Empresária do ramo da moda, Lizete Kronbauer começou a empreender na década de 1990, após trabalhar na área administrativa em diferentes empresas. Ao lado do marido Heinz Rockenbach, ela hoje administra o Grupo Estilo Atual, que incluiu as lojas Heilly, HR e Sempre Moda – todas voltadas para públicos distintos. O grupo também aposta nas marcas próprias Heilly, Zezz e Kronrock.
Na semana do dia internacional das mulheres, Lizete acredita que as empreendedoras podem alcançar tudo o que quiserem, na família e na vida profissional, desde que tenham organização. Para ela, as mulheres têm como vantagem a característica de realizar múltiplas tarefas ao mesmo tempo e explorar essa facilidade é um dos caminhos para o sucesso do empreendedorismo feminino.
– Quais as suas primeiras lembranças da infância?
Lizete Kronbauer –Lembro de ser criança feliz, inocente, criativa, vaidosa e super-protegida pelos pais. Dos encontros nos finais de semana na casa dos avós onde todos os primos se encontravam e tudo virava uma grande festa. São momentos e lembranças inesquecíveis. Tem coisas na vida queficam registradas na nossa memória como primeiro o primeiro professor, nossos colegas que viram amigos e a nossa primeira escola onde tudo começa. É lá que começa nossa preparação para ser uma cidadã ética e uma profissional competente no futuro. Quando nós temos uma base familiar e uma base educacional ótima, nos tornamos uma pessoa do bem. Tenho uma lembrança muito especial pela minha primeira professora, Lovani Labres e muita gratidão por odos os professores que já tive e ainda terei.
– Como a base familiar ajudou no seu desenvolvimento pessoal?
Lizete – Sou filha única e todo filho único pensa, por um período da vida, que é o centro de tudo e não precisa dividir nada com ninguém. Isso até descobrir que o mundo lá fora não é assim. Nesse sentido, aumenta a importância do que os pais ensinam, sobre o que é correto e que de nada adianta eu aprender e ter conhecimento se não compartilhar com alguém. Se eu conquistar algo, nunca vou conquistar sozinha, sempre vou depender de pessoas e as pessoas vão depender da gente. Esse é o ensinamento que levo dos meus pais, que sempre me passaram a importância do ser humano, de ser uma pessoa correta, persistente, criativa e em buscar aquilo que eu quero, os meus sonhos, sempre respeitando os outros, buscando ajuda e ajudando quando necessário. Essa base familiar fez eu me tornar a pessoa que sou hoje.
– Com começa a sua trajetória profissional?
Lizete – A minha carreira começou na área administrativa. Trabalhei em empresas maravilhosas das quais eu tenho muito orgulho e muita gratidão. Agradeço muito à Fachini Advogados, Costaneira e ao Genes Shopping, lugares onde aprendi muito. Em 1998, iniciei um novo ciclo na minha vida profissional e entrei para o mundo da moda. Já se passaram 23 anos que estou no mundo fashion, mas parece que foi ontem. A decisão de empreender trouxe muitos desafios que continuam até hoje.
– Quais foram os principais desafios do início do negócio?
Lizete – O nosso maior desafio era cumprir o propósito de tornar a HR uma empresa conhecida e reconhecida pela sua qualidade, credibilidade e dos seus produtos. A empresa foi fundada pelo meu marido, Heinz Rockenbach, no dia 3 de dezembro de 1991. No fim de 2021 completaremos 30 anos, então acredito que cumprimos com o objetivo. Na época, como era uma empresa que estava começando a se apresentar para o mercado. Haviam empresas maiores mas que já estavam perdendo força. Nessa dificuldade, nós vimos uma oportunidade. As vezes uma dificuldade traz oportunidades, basta olhar e enxergar. Nós fizemos isso.
– Quando o negócio começou a crescer e como foi a decisão de expandir?
Lizete – Com o nosso objetivo alcançado com a HR, que se tornou uma loja conhecida e reconhecida, os nossos negócios começaram a evoluir muito. Foi então que decidimos ampliar e abrir a segunda loja. No dia 10 de maio de 2000 nascia a Sempre Moda, uma loja totalmente diferente do que havia na cidade na região. Foi uma loja ousada, com estilo e produtos ousados. Foi um grande sucesso. A partir daí, os negócios foram acontecendo as, coisas evoluindo e nós resolvemos criar uma terceira, mais uma vez com estilo totalmente diferente. Decidimos por criar uma loja com produtos exclusivos: a loja Heilly, com a marca Heilly, em 2008.
– Qual a diferença de se trabalhar com marca própria?
