Quando o presidente Jair Bolsonaro declarou que o “Brasil está quebrado”, muitos não entenderam, enquanto outros condenaram a declaração infeliz do primeiro mandatário do país. De fato é algo que um presidente da República não tenha de dizer à sua nação, pois esta espera soluções e ações concretas por parte de seu gestor.
Opiniões aparte, vamos aos números apresentados nesta semana pelo Planalto: o déficit público do país alcançou R$ 742 bilhões em 2020. Um dos maiores rombos monetários já produzidos na história recente da nação.
Na contramão, a maioria das prefeituras anuncia superávit em seu caixa municipal. Lajeado, por exemplo, fechou o ano passado com R$ 48 milhões de superávit, um dos maiores na história.
Se, de um lado o país “quebrou” ao socorrer a população, as empresas e os entes públicos estaduais e federais, do outro, se percebe folga de caixa para fazer frente às mazelas que devem crescer em 2021, especialmente, com o fim dos auxílios emergenciais e demais programas de incentivo do governo federal.
Na grande mídia ouvimos e vimos muita crítica ao governo central. Domina a narrativa de uma gestão “incompetente, corrupta, insensível e descontrolada”. Raros os grandes players da comunicação nacional que se escapam desta retórica seletiva para desfazer a figura do presidente e de seu governo.
Ao cidadão, que assiste tamanhas incoerências, resta uma compreensão bastante desconfortável, diria até limitada, uma vez que as redes sociais também se tornaram vetores de desinformação e mentiras, contra e a favor do governo.
A imprensa profissional, que deveria servir de esteio da democracia e da transparência, começa a ser desacreditada. Ora pelos seus ranços, ideologismos ou interesses econômicos, noutra pela campanha orquestrada que é empreendida para desacreditá-la. Aliás, abre-se uma grande reflexão sobre o atual modelo jornalístico.
Restam os pequenos veículos, os regionais. O problema é a extensão das fontes destes, uma vez que a maioria dos pequenos jornais, revistas, rádios ou sites sempre se abasteceram dos grandes jornalões, canais de TV ou rádio nacionais.
Com a era da internet, esta necessidade ou dependência diminui. Eles se tornaram mais autônomos, têm mais fácil acesso às fontes oficiais. Ainda assim, muitas redações viraram aglomerados de “estagiários”, grande parte despreparada para o ofício jornalístico contextualizado ou de análise. Logo, também há desafios e lacunas herculanas para entregar uma informação crível e analítica aos leitores, ouvintes e internautas.
Aqui no Grupo A Hora a discussão tem sido exaustiva sob esta ótica. No Vale do Taquari, onde Bolsonaro venceu com mais de 70% dos votos, a esquerda passou a ser hostilizada, como se fosse o grande mal de todos os tempos. Logo, fazer jornalismo em meio a este sentimento seletivo é um desafio enorme.
Para quem prima por linha editorial isenta e plural, a pressão vem de todos os lados. E não dá para fraquejar. E, necessariamente, tal cenário não significa que os “governistas” façam o maior coro ou batam o tambor mais forte.
Há poucos dias, uma entrevista com o médico Alessandro Loyola causou furor nas redes sociais contra a Rádio A Hora, por ter concedido espaço ao médico bolsonarista. Até ameaça de denúncia ao Ministério Público fizeram.
Não é diferente quando dado espaço para o outro lado, ao mostrar a gravidade dos números negativos relacionados à covid. Tem gente que prefere negar a doença.
Ou seja, se a notícia agrada um lado, desagrada totalmente o outro. É um preconceito lamentável e burro, para dizer o mínimo.
Desde crianças fomos educados a cotejar as partes. Agora, em plena era tecnológica, com acesso a quase tudo e a quase todos, nos comportamos igual a analfabetos, sem discernimento, e o mais grave: não toleramos quem pensa diferente.
O propósito do texto de hoje é traçar uma reflexão sobre os paradoxos, sejam eles do campo político, social ou econômico. Afinal, vejamos: se o país produziu o maior déficit de sua história, por socorrer os demais entes da federação, iniciativa privada e população, não seria hora de nos fazer algumas perguntas?
O dinheiro foi aplicado em quais ações e projetos? Como ele surtiu o efeito esperado? Quem acessou os recursos – que atire a primeira pedra quem não se beneficiou? E mais: os superávit das prefeituras não deveria compensar parte do enfrentamento às mazelas sociais que a federação já não dá conta de atender?
São perguntas que merecem a nossa reflexão. Como diz o velho e sábio ditado popular: “nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno”.
À imprensa cabe mais sensatez e imparcialidade; aos prefeitos e governadores cabe fazerem a sua parte; ao governo federal, menos falácias e mais estratégia de unificação do país; e, a nós, cidadãos, cabe o mínimo de noção e desconfiança para entender que não há “mitos”’ e nem “bruxas”.
Estamos numa fase tumultuada, onde a emoção se impõe sobre a razão. Isso precisamos vencer!
Bom fim de semana a todos!