponte. Para isso, é necessário um contato com a concessionária CCR Viasul para ver a disponibilidade de tal estudo.

Ouça a entrevista na íntegra

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