Quando você começou a trabalhar como motorista?
Eu comecei trabalhando, por três anos, na limpeza da empresa ViaSul. Daí como motorista por mais nove anos. Depois mais quatro anos na Ereno e, agora, na Expresso Azul, comecei no ano passado, mas pretendo ficar até o fim da carreira. Vou completar 15 anos como motorista.
Você era faxineira e se interessou por dirigir. Como foi?
Eu trabalhava na limpeza e o meu chefe começou a pedir para eu manobrar os ônibus. Colocar eles na rampa para limpeza e para mecânica. Eu acho que estava há cinco meses na empresa. Comecei a praticar dentro do pátio e tirei a carteira. No começo, eu trabalhava de motorista e na limpeza. Depois, fiquei só como motorista.
Você já dirigia antes?
Só carro. Eu já tinha carteira de carro. Mas a escolha foi por influência do pai. Meu pai era motorista da prefeitura de Venâncio. Ele dirigia caminhão. Agora ele tem 72 anos e está aposentado. Mas na época, ele era motorista lá e ele que me incentivou bastante porque ele adorava dirigir. Eu fazia faculdade de Educação Física na Unisc, deixei de lado para virar motorista.
Você foi a primeira mulher motorista de ônibus em Lajeado?
Eu tenho uma colega aqui na Expresso Azul, a Maristane, ela era cobradora e, agora, é motorista, mas ela começou agora, está há um meio ano aqui. Eu tenho mais tempo de estrada. Eu acho que eu fui a primeira porque quando eu vim pra cá, eu não lembro de ninguém. Depois teve. Mas quando eu cheguei não teve ninguém.
Os passageiros te tratam bem?
Sim. Eu não tenho do que me queixar. Eu não sei se é por eu ser mulher, mas eu não posso me queixar dos meus passageiros. O dia da gente é bem melhor. Nem todo mundo tem aquele bom humor, mas começa da gente, saber tratar bem as pessoas. Se a gente trata bem as pessoas, nós somos tratados bem. É muito gratificante.
Há preconceito contra mulher motorista de ônibus?
Não dá para dizer que não tem. Mas eles não falam. As mulheres se admiram muito. Hoje ainda eu recebi elogio e acho que escuto todos os dias porque ainda se espantam. Tem gente que ainda não viu. Hoje, não tem muito preconceito, mas no início sim. Eu ouvia piadinha, o tempo todo ‘mulher no volante, perigo constante’. Agora, eu não escuto mais nada, só elogio. Principalmente das mulheres, os homens ficam mais retraídos. Se eles falarem alguma coisa pode parecer outra, tem gente que confunde, né?
Se homens te elogiam vai parecer uma cantada?
Não dos meus olhos, mas do público. Existe isso ainda. Se um homem elogia uma mulher que não conhece parece que tá dando uma cantada, alguma coisa assim. Mas todo mundo respeita. Eu não recebo cantada no trabalho porque não faz sentido receber cantada na frente de todo mundo e o pessoal respeita o trabalho. Eu to trabalhando, as pessoas normalmente tão indo trabalhar. Elogio acontece, mas cantada não. Os homens elogiam também mas é mais raro. Hoje uma mulher entrou e disse “parabéns, queria ter essa coragem”. Eu não vejo como coragem, é uma questão de amar o que tu faz.