Sem folia, restam as memórias

Carnaval 2021

Sem folia, restam as memórias

Taquari e Estrela são municípios reconhecidos pela tradição carnavalesca. Sem desfiles em 2021, entusiastas relembram os tempos áureos da festa popular

Sem folia, restam as memórias
(Foto: Divulgação/Walter Rodrigues)
Vale do Taquari

As moças desfilavam em carros alegóricos singelos naquela época. A rivalidade era grande e a festa atingiu grandes proporções na região. Em 1928, as ruas de Taquari eram palco das marchinhas carnavalescas de dois principais grupos da época, o Alvi Negro, a trajes branco e preto, e as Margaridas, nas cores branco, amarelo e verde. Depois do primeiro desfile houve uma briga. “As gurias gritavam ‘é marga marga margarida’ e as outras ‘alvi alvi alvi negro’. Um bate-boca em pleno Carnaval”.

Esse era o início da tradição de Carnaval do município, e é essa a história que Flávia Terezinha Saraiva Dias, 89 anos, escutou dos pais quando criança. A taquariense participou dos primeiros blocos com o grupo Margaridas e passou a fazer parte do grupo carnavalesco Renascença aos 15 anos.

Aos 23, casou-se com um militar que não era muito interessado em Carnaval. “Eu sempre dizia que não podia casar com alguém que não gostava de Carnaval. Incentivei muito e ele aprendeu a gostar. Participamos muitos anos do bloco dos casados”, conta.

Naquela época, as costureiras mais renomadas da cidade eram responsáveis pelos figurinos. Cada ano uma rainha diferente desfilava. “Eram moças muito bonitas. Usavam aqueles vestidos longos, pomposos, nos carros alegóricos. Os desfiles eram singelos, mas muito bonitos”.

Com o passar do tempo surgiram as escolas de samba que ainda hoje são muito tradicionais no município. “Aí a mocidade não queria entrar no cordão, como a gente chamava os grupos. Não havia mais interesse. O cordão foi morrendo e as escolas de samba tomaram conta do Carnaval”, conta Flávia.

Dos cordões às escolas

Com o exemplo dos pais, a professora Janice dos Santos Dutra, 40 anos, participou de carnavais ainda criança e hoje incentiva as três filhas a participarem dos desfiles.

Ela faz parte da Escola de Samba Irmãos da Opa, e no Carnaval de 2019 desfilou como porta-bandeira do grupo. O ano foi marcante para ela, bem como o samba enredo que homenageou o cantor Eraci Rocha, figura querida de Taquari. A letra escrita pelo filho Guilherme Almeida diz: “a vida é pra frente, é a avenida da gente, passou não tem como voltar”.

Tendo desfilado em diferentes funções com a escola, ela lembra de um ano em que, durante o desfile, entrou debaixo do carro alegórico para cortar o tecido enrolando na roda. “São muitas histórias. Mas quando você está na avenida, não lembra do que dói, que está cansada, não lembra de nada”.

Antes da pandemia, a sexta-feira anterior aos desfiles era marcada pelo evento “Recordar é Viver”, característico por lembrar das bandinhas que embalaram a escola desde o início.

Cartão postal da cidade

“A nossa cidade tem um dos melhores carnavais do Vale, já tendo, inclusive, sido premiado por suas magníficas fantasias”, lembra o escritor e historiador João Paulo Fontoura.

Ele conta que os antigos Carnavais eram marcados pelos blocos, salões, cordões e pelas rainhas e hoje as duas principais escolas de samba do município são Irmãos da Opa, fundada em 1957, e a Batutas da Orgia, fundada em 1964.

Integrante da Batutas da Orgia faz mais de 20 anos, Leo Castro lembra que quando entrou no grupo o tema era circo e ele logo se interessou pelas alegorias, tendo ajudado a criar muitas fantasias bonitas para os desfiles.

Na época, a escola não tinha rainhas, mas sempre muitos integrantes se destacavam, como é o caso da esposa e da filha. Isso incentivou Leo a se dedicar ainda mais à escola.

Hoje ele sente que o Carnaval perdeu força no município. “Eu sempre disse que vou fazer desfile até que a Rua Sete de Setembro esteja lotada, porque naquela época, mesmo com qualquer dificuldade que tínhamos, chegava na hora do Carnaval e a rua lotava. Hoje não é mais assim”. Este ano, com a pandemia, não haverá desfile e a “passarela do samba” não terá festas, assim como já foi em 2020.

Em Estrela

Estrela também é conhecida por seus carnavais. Segundo o historiador João Mallmann, um dos mais antigos blocos burlescos do município foi o Grupo Mephistófeles, fundado em 24 de fevereiro de 1924.

O historiador conta que na época, famílias, amigos e simpatizantes da data se fantasiavam e enfeitavam seus carros para comemorar pelas ruas da cidade. Hoje, um dos grupos mais tradicionais de Estrela é a Escola Renascer do Samba.

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