Preço pago ao produtor cai mais de 4% em fevereiro

Produção leiteira

Preço pago ao produtor cai mais de 4% em fevereiro

Litro do leite in natura no mês passado ficou na média de R$ 1,37. Abaixo dos R$ 1,43 pago pelo produto em janeiro. Conselho visualiza dificuldades para o segmento e representantes buscam medidas para atenuar situação

Preço pago ao produtor cai mais de 4% em fevereiro
Preço de referência pago aos produtores está mais elevado do que na comparação com fevereiro de 2020. No entanto, custos de produção aumentaram mais de 40% devido a instabilidade no mercado de commodities. Créditos: Filipe Faleiro
Vale do Taquari

O Conselho Paritário Indústria\Produtores do RS (Conseleite) prevê mais quedas no valor de referência do litro de leite. A estimativa se confirma a partir dos números nestes dois primeiros meses de 2021.

Em fevereiro, o preço médio do produto in natura ficou em R$ 1,37. Uma redução de 4,4% frente ao praticado em janeiro, quando o agricultor gaúcho recebia cerca de R$ 1,43. Essa queda é motivo de preocupação.

O vice-presidente do Conseleite, Alexandre Guerra, alerta que as indústrias estão trabalhando com margens negativas. Os motivos são diversos, diz, como a retirada do auxílio emergencial, a suspensão da volta às aulas e uma elevação generalizada de custos, além da concorrência com os produtos importados.

“Estamos vivendo um cenário incerto. Nossa única certeza é o custo elevado.”Com a recente alta dos combustíveis, o dirigente teme por um efeito em cascata e forte impacto na inflação. O secretário do Conseleite, Tarcísio Minetto, prevê um cenário delicado para o futuro. “Os desafios são grandes principalmente com a alta do dólar e dos insumos”.

Na análise da Fetag, os agricultores são os maiores prejudicados por essa oscilação, pois os aumentos no custo de produção não são repassados para os produtos nos supermercados.

“O cenário atual é de preços mais baixos nas gôndolas, mas com prejuízos para o produtor, que está recebendo cada vez menos e pagando cada vez mais para produzir, praticamente inviabilizando a atividade leiteira no Estado”, se posiciona a federação por meio de nota.

Para a Fetag, é preciso ter um olhar diferenciado à cadeia leiteira gaúcha, pois a instabilidade no mercado internacional de commodities, em especial pelo valor do milho e do farelo de soja, traz dificuldades para o orçamento dos pecuaristas de leite e faz com que famílias tenham de abandonar a atividade.

Nos últimos seis meses, o valor a ração animal teve reajuste de 45% e os medicamentos para o trato do rebanho ficaram 40% mais caros. Nos dois primeiros meses de 2021, o preço do adubo foi reajustado em 20%. Todas essas altas, diminuem o lucro de famílias que dependem da atividade para sobreviver, diz a Fetag.

Na avaliação da entidade representante dos agricultores, em âmbito da gestão pública, é preciso desenvolver políticas públicas voltadas para a renda das famílias que trabalham com a produção de leite.

Indústrias estão com estoques em alta. Consumo de leite está baixo e preço ao consumidor também em queda. Créditos: Aquivo A Hora

Importação, consumo e custos de produção

O presidente da cooperativa Languiru, Dirceu Bayer, confirma que o momento não é bom para a cadeia leiteira. “O consumo está baixo neste período de verão. Essa sazonalidade é comum. Mas junto com isso, temos ainda o reflexo da instabilidade do mercado internacional e da entrada de leite em pó do exterior.”
No segundo semestre do ano passado houve uma alta de quase 63% nas importações de lácteos. Setembro foi o mês com mais compras do exterior, chegou a 80%, conforme informações da Secretaria Nacional de Comércio Exterior (Secex).

Como o RS enfrentou uma seca entre o fim de 2019 e início deste ano, muitos agricultores ainda estão com dívidas das safras passadas, em especial no cultivo do milho usado para alimentação do plantel de vacas.
No RS, 95% da produção de leite é proveniente da agricultura familiar. A produção diária supera 12 milhões de litro e a cadeia equivale a mais de 9% do PIB gaúcho.

“Na melhor das hipóteses, teremos uma melhora em abril”

Com o preço em queda nos supermercados, com mais custos ao produtor e o baixo consumo, a tendência, diz Bayer, é para um mês de março com nova queda no preço pago aos pecuaristas de leite. “As empresas estão com os estoques elevados. Na melhor das hipóteses, teremos uma melhora em abril”, acredita.

Essa ascensão depende da condição do estado frente à pandemia e do retorno das aulas, afirma Bayer. “Em março, vemos os preços caindo nas gôndolas. Esse excesso de oferta interfere sobre a rentabilidade da indústria e dos produtores. A situação só não é pior porque tivemos um período positivo no ano passado. Empresas e até produtores conseguiram se capitalizar, o que reduziu esse impacto”, destaca.

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