Semana que vem faz um ano. Um ano que tivemos que fechar as portas, que pediram pra gente ficar em casa. Nestes últimos 12 meses, a sensação que eu tive foi de que o minuto não teve 60 segundos, que a hora não teve 60 minutos, que o dia não teve mais as 24 horas de antanho. E que a semana não teve os seus naturais 7 dias, assim como o mês voou abaixo de 30. Tudo passou muito rápido, muito mais rápido do que passava antes. A pandemia, debito a ela, diminuiu o tempo e a minha percepção dele. Na última terça feira eu li uma crônica do Luís Augusto Fischer com o mesmo título deste artigo, “Um ano”. Ele relata um causo, segundo o qual algum incauto pediu pro Eisntein explicar a teoria da relatividade. Como gênio que era, o “pai” da teoria teria respondido assim: “Imagina um minuto ao lado da pessoa amada; e agora imagina um minuto com a mão na chapa quente do fogão”.
Verídico ou não, confio no professor Fischer e penso que o que vale mesmo é a reflexão que o causo nos provoca. Aquela história de que estamos todos no mesmo barco não cola mais. Ouvi outro dia alguém dizer que sim, estamos todos juntos! Mas não é no mesmo barco: é na mesma tempestade. E cada um tem enfrentado essa tempestade sem fim com as forças que encontra, agarrando-se onde consegue se agarrar. Alguns não têm nada, outros têm uma daquelas boias de braço, uns poucos têm realmente um barco.
Voltando a teoria da relatividade, cruzando ela com a tempestade e com o que temos para enfrenta-la, fico imaginando a sensação de passar um minuto com a mão na chapa quente do fogão. Fico imaginando que foi essa a sensação da maioria das pessoas, para as quais o ano demorou absurdamente pra passar e a dor foi aumentando. Aquelas pessoas que perderam parentes, amigos, que perderam o emprego, a possibilidade do sustento. Fico lembrando dos discursos da meritocracia e do empreendedorismo: como se faz agora? Pra que lado a gente corre?
Se pra mim o ano voou, para muitos ele se arrastou, levando com ele vidas e sonhos. Ninguém, absolutamente ninguém, estava preparado pra suportar um ano inteiro, abrindo e fechando, começando e parando, na perspectiva de que em algum momento iria melhorar. Mas nada melhorou, só piorou.
Um ano não foi suficiente para que a racionalidade prevalecesse. Para que os líderes liderassem positivamente, para que se unissem em favor da vida. Um ano não foi suficiente para produzir consciência, empatia, atitude. Um ano de tantas perdas que não tem como contar.