Estudo apresenta baixo índice de demissões após a licença-maternidade em Lajeado

Da Univates

Estudo apresenta baixo índice de demissões após a licença-maternidade em Lajeado

Pesquisa apontou que 80% das mulheres retorna ao trabalho, enquanto índice nacional é de 50%

Estudo apresenta baixo índice de demissões após a licença-maternidade em Lajeado
Pesquisa apontou que 80% das mulheres retorna ao trabalho, enquanto índice nacional é de 50% (Foto: Divulgação)
Lajeado

A relação das mulheres com o mercado de trabalho, historicamente, é marcada por lutas em prol de direitos e autonomia pessoal e profissional, visando à igualdade nas oportunidades. Dentre as garantias asseguradas em virtude disso, uma das conquistas mais importantes foi o direito à licença-maternidade, que garante que a mulher possa ausentar-se temporariamente do emprego após o nascimento do filho, sem prejuízos no trabalho e na remuneração. Contudo, uma pesquisa realizada em 2019 na Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontou que metade das mulheres que têm filhos no Brasil perdem o emprego até dois anos depois da licença-maternidade.

Neste contexto, a estudante do curso de Administração da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Andréia Fernanda Ferrari buscou, em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), identificar o cenário das mulheres que saíram do período de licença-maternidade em Lajeado. “O interesse pelo assunto surgiu por meio do meu ambiente profissional, em que eu visualizava que algumas mulheres abdicavam de suas carreiras após se tornarem mães. Isso me instigou a pesquisar a respeito e, apesar de encontrar diversos artigos relacionados ao tema, não encontrei algo específico associado a nossa região, o que me levou a querer saber como é a relação das mulheres lajeadenses com o mercado de trabalho após a licença-maternidade”, conta.

Intitulado “Mulher e mercado de trabalho: experiências após a licença-maternidade”, o trabalho buscou analisar as experiências e percepções de cinco mulheres após o período de licença-maternidade. Por meio de uma pesquisa qualitativa, com entrevista semiestruturada, Andreia elaborou um roteiro de perguntas que abordou as relações laborais com o intuito de identificar experiências vivenciadas após a licença-maternidade  e investigar os fatores que dificultam o retorno da mulher ao mercado de trabalho após o período.

Como resultados, a estudante identificou que, das cinco entrevistadas, quatro (80%) permaneceram trabalhando após o retorno da licença-maternidade e uma (20%) foi desligada do emprego. Este dado vai ao desencontro da pesquisa realizada pela FGV, que apontou que metade das mulheres perderam o emprego até doze meses após o parto. “Vale salientar que as cinco participantes da pesquisa afirmaram ter planejado a gestação e, após o nascimento de seus filhos, tiveram 120 dias de licença-maternidade, evidenciando que foram asseguradas pela licença-maternidade”, destaca a estudante.

Além disso, Andreia ainda abordou os fatores que dificultam o retorno ao mercado de trabalho e, dentre as respostas, destaca-se a preocupação no cuidado dos filhos, especialmente por não terem com quem deixá-los durante a jornada de trabalho. “Embora a mulher tenha conquistado sua inserção no mercado de trabalho, sobressaindo-se como mãe e profissional, algumas atribuições estão fortemente atreladas a ela, como cuidar dos filhos e dos afazeres domésticos. Essas são funções que ao longo dos anos não foram desmistificadas, sendo ainda peculiares às mulheres. Diante disso, é possível compreender as narrativas das entrevistadas quanto à sobrecarga de trabalho”, finaliza a estudante.

De acordo com a orientadora do trabalho, professora Bernardete Bregolin Cerutti, as narrativas das mulheres participantes da pesquisa revelam pelo menos três pontos muito importantes. “O primeiro refere-se ao sentimento de medo de serem substituídas quando retornassem ao trabalho; o segundo ponto já citado é o de sobrecarga de trabalho para conciliar a atividade profissional, o cuidado do filho e os afazeres domésticos, evidenciando o quanto esses dois últimos ainda são vistos como responsabilidade das mulheres; e o terceiro ponto, é a falta de vagas em escolas de educação infantil da rede municipal para que as mães possam retornar ao trabalho asseguradas de que seus filhos estão bem assistidos”, elenca.

Bernardete acredita que os resultados, obtidos a partir das experiências e percepções de mulheres após a licença-maternidade, são relevantes contribuições para um olhar crítico, sobretudo nos comportamentos de gênero e na promoção de melhorias no acesso aos espaços públicos municipais.

Acompanhe
nossas
redes sociais