“Escolhi usar o tempo com o que gosto”

Abre aspas

“Escolhi usar o tempo com o que gosto”

A lida no campo desde pequeno. Depois, já adulto, na cidade, como bancário. Quando completou 50 anos, Adilson Johann, hoje com 58, tomou a decisão de se aposentar. Ele é casado com Guerta Regina Eli Johann, e pai de Aquiles, 26, e de Augusto, 24. Corrida, futebol, atuação constante na comunidade e, uma paixão de criança que resolveu colocar em prática, aprender a tocar gaita. Por que não? Essa pergunta foi o combustível para se dedicar àquilo que gosta

“Escolhi usar o tempo com o que gosto”
(Foto: Divulgação)
Vale do Taquari

O que lhe fez se dedicar a aprender tocar gaita?
Sempre gostei do som desse instrumento. Eu ficava olhando quem tocava, me concentrando para ouvir o som da gaita. Quando me aposentei, me perguntei: por que não? Então encontrei um senhor, o Armando Gaiteiro, que mora em Conventos. Ele dá aula de gaita.

Conversei com ele sobre o quando eu gosto do instrumento e se eu poderia aprender. Ele disse: claro que pode, não há problema algum. Então fui atrás de uma gaita, comprei e comecei a fazer aulas com ele.

Você se aposentou com 50 anos. É bastante cedo, qual foi o motivo? Houve algum problema que lhe obrigou parar de trabalhar?
Sou da agricultura. Nascido no interior. Comecei a trabalhar bem jovem. Pude contar o tempo na lavoura para minha aposentadoria. Quando fechei o tempo de contribuição, trabalhava como bancário, resolvi sair. Abriu um plano de incentivo para aposentadoria e entrei.

Me chamaram de louco. Que era muito jovem para me aposentar. Mas a vida não é só trabalhar. Estou aposentado, mas tenho uma vida muito ativa. Pratico esportes, jogo futebol, corro todos os dias, pedalo. Vou para o interior cuidar da propriedade da família. Tenho grupos de amigos e faço muito pela comunidade. Escolhi usar o tempo com o que gosto.

A gaita é um instrumento complexo. Inclusive há poucos professores para ensinar. Como foi pegar algo do zero e começar a tocar?
Quando eu era novo, tentei aprender a tocar violão. Mas não levei adiante. A gaita surgiu da vontade e da possibilidade real de aprender quando tive mais controle do meu tempo. Eu fazia uma aula por semana e praticava muito em casa.

É um instrumento que requer habilidade. Tem de coordenar as duas mãos. Aos poucos fui aprendendo. Hoje toco alguma coisa. Não sou um gaiteiro completo, para animar a festa. Toco para mim, para me satisfazer.

Para quem está aprendendo, as primeiras notas, mas, principalmente, a primeira música tocada do início ao fim, é bem marcante. Como foi contigo?
Foi maravilhoso. Claro, a gente começa pelo mais simples. Mas a primeira música, de ponta a ponta, e cantando junto, me senti o rei da gaita (risos). Foi o momento em que a gente começa a ver alguma evolução. Usar as duas mãos, coordenar a voz no ritmo. É um condicionamento cerebral. Não é simples. Mas ao mesmo tempo faz muito bem.

Qual foi a música?
A primeira foi Assino com X. A gaita combina muito com música sertaneja e gauchesca. Eu passei a gostar mais ainda da música gaúcha, pois comecei a perceber a complexidade, o quanto ela é bem feita. Tem mais qualidade do que os outros ritmos.

E com a família? Como foi praticar com eles por perto?
(Risos) Eu começava a tocar na sala, quando via, eu estava sozinho. Eles se retiravam gentilmente de perto de mim. Era assim mesmo, nem todos têm ouvidos para aturar um estudante de música.
Hoje em dia está melhor. Até quando eles percebiam algum progresso, até elogiavam. Meus filhos tocam violão, de vez em quando até fizemos algumas músicas juntos.

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