Você é traumatologista, mas desde fevereiro atua no atendimento de pessoas com coronavírus. Quais os motivos que levaram você a ajudar neste momento?
Me envolvi de forma espontânea nessa luta, pois, além de traumatologista e ortopedista, sou médico e vi a necessidade de auxiliar meus colegas clínicos que atuam na linha de frente com muito empenho e devido à alta demanda. Atualmente estamos com 31 pacientes internados, mas esse número já chegou a 46. Além de mim, os anestesistas, ginecologistas e cirurgia geral estão engajados. Recentemente tive dois familiares internados e percebi o quão importante é a visita médica, pois os enfermos estão isolados do mundo externo, de seus familiares por tempo indeterminado, afetando o psicológico deles.
Você deixou de atender pacientes que procuram por sua especialização ou concilia as duas coisas?
Continuo atendendo apenas no consultório privado, central de convênios e ambulatório SUS. As cirurgias eletivas foram suspensas por tempo indeterminado, mas as urgências traumatológicas continuam sendo realizadas conforme a demanda. Por esse motivo, tenho mais tempo livre, o qual auxilio a equipe clínica na luta da covid-19, apesar das minhas limitações técnicas.
Os hospitais gaúchos estão sobrecarregados devido ao crescimento do número de internações. Como você percebe o seu trabalho e de outros profissionais da saúde diante dessa realidade, em que pacientes estão na fila à espera de atendimento? Isso assusta vocês?
Percebo que os hospitais estão se reinventando e se adequando a essa nova realidade, mas cada vida perdida por falta de leitos é muito frustrante. Não possuímos UTI, mas o Ouro Branco, assim como outros hospitais de pequeno e médio porte, está fazendo de tudo para salvar vidas. Se a pandemia assusta? Na verdade, ela nos fortalece e nos une. Cada vida salva é comemorada, porém, os óbitos são elevados, 21 nesse ano, comparado com 10 em todo 2020. Cada perda dói tanto para as famílias, como para nós.
Qual a importância de valorizar ainda mais o trabalho dos profissionais da saúde neste momento?
É um dom e uma honra trabalhar na saúde, porém é igualmente nobre como qualquer outra profissão. Estamos numa batalha com um vírus ainda não dominado, por isso, humildemente, peço mais compreensão em relação aos profissionais de saúde, pois a demanda de doentes, no momento, é maior que a oferta de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e demais. Além disso, há um agravante, também adoecemos e necessitamos afastamento do trabalho, desfalcando as equipes.