O ano era 2012. O Futebol Clube Santa Cruz enfrentava o Grêmio no Estádio Olímpico em partida válida pelo Campeonato Gaúcho. O Tricolor venceu o jogo por 4 a 1, com gols de Kléber Gladiador, Douglas Grolli e Naldo, duas vezes. Na arquibancada, apenas um torcedor da equipe visitante: Tiago Rech. Menos de dez anos depois, ele é o presidente responsável por reerguer o clube do coração, campeão da Copa FGF e às vésperas de disputar a sua primeira Copa do Brasil.
A história é digna de livro ou filme, e rodou o mundo. “Depois que fomos campeões eu fiquei uma semana participando de lives, entrevistas, conversando com gente do mundo inteiro. Saí em revistas da Turquia, em publicações da Bósnia, Inglaterra. É um reconhecimento não apenas a mim, mas ao Santa Cruz, que passou a ser conhecido no mundo todo”, aponta.
Acostumado a frequentar o Estádio dos Plátanos desde criança, Tiago diz que sempre teve o sentimento de ser mais que um torcedor. Não entendia porquê o Santa Cruz tinha apenas três meses de jogos na temporada. Queria que o clube avançasse, via potencial para disputas de Série D e Copa do Brasil.
Em 2014 deixou de lado a arquibancada e assumiu a cadeira de presidente, viu que a realidade era outra. “O clube tinha caído para a Divisão de Acesso depois de 15 anos na elite do estado, não sabia como buscar receitas. A situação estava muito difícil, então entendi a realidade de um clube do interior, onde você não faz gestão, você sobrevive.”
Mecanismo de solidariedade salvou o clube
A primeira passagem de Rech pela presidência durou pouco. Deixou o cargo em 2015 com o sentimento de que nunca mais iria voltar. Ficou três anos fora. Em 2018 o Santa Cruz caiu para a terceira divisão, não venceu nenhum jogo naquele ano, nem amistoso. Era o fundo do poço.
Após conversar com alguns conselheiros, a ideia de voltar à presidência surgiu. O clube corria o risco de fechar as portas, mas ele aceitou. Em 2019 montou um time barato, com atletas da cidade, garotos. O cenário começou a melhorar. No entanto, foi um pouco de sorte que mudou o panorama do clube. Por meio do mecanismo de solidariedade da Fifa, o clube ganhou dinheiro com a venda de dois ex-atletas: Tiago Volpi, goleiro negociado com o São Paulo, e Pedro Henrique, zagueiro que foi para a Turquia. “Entraram recursos e a gente começou a pagar dívidas, e eram muitas”, lembra. A conta foi zerada.
Título da Copa FGF
Com as contas em dia, a expectativa era alta para a temporada 2020. Então veio a pandemia e o consequente cancelamento da Terceirona. O que poderia ser ruim, se tornou positivo. O Santa Cruz chegou no fim do ano com dinheiro em caixa. Surgiu a chance de jogar a Copa FGF. “A gente resolveu arriscar, tinha recursos para fazer um time competitivo. Tinha muito jogador da Série A parado, conseguimos trazer atletas que dificilmente viriam para um time da terceira divisão”, comenta.
Com um bom time em mãos, veio o resultado. Depois de classificar em segundo lugar no grupo, precisou de duas disputas de pênalti para comemorar o primeiro título estadual de sua história. Eliminou Inter de Santa Maria nas semifinais antes de vencer o São José na final.
Expectativa para a Copa do Brasil
Com a taça na estante, o Santa Cruz se organiza para a temporada 2021. A grande meta para a temporada é subir para a Divisão de Acesso. Antes disso, porém, está o jogo mais importante da história do clube: a partida contra o Joinville pela Copa do Brasil, no dia 17 . Só por participar da competição o clube já embolsou R$ 500 mil. “Confio no trabalho da nossa equipe. Fizemos bons amistosos contra equipes do Gauchão. Podemos fazer frente ao Joinville e tentar passar de fase, seria algo gigante para o Santa Cruz.”