Uma mulher entre os homens da pesca

Dia da Mulher

Uma mulher entre os homens da pesca

Jussara Botelho vem de uma família de pescadoras e, ao lado da neta, passa os dia nas águas do Rio Taquari para exercer a profissão

Uma mulher entre os homens da pesca
(Foto: Bibiana Faleiro)
Vale do Taquari

Os bolinhos de chuva e uma térmica de café ficam dentro do barco. Assim, não é preciso tirar o caniço da água ou desembarcar para a hora do lanche. Esse é um momento em família que a pescadora Jussara Botelho, 58, vive desde criança. Em um ambiente predominantemente ocupado por homens, ela encontrou seu espaço nas águas do Rio Taquari e mostra que a mulher pode trabalhar onde quiser.

Ela nasceu no rio. Os pais eram pescadores e em uma travessia de Taquari para São Jerônimo feita com o barco da família, a mãe de Jussara que estava grávida de quase nove meses, deu à luz.

A taquariense vem de uma família de pescadores que iniciou com a avó e, ao lado do marido, João Fernando Ferrão, incentivou os filhos e netos que também criaram gosto pela atividade. A neta Maria Eduarda, 15, mora com os avós e auxilia Jussara no dia a dia pesqueiro. São as mulheres que vão para a água na maior parte do tempo.

A rotina de Jussara começa cedo. Perto das 5h ela já está no rio para retirar as redes que passaram a noite na água. Por muito tempo, a pescadora ia de bicicleta até a beira do rio. Hoje vai com a camionete antiga adaptada para levar o barco. Depois de serem roubados, ela e o marido construíram uma nova embarcação. Agora quer construir mais uma e ensinar os netos.

“Hoje em dia comprar um barco é fácil, quero ver construí-lo. Isso um dia ainda vou colocar na internet, do início ao fim. Uma mulher fazendo um barco, e essa mulher vai ser eu”, afirma.

No meio de trabalho, Jussara conta ser uma das poucas pescadoras da região. Quando ia ao rio pescar com a mãe, não tinham medo de estarem sozinhas. Mas hoje é diferente. “A gente encontra dificuldades, porque alguns pescadores não podem ver uma mulher sozinha que já vem abordar, vem com gracejos. Temos que estar preparadas para nos defendermos. Às vezes a gente tem que abandonar o que está fazendo e voltar pra casa”, lamenta. Mesmo assim, acredita que no meio da pesca hoje elas são mais valorizadas, já que possuem carteira registrada como pescadoras.

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