“Não podemos colocar o suicídio como tabu”

Atenção aos sinais

“Não podemos colocar o suicídio como tabu”

Psicóloga Pâmela de Freitas Machado alerta para riscos da depressão. Entrevista foi feita após morte de padre em Boqueirão do Leão

“Não podemos colocar o suicídio como tabu”
(Foto: Divulgação/Pixabay)
Vale do Taquari

A morte trágica do padre Paulo Mayer, 54 anos, no interior de Boqueirão do Leão, ainda no domingo, 14, atenta para uma preocupação com a depressão e suas consequências, dentre elas, o suicídio.

A principal suspeita é que o pároco tenha tirado a própria vida. A professora da Universidade do Vale do Taquari (Univates) e doutora em Psicologia em ênfase em saúde mental, Pâmela de Freitas Machado, explica e chama atenção para os sinais que a doença pode ocasionar.

• Todos os indícios apontam ao suicídio do pároco Paulo Mayer. Como explicar o fato de até um padre sucumbir à depressão?

A depressão é colocada pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença que acomete boa parte da população. É um dos grandes desafios elencados pela OMS nos últimos anos.

• Na carta supostamente escrita por Mayer, ele alega que “não conseguia mais ver as pessoas sofrerem sem poder fazer nada”. Qual a melhor forma de lidar com esse sofrimento alheio?

De modo geral a gente percebe hoje na sociedade a dificuldade cada vez maior das pessoas lidarem com as frustrações. Como vivemos em uma sociedade onde a regra é ter prazer e evitar o sofrimento, internamente desenvolvemos poucos recursos para lidar com as decepções. Se em outros momentos se tinha um preconceito quanto aos tratamentos psicológicos, hoje a gente sabe que cada vez as pessoas estão buscando a psicologia para poder se conhecer, saber quais as dificuldades e desenvolver recursos internos para lidar com essas situações de sofrimento.

• Pessoas próximas ao padre afirmam que não havia sinais que apontassem para o interesse em se suicidar. Isso é comum acontecer?

Muitas vezes a pessoa que irá cometer suicídio pode não dar sinais óbvios disso. Então é importante que a família ou amigos não se culpem, porque pode ser algo mais silencioso. Se há percepção que a pessoa está em risco, é importante ter alguém para acompanhar a pessoa e não deixá-la sozinha. Uma pessoa até pode cometer um suicídio por impulso, mas isso é muito menos frequente do que a pessoa que planeja o suicídio.

Outra coisa é não diminuir nenhum sinal de que a pessoa dê que deseja ou já pensou em se matar. Ninguém faz isso para chamar atenção. Se vem na cabeça, é porque há algo ali.

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• Como podemos identificar quando alguém está depressivo e pode atentar contra a própria vida?

Não há uma regra ou sinais claros. Mas algumas coisas são importantes como os planos para o futuro. Uma pessoa em depressão tem dificuldade de se ver em uma situação futura, mesmo que seja de curto prazo.

Também não podemos colocar o suicídio como tabu. Temos que perguntar se a pessoa já pensou em se matar, já pensou em como fazer isso. É um profissional de saúde mental é o mais preparado para fazer esse trabalho.

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