O diálogo e a persistência parecem ter rendido bons resultados para o Vale do Taquari. Às vésperas de iniciar a obra de duplicação da BR-386, comitiva regional conseguiu adequações singelas mas importantes para a comunidade regional.
Pela sinalização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), uma parte da quinta etapa da obra, que iniciaria em 2026, será antecipada de modo que as intervenções previstas na primeira fase, que já começa na próxima semana, não prejudiquem a mobilidade local.
Trata-se de uma adequação relevante, especialmente para o fluxo entre Travesseiro e Marques de Souza, cujas autoridades estavam preocupadas com a extinção da rótula que facilita o trânsito entre as duas cidades, que possuem um vínculo significativo.
Pelo que prometeram os representantes do órgão federal em Brasília, a primeira etapa da obra, portanto, vai incluir a construção de uma nova ponte onde terminaria a duplicação, sobre o Camping do Stackão, e também um novo retorno de nível, para encurtar o deslocamento no perímetro urbano.
Outras adequações ainda são solicitadas no que diz respeito aos viadutos projetados. O município ainda não obteve respostas quanto a esses pleitos, mas como a obra inicia no sentido de Marques a Lajeado, ainda haveria tempo para o avanço das tratativas.
Embora persistam as queixas pontuais acerca do projeto, é preciso reconhecer a relevância do investimento e de como as condições logísticas da região e do estado serão elevadas a um novo patamar. Além de propiciar melhores circunstâncias para o desenvolvimento, a duplicação também promete salvar vidas, ao reduzir os riscos de acidentes de trânsito.
No passado, a parte hoje já duplicada da BR também contou com impasses, judicializações e reclamações pontuais de parte da sociedade e de organizações. Diante de um empreendimento desta envergadura, é natural que isso aconteça. Contudo, com o resultado da obra, resta claro que se trata de uma transformação estratégica e de valor imensurável para o Rio Grande do Sul.
Quando surgiu a ideia de fazer os almoços?
Eu tinha um filho dependente químico que foi morar nas ruas. Eu saía para procurar ele depois do serviço para levar comida e daí tinha sempre outros também. O que sobrava no restaurante meu patrão deixava eu trazer e eu doava para eles. Às vezes eu comprava. E assim começou. Quanto mais eu fazia, mais gente aparecia. Nunca mais parei. Também comecei a levar roupas, porque no inverno é crítica a situação. A gente está cada vez tendo que levar mais coisas e nunca acaba.
Quem recebe a comida?
Além deles a gente doa para a vila. Bem no fundo do nosso bairro tem um monte de pessoas que são invisíveis para a sociedade, as pessoas não veem eles. Moram na rua, são dependentes, ou são avós que cuidam dos netos. São cerca de 60 pessoas cada vez. Pra ter uma ideia, eu faço 10 kg de arroz e ainda falta.
BIBIANA FALEIRO
Você recebe alguma ajuda?
A maioria vem dos clientes do restaurante onde trabalho, na Avenida dos Quinze, ali na frente dos correios. Eles doam dinheiro. Daí um dá R$ 100, R$ 50, sempre ajudam. E como eu trabalho lá já faz 12 anos, eles me conhecem. O açougueiro leva a carne no restaurante e sempre doa uma parte pra mim. Outras coisas eu compro. Toda doação é bem-vinda. Daí faço molho com batata e carne, arroz, galinhada, carreteiro, massa, às vezes faço feijão com um monte de carne, pão e salada. A igreja que participo, Assembleia de Deus, também começou a ajudar e o pastor às vezes faz um culto lá.
Qual é a reação deles quando recebem a doação?
Quando eu não vou, eles perguntam: “e a tia da comida? A minha camionete eles conhecem de longe, se eu parei, eles já vem vindo com pratos e potes. Comprei um terreno agora, bem lá no fundo onde ficam os esquecidos. Estou arrumando doações para
construir. Se alguém quiser ajudar vamos fazer uma cozinha e um banheiro, colocar piso e telhado. Vamos deixar roupas e calçados pra eles virem tomar banho, se alimentar. Esse espaço é para as pessoas, para as crianças. Vamos tentar arrecadar fraldas, leite, que são coisas que eles pedem. E nos domingos vou pra lá cozinhar. Quero conseguir sacolinhas de comidas pra eles terem na semana.
Qual é o seu sentimento depois de fazer a ação?
Paz. Eu durmo com meu coração descansado porque fiz meu melhor. Se um dia Deus me abençoar financeiramente e eu tiver dinheiro, eu digo que se eu ficasse rica eu ia ficar pobre de novo. Eu ia construir um local que as pessoas pudessem dormir, tomar banho, comer. Isso é o meu sonho, e é muito bom pro meu coração, faz muito bem. Fico muito triste de ver as crianças sem nada, de ver as avós sem nada. E quando a gente dá um alimento eles dizem “obrigado, tia”. Esse ‘obrigado’ é melhor do que qualquer dinheiro.