Lizete – Quando você coloca a tua marca nos teus produtos, a responsabilidade dobra, porque somos responsáveis pela loja e pelo produto que a pessoa está levando. Depois de alguns anos decidimos ampliar em cama, mesa e banho que foi outro desafio. Dois anos atrás, com a rede já consolidada, investimos novamente em marcas próprias. Criamos duas marcas, a Zezz e a Kronrock. Mas por que criar uma marca própria? Porque as pessoas procuram algo muito diferente e quando eu crio o meu produto, levo para ele as coisas que sinto falta no mercado e coloco minha essência. As pessoas não querem simplesmente um produto, elas querem saber a procedência, quem participa desse produto, como ele é feito, qual a sua essência e isso vale tanto para calçado quanto para bolsas ou vestuário.
– Quais os desafios de gerir um grupo com três empresas distintas?
Lizete – O Grupo Estilo Atual engloba três lojas a HR, a Sempre Moda e a Heilly. Todas elas foram pensadas para um público-alvo específico. Exige muito trabalho e organização, mas é muito gratificando. A HR trabalha com calçados e acessórios, a Sempre Moda, calçados, acessórios e vestuário. A Heilly foi pensada planejada para ter produtos exclusivos. Todas nossas empresas tem a mesma essência, mas com propósitos e estilos diferentes. Uma empresa existe porque é feita de pessoas para elas, então esse é grande propósito e o grande desafio. Nossa proposta sempre ter lojas diferentes para públicos com estilos próprios e diferentes. Essa é nossa história de expansão e somos muito gratos principalmente aos nossos clientes e nossos colaboradores, que fazem a diferença na nossa vida e nas nossas empresas.
– Como o grupo trabalhou para vencer as épocas de crise e quais os ensinamentos para esse momento que vivemos com a pandemia?
Lizete – Nós estamos vivendo faz um ano de pandemia e de grande tristeza. Estamos perdendo muitas vidas e muitas pessoas estão ficando doentes de várias formas. Temos enfermidades físicas, emocionais e sociais. E ainda precisamos lutar para sair de mais uma crise econômica e manter a empresa no mercado, que é algo muito complexo. Nesses anos todos de empresa passamos por várias crises econômicas, mas enfrentar uma pandemia é algo muito maior. O primeiro impacto de uma crise é a falta do dinheiro circulando. A primeira lição para superar uma crise é a estruturação. A empresa precisa tem que ser saudável e ter uma reserva. Muitas vezes o empresário começa a ver um lucro, não reinveste na empresa, não faz uma reserva e no primeiro impacto negativo, ela não resiste. Felizmente nossa empresa é muito saudável, fazemos investimentos e sempre estudamos muito as ações a serem realizadas. Ter uma reserva vale também para nossa vida familiar, porque nunca sabemos como será o dia de amanhã. Desejo que essa crise passe logo, que a vacina chegue para todos, que possamos abrir nossos negócios e que tenhamos muita união, paciência e persistência.
– Estar no Vale do Taquari ajuda ou atrapalha quem quer empreender?
Lizete – A região tem muitos fatores que favorecem o empreendedorismo como a localização, a Universidade e o poder aquisitivo da população. Lajeado é uma cidade laboratório e o que dá certo aqui podemos levar para outras cidades e até outros estados. Isso porque os consumidores são exigentes e quando as pessoas são exigentes, eleva o nível das empresas. Por isso, a probabilidade de um negócio dar certo é muito grande. O Vale é maravilhoso para quem quer empreender.
– Como mulher empreendedora, é possível conciliar a vida pessoal e os negócios?
Lizete – Acho que não existe mais essa diferença e a mulher não tem mais dificuldade de empreender do que o homem. Hoje, todos nós podemos tudo. A mulher é multifuncional por natureza. Ela consegue cuidar de várias coisas ao mesmo tempo e isso ajuda no nosso desenvolvimento profissional. Esse é um ponto positivo, porque o homem costuma fazer uma coisa por vez. Isso é um ponto positivo para as mulheres. Quando entramos na parte de família, quando a mulher decide se tornar mãe, ela precisa estar preparada, precisa estar organizada tanto na empresa quanto na família. A grande diferença entre poder dizer eu sou mulher, mãe, esposa e empresária é a organização e isso vale para tudo.
– Qual o seu conselho para os jovens que ingressam no empreendedorismo, em especial para as mulheres?
Lizete – Um dos mais importantes é entender o verdadeiro significado da palavra empreender. Empreender é um exercício diário de aprendizado, humildade, persistência, de tentativas, erros, acertos, superação e vitórias. Para ser uma pessoa, ter uma empresa e comandar um time de sucesso, preciso entender esse significado. Outro conselho importante é fazer uma pesquisa no campo onde você pretende atuar, seja seu campo de formação profissional ou de interesse. É preciso saber o quanto tenho que investir para constituir essa empresa e em quanto tempo ela vai me dar retorno. E, claro, ter um recurso para segurar essa empresa enquanto ela não der resultado. Quando se faz isso, a probabilidade de sucesso é muito maior.