“Tem que ter coração para fazer a diferença”

Abre aspas

“Tem que ter coração para fazer a diferença”

Ingrid Venter Soares, 55, trabalha na Associação de Menores Arroio do Meio (Amam) desde 1991. Ano passado, ela foi demitida pelo menor número de crianças atendidas durante a pandemia. Um esforço da comunidade fez com que Ingrid voltasse à diretoria da entidade.

“Tem que ter coração para fazer a diferença”
Vale do Taquari

Quantas crianças a Amam atende?

São 80 crianças matriculadas, 72 famílias envolvidas e 80 universos diferentes. Agora, estamos com 16, que moram no abrigo. Demos um “stop” nas atividades do contra turno. A Amam foi criada para ser um turno inverso da escola. Quando eu cheguei, atendia crianças a partir de cinco anos. Depois, começou a ter creche e turno integral nas escolas. Aí foram crianças de 6 a 14, e teve um período, de 6 a 16 anos, porque nós tínhamos mais recursos estadual e federal. De repente, os recursos foram acabando. Todas as torneiras foram fechando. A partir de 95, até os primeiros anos dos 2000, mudou a maneira dos repasses.

Como vocês fazem para se manter?

A gente sempre teve uma parceria muito forte com a comunidade, com empresas. Não é a questão do dinheiro. Mas se eu sei que a Girando Sol vai me dar produto de limpeza, eu já não me preocupo com isso. A Bremil ajuda semanalmente com hortifrutigranjeiro. As pessoas estão despertando para ajudar pontualmente no que há necessidade. Já é uma garantia, né?

A gente tem muito ex-aluno que ajuda. Que lembram da infância e dizem “Prof, isso aqui é muito bom” e hoje são empresários em Arroio do Meio. Eles vem com a alegria das memórias que viveram aqui.

Como é a história que você foi demitida no ano passado?

Em outubro, a gente tinha se preparado para voltar. Só que voltou muito pouca criança. Foram quatro ou cinco pela manhã, e quatro ou cinco de tarde. As professoras todas foram demitidas. Eram cinco e ficou uma só. Uma professora e uma cozinheira. A faxineira também foi demitida. Uma ex-aluna minha, que trabalha no abrigo, mobilizou o bairro e fizeram uma chapa para eu ficar. Eu aceitei porque fiquei emocionada. Eu sempre trabalhei como o que eu gosto. Se tu consegue trabalhar com o que tu gosta e suprir o sustento da tua família. Claro, que não se fica rico trabalhando aqui, mas eu consegui criar meus filhos assim. Eu sempre fui muito feliz aqui.

Como você consegue o respeito dos jovens?

O respeito é uma rua que vem e volta. Uma vez tinha um menino muito problemático aqui. Aí a mãe dele disse “vou desancar ele a laço”. Se laço resolvesse a gente ajudava a bater, mas não resolve. Nós temos que falar a mesma linguagem. Você diz pouco não. Mas quando diz, sustenta. Se a informática é das 14h às 15h, mantém. “Mas eles estão tão legais, vamos deixar mais um tempo na informática”. Bom, então deixa eles saberem: “Em função de tá com tema pronto, tudo organizado, vou dar mais um tempo na informática”. Tem que comunicar para eles. A rebeldia é um ponto forte, principalmente, no abrigo. Tu nunca mente, não tem que agradar ninguém. Não adianta a gente adular, mas tem que ter coração para fazer a diferença.

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