Falar de pandemia atualmente soa repetitivo. E chato. Mas com a encrenca às vésperas do primeiro aniversário, é inevitável olhar pra trás, pensar no caminho que percorremos até aqui e no que teremos que percorrer ainda em 2021. Várias organizações, locais e internacionais, estão se debruçando sobre o que parece ser um “mundo totalmente novo” e que precisa ser repensado. Se alguma verdade existe, é que muito se aprendeu, mas ainda pouco se sabe.
Dentre o que (re)aprendemos, a primazia da vida humana foi, na minha opinião, a premissa que uniu e dominou as ações globais. Além disso, houve a necessária imposição de restrições no fluxo de pessoas, com maior vigilância e menos liberdade, algo que seria impensado alguns anos atrás. Esses dois primeiros movimentos, propiciaram que se revelassem muitas nuances da modernidade. O “trabalho invisível” foi uma, mas somente para algumas categorias privilegiadas de profissionais e de trabalhadores. A partir daí que me obrigo a falar de algumas fragilidades.
A pandemia expôs fissuras sociais e econômicas até então menos aparentes. A fragilidade do sistema de saúde, comentada desde que me conheço por gente, ficou escancarada de vez. A necessidade de investimento público e o reforço do SUS, enquanto meio de enfrentamento da emergência global da saúde, se tornou uma quase unanimidade. Já a fragilidade dos sistemas de produção e do emprego formal, principalmente nas indústrias e no comércio tradicional, foi uma das fissuras mais surpreendentes. A emergência da pandemia pôs em cheque os meios de produção e de distribuição de bens e de serviços. Ninguém, nem mesmo o maior craque em planejamento estratégico e em análise de risco teve a sapiência de incluir em seus manuais alguma alternativa de enfrentamento do inesperado. Quase tudo que se fez foi improvisando.
O ensino, em todos os seus níveis, foi afetado e a fragilidade do sistema se revelou. Nos ensinos médio e fundamental, escancarou-se o abismo que separa as condições de aprendizagem da rede pública e da rede privada. Nas universidades, as modalidades à distância tornaram-se dominantes. Basta olharmos para a nossa pujante Univates, nos dias de hoje. Em tempos de outrora, nada distantes, a instituição recebia um fluxo enorme de pessoas em seu campus, vindos de todas as cidades do Vale e além dele, num vai e vem pulsante. Lembro com orgulho e saudosismo dos tempos que lá lecionei, salas de aula e corredores cheios, a biblioteca, as áreas de convivência, restaurantes e cafeterias. Muitos dos espaços que foram preparados para receber gente, hoje estão ociosos, à espera do retorno.
A necessidade de reinventar modelos, para enfrentamento das velhas e das novas fragilidades é um consenso. Mas penso que há poucos indicativos concretos de que as coisas não voltarão a ser como antes, iguaizinhas aos nossos velhos e extravagantes modos de viver. Com seus bônus e seus ônus.