Uma das principais rodovias federais do estado, a BR-386 está com sua capacidade comprometida. Desde sábado, 13, a interrupção forçada do tráfego de veículos entre Estrela e Lajeado, por conta da explosão de um caminhão-tanque na ponte sobre o Arroio Boa Vista, deixa o setor produtivo apreensivo.
Na segunda-feira, 15, a CCR ViaSul confirmou que a reconstrução da ponte, situada no sentido capital/interior, levará até seis meses. O tráfego na outra ponte pode ser liberado ainda hoje, inicialmente para veículos leves, em mão dupla. Já a permissão para passagem de veículos pesados deve ocorrer em dez dias.
Mesmo com esta possibilidade, permanece a preocupação das autoridades, sobretudo com o transporte de cargas. Os desvios indicados pela CCR e Polícia Rodoviária Federal aumentam o tempo de viagem para os motoristas e encarecem custos para o setor.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística do Rio Grande do Sul (Setcergs), Sérgio Gabardo, manteve contato com o secretário dos Transportes do RS, Juvir Costella, manifestando a preocupação com o setor logístico, já que o Estado como um todo é afetado.
“Vemos com muita preocupação. Já temos alguns prazos que foram passados, mas enquanto isso, os caminhões tem que fazer a volta em duas rodovias. Isso causa transtorno e complica o transporte de cargas. Temos um custo, um trajeto que se torna desconhecido, um tempo a mais de viagem. O motorista vai em uma rota que não conhece ou não está acostumado”, salienta.
Cerca de 35 mil veículos cruzam diariamente o trecho, incluindo muitos caminhões carregados com cargas. “A circulação é muito grande no local. Metade do Rio Grande do Sul passa por essa rodovia, que vêm de outras regiões e desce em direção a Porto Alegre”, lembra a economista e vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Cíntia Agostini.
Transporte multimodal
Numa análise regional, o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT), Ivandro da Rosa considera que a interrupção do tráfego na ponte causa um “transtorno enorme” economicamente. E reforça a necessidade de se lutar pelo transporte multimodal na região.
“Isso causa perda de competitividade, pois a região não recebe matéria-prima e os caminhões precisam fazer grandes desvios para chegar aqui. Fica muito claro que é necessário reforçar a bandeira do terminal multimodal, para não dependermos apenas de um. Hoje, temos somente o rodoviário”, observa.
Rosa manteve contato, durante a manhã de ontem, com a assessoria do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni, e busca o apoio do político para possíveis intervenções “de maior vulto” no trecho. “Qualquer movimento assim depende da estrutura federal. Já fizemos a nossa parte de mobilizar as autoridades. Se precisar também de alguma mobilização por parte do Exército, eles também estão preparados”, pontua.
Prazos afetados
O setor logístico é frequentemente cobrado em relação aos prazos nas entregas. Em muitos casos, não há compreensão, mesmo em situações excepcionais, e as multas são frequentes.
“Uma transportadora me ligou que está com quatro bitrens em Passo Fundo, carregado para ir a Estrela. Vai ir como? Quantos quilômetros a mais terá que fazer? E quem paga isso? O embarcador não paga, nem o governo. Pode render multa por não entregar no prazo combinado. Tem empresas que não querem nem saber”, afirma Gabardo.
Para Cíntia Agostini, a primeira análise indica, de fato, um impacto maior para o transporte de cargas. Porém, ela acredita que ele isso seja minimizado com a liberação da outra ponte.
“Teremos transtornos durante um tempo. Ainda não dá para medir se será um grande impacto em termos econômicos. É difícil falar em valores e percentuais. Se conseguirmos dispor logo de uma alternativa, que é a liberação da outra ponte, pode até gerar algum tipo de congestionamento. Mas o impacto será minimizado”, avalia.
O que diz a CCR Viasul
- A análise do setor de engenharia indica que os danos estruturais na ponte sobre o Arroio Boa Vista impossibilitam o trânsito no trecho onde o caminhão explodiu;
- A empresa, juntamente com uma terceirizada, realizou ensaios visuais, ensaios com corpos de prova e testes de carga da ponte no sentido interior/capital. Os resultados devem ser divulgados hoje e definirão sobre a eventual liberação do tráfego de veículos leves, em pista simples;
- Já o tráfego de veículos pesados deve ser liberado posteriormente às ações de reparos estruturais, incluindo o reforço de um dos pilares da estrutura no sentido interior/capital. A previsão é que isso ocorra em dez dias;
- Em relação à ponte onde ocorreu a explosão, os danos estruturais identificados apontam para a necessidade de obras de reconstrução. O prazo para a conclusão das ações é de até seis meses;
- A sinalização no local foi reforçada com painéis eletrônicos móveis de mensagens de forma a melhor orientar os usuários que utilizam o trajeto.
Município cobra apoio técnico da CCR para pontes
Na segunda-feira, 15, à tarde, o prefeito em exercício de Estrela, João Schäffer, e engenheiros da prefeitura se reuniram com a CCR ViaSul pedindo apoio técnico para avaliação das condições estruturais das duas pontes que estão sendo utilizadas por veículos nos desvios.
Schäffer demonstrou pessimismo quanto a uma possível ajuda da concessionária. “Solicitamos esse apoio e, aparentemente, não teremos sucesso no pedido, pois são obras de arte que não pertencem a eles. Então teremos que fazermos uma avaliação estrutural nós mesmos. Essas pontes eram utilizadas num volume baixo e agora esse uso foi multiplicado por 10, 20, ou até 100”, salienta.
Uma interdição das pontes não está descartada, embora Schäffer afirme que o município não quer fechá-las. “Queremos garantir que ela tenha segurança na passagem de um carro por vez. Estamos preocupados em saber em que condições elas estão e se podemos permitir o tráfego”, ressalta.
Pelo contrato de concessão, a CCR têm, entre suas obrigações, garantir desvios em situações como esta. Ontem, nos horários de pico, houve muita lentidão nas rotas alternativas e na própria BR-386, no trecho de Lajeado.