“O professor não pode pensar pelo aluno”

Abre aspas

“O professor não pode pensar pelo aluno”

Viviane Beatriz Sontag é professora de uma das disciplinas mais difíceis para os estudantes do país. Ensina Matemática na rede pública do Estado e também no município de Lajeado. No Ensino Médio, reconhece a aversão de boa parte dos alunos para o conteúdo. Na avaliação dela, criar nos jovens o desejo pelo conhecimento é um dos maiores desafios dos mestres

“O professor não pode pensar pelo aluno”
(Foto: Arquivo Pessoal)
Vale do Taquari

O que te levou a escolher ser professora?

Na nossa vida, sempre temos pessoas que nos inspiram. Pode ser um amigo, um colega de trabalho ou mesmo a dinâmica na escola. Eu tive ótimos professores de Matemática que despertaram esse desejo em mim.
Fiz o curso normal (magistério) e depois consegui uma bolsa de estudos para cursar licenciatura em Matemática na Unisc. Ser professora apareceu como uma possibilidade ainda na pré-adolescência. É aquele momento em que nos perguntamos: o que vou fazer no futuro? Qual será a minha profissão?
Aí parti para o viés daquilo que eu tinha mais afinidade. Com orientação dos meus professores escolhi seguir essa carreira, justo na Matemática, o que é um grande desafio.

Os exames sobre a qualidade da educação no país mostram que os estudantes têm duas grandes dificuldades. Na interpretação de textos e na Matemática. Qual o motivo disso?

Nós somos seres matemáticos. Vivemos sempre com a noção de tempo, com a necessidade do raciocínio. Para mim, essa dificuldade está atrelada aquilo “que não gosto de fazer”. Se eu não gosto, fazer isso não vai me dar prazer. Logo, sem dúvida, será difícil assimilar esse conteúdo.

Temos de pensar toda a estrutura curricular, desde as Séries Iniciais. É nos primeiros anos de escola que se estimula as habilidades. Se haver dificuldade no início, isso irá acompanhar o aluno ao longo dos anos.

Como é possível quebrar essa barreira? O que precisa acontecer para mostrar aos alunos a importância do conhecimento para a vida deles?

O professor não pode pensar pelo aluno. Podemos explicar, mostrar, dar exemplos. Mas é ele que precisa desenvolver o pensamento. Muitos estudantes avançam com dificuldades em operações básicas. Quando precisa avançar para outras áreas, de um raciocínio mais abstrato, ficam ainda mais perdidos e passam a dizer que não gostam de Matemática.

Vejo que há dificuldade em entender as frações, algo que começa a ser trabalhado pelo 4º, 5º ou 6º ano do Ensino Fundamental. Por vezes o professor não consegue resgatar esse gosto pelo raciocínio, pela lógica, pois o aluno cria um bloqueio.

Penso que o aluno precisa criar uma autonomia. Para isso, tanto a Matemática quanto a interpretação de textos são fundamentais. Se ele não consegue ler e assimilar aquilo que está lendo, não vai resolver os problemas matemáticos. São duas áreas do conhecimento fundamentais e que estão ligadas.

Mudar esse histórico é muito difícil. Às vezes um professor consegue transformar as experiências do aluno e motivá-lo a buscar o conhecimento. Mas é preciso de um envolvimento de todos. A família precisa participar desse processo e também, professores, diretores, orientadores, toda a comunidade escolar tem de trabalhar em conjunto para encontrar estratégias.

Qual o impacto da falta de presencialidade para o aprendizado dos alunos?

Há um prejuízo muito grande. Na rede municipal, iniciamos o ano letivo por aulas remotas. Eu não conheço os alunos pessoalmente. Nas primeiras semanas, tento fazer um contato virtual, para assim planejar as aulas.
Eu não sei quais as condições deles, se eles têm acesso à internet, quais as ferramentas que usam. Essa visão de autonomia se perde, pois não temos noção das dificuldades deles, onde eles precisam de mais acompanhamento.

Na Matemática, posso mandar um livro didático para a ele. Mas não é a linguagem que ele tem quando está com o professor em sala de aula. O aluno tem capacidade de estudar sozinho, de entender. Mas a palavra do professor, às vezes uma dica simples, facilita o aprendizado.

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