A situação é dramática. Por onde se olha, UTIs lotadas e hospitais a beira do colapso. É o mais puro e cristalino reflexo de um comportamento descontrolado e liberal dos últimos meses. Estou falando de todos nós. Uns mais, outros menos. Negação a isso tem nome: hipocrisia.
Enrijecer medidas era inadiável. Os números e o esgotamento dos profissionais da linha de frente das casas de saúde sustentam, sozinhos, a necessidade de mudarmos comportamentos. Chega de “quermesse”, clandestina e disfarçada. Jovens – considerados imunes até semana passada –, acordem. O vírus mudou e a vez de vocês também chegou, infelizmente. Aquele “faz de conta de se cuidar” pode ser fatal.
O interior deixou de ser zona livre. Boqueirão do Leão que o diga. A mesa do bolãozinho ou do carteado pode te levar à cama da UTI. Detalhe: com risco de não ter. Portanto, não é brincadeira.
Só há uma forma de barrar os contágios: parar de nos aglomerarmos. E dentro disso, cada um de nós tem uma grande parcela de responsabilidade. Vamos nessa?
Reunião para quê?
“Quero dizer aos prefeitos que vou ouvi-los, mas minha decisão já está tomada”. Assim, o governador Eduardo Leite abriu a reunião com os prefeitos – que representam na ponta os 497 municípios gaúchos – na última quinta-feira, quando anunciou o fim da cogestão e a aplicação das regras de bandeira preta em todo o estado.
Em outras palavras, o governador disse o seguinte: prefeitos, podem falar, mas a opinião de vocês não me interessa e eu já decidi o que será feito. Típico comportamento arbitrário e impositivo, que tira qualquer sentido e necessidade de uma reunião de duas horas. Se é para ser assim, que o governador não convoque encontro nenhum e anuncie as decisões sem rodeios.
Uma reunião que começa com o fim decidido não precisa existir, especialmente quando não há unanimidade.
Aliás, tem sido prática comum deste governo em momento de agravamento da pandemia: tomar as decisões sem considerar a opinião de centenas de prefeitos ou entidades representativas. Daí pergunto: em quem estoura o rojão na hora H?
Mente sã e a certeza de que vai passar
Precisamos evitar o pânico. O pior momento da pandemia nos exige, mais do que nunca, um alto grau de resiliência, de maturidade e de bom senso. Manter o equilíbrio emocional é o primeiro passo para atravessarmos a tempestade.
Se blindar do pandemônio que alguns propagam o tempo todo faz parte de um exercício permanente para evitar colapso mental, que tira nossa imunidade e nos deixa muito mais frágeis e vulneráveis. Empatia para cuidar, coragem para enfrentar e equilíbrio para seguir em frente.
Ao mesmo tempo em que nos sensibilizamos pelas circunstâncias e choramos por quem fica pelo caminho, precisamos nos manter firmes e fortes, cientes de que tudo vai passar. Vida que segue e cuidemo-nos uns dos outros com a responsabilidade que o momento exige.
Um ótimo fim de semana. E não esqueça de tomar sol e fazer atividade física.
Fechar o comércio é um erro
Déjà vu. Estamos de volta a abril e maio de 2020. Lá fechamos o comércio e suspendemos a indústria com a falsa ilusão de estarmos barrando a transmissão do vírus.
A gravidade do momento – vide acima – é inédita. Nem por isso, consigo ver na suspensão das atividades comerciais uma saída madura, adequada e, principalmente, eficaz. Fechar CNPJs significa liberar CPFs. E o problema das transmissões está no CNPJ ou no CPF?
Por mais que eu me esforce para tentar entender as razões que levaram ao fechamento do comércio e das escolas, eu esbarro no histórico recente e na realidade nua e crua do brasileiro.
#fiqueemcasa para quem tem salário garantido fim do mês, para quem pode contratar cuidador para seus filhos, para quem não precisa bater metas, é uma beleza. Agora, para quem vende o almoço para ter a janta, como fica? E quem precisa atingir metas para pagar os impostos no dia 10? E para quem está recém saindo do atoleiro que vem do ano passado?
Ou alguém viu o governador anunciar alguma medida neste sentido?
Você que me lê, neste momento, acredita mesmo que fechar comércio e escolas é uma saída? Reflita bem e tente analisar todos os lados.
Não é hora de apontar culpados, é verdade, mas uma coisa é certa e quase unânime: os contágios não se propagam no comércio e nem nas escolas. Mas então, por que fechar? Pela simbologia? Para interferir no hábito das pessoas? Me desculpe, mas isso é “conversa fiada”.