Apesar da pandemia, o país abriu 142,9 mil novas vagas de emprego, são 0,37% postos a mais do que no ano anterior. Já o Rio Grande do Sul fechou 20,2 mil vagas de trabalho, que representa queda de 0,8%, o segundo pior desempenho do país. O Vale do Taquari, vai na contramão do RS, com saldo de 150 novos empregos.
A característica econômica diversificada da região é um dos motivos pelo qual Matheus Augusto Silva, 21, natural de São Paulo, escolheu Lajeado para estabelecer residência. Apesar de puxar o Produto Interno Bruto (PIB) do país, a região Sudeste apresentou déficit no saldo de empregos em 2020 (-88,7 milpostos), enquanto a região Sul foi a que mais abriu vagas (+85,5 mil postos). Isso graças aos estados de Santa Catarina e do Paraná.
Por quase um ano Silva procurou emprego na construção civil, já que faz Técnico em Edificações na Univates. Nos primeiros meses da pandemia, as vagas no setor estavam escassa, o que fez ele procurar vagas em outros setores. “Devido a pandemia, algumas lugares que eu tinha me dedicado para trabalhar estavam fechando vagas, inclusive mandando gente embora”, lembra.
Até que em novembro de 2020, conseguiu trabalhar como vendedor em uma loja de eletrônicos e instrumentos musicais. “As pessoas com muito tempo de casa acabaram sendo demitidas e quando retomaram as vagas, consegui o emprego”.
A experiência de Caroline Aroldi, 22, é diferente. Em apenas um dia, conseguiu o trabalho formal. “Eu mandei currículo num dia e me chamaram no outro”. Ela procurou ocupação em 20 de outubro, quando a retomada da oferta de empregos na região estava consolidada após o recesso provocado pela pandemia.
Retomada
Entre os meses de março e julho, os mais críticos de pandemia, o emprego da região foi impactado. Em agosto, o primeiro mês de reação. Movimento que durou até novembro. O saldo de dezembro é negativo em 485 vagas, resultado das demissões das vagas temporárias, em especial no comércio.
O acumulado de 2020, porém, é positivo. Foram fechados 40,5 mil postos de trabalho. Em compensação, foram geradas 40,6 mil vagas. Saldo de 150 novos empregos.
Conforme o diretor da Câmara de Indústria e Comércio (CIC-VT), Ivandro Rosa, as medidas de contenção ao vírus, nos primeiros meses de pandemia, e a esperança para o fim da crise sanitária sinalizou a volta da economia. “A demissão inicial foi o quase lockdown, quase 30 dias com atividades fechadas. O pessoal gastou férias e teve que demitir muita gente. Muitos negócios acabaram encerrando. Agosto houve o anúncio da vacina até o fim do ano. Aumentou a esperança e a economia retomou”.
Rosa avalia que os municípios com economia mais diversificada tiveram mais facilidade para retomar os empregos.
“Teutônia não recuperou bem ainda porque a indústria do calçado perdeu muito. Uma empresa que fechou reduziu 400 vagas formais. Isso é muita coisa em uma cidade de 30 mil habitantes. Quase metade das carteiras assinadas na cidade são num setor”, avalia.
Já Lajeado, teve o comércio e serviço mantidos pela injeção do auxílio emergencial (cerca de R$ 350 milhões ao Vale do Taquari) e o resultado positivo puxado pela indústria de alimentos. Conforme Rosa, oito das dez empresas que mais arrecadam impostos para o município são do setor primário.
“A reação que a gente percebeu rápida em Lajeado foi BRF, Minuano, então a gente tem a impulsão da indústria de alimentos. As empresas tiveram que, inclusive, contratar para substituir o pessoal do grupo de risco”.
A concentração da pecuária de aves e suínos também contribui para o bom desempenho da região. “Nós produzimos aqui 24% dos frangos do RS e 18% dos suínos e representamos apenas 3% da população gaúcha”.
RS tem segundo pior desempenho do país
Em 2020, Rio Grande do Sul fechou 20,2 mil vínculos de emprego. O estado ficou teve o segundo pior desempenho do país, atrás apenas das 127,1 mil cortes no Rio de Janeiro.
Foram 972,2 mil contratações ante 992,4 mil demissões em território gaúcho. A pandemia e a estiagem do início do ano foram os aspectos que pesaram no balanço de empregos do estado. Apesar do período entre julho e novembro ter apresentado reação nas contratações, em dezembro, o saldo volta a ser negativo.
Três setores, porém, tiveram superávit no número de vínculos. A indústria gerou 4,3 mil postos, a construção civil 973 e agropecuária 637.
O comércio, no entanto, teve queda de 4,4 mil empregos. Conforme Ivandro da Rosa, as restrições severas na região metropolitana e polos do cone sul, como Pelotas e Rio Grande, pesaram nos dados estaduais.“O comércio de Porto Alegre foi muito ruim. A Zona Sul teve uma demissão muito expressiva. O estado como um todo teve um desempenho péssimo”, analisa.
Conforme o economista Eloni José Salvi, a falta de dinamismo na economia pesa para o desempenho insatisfatório do estado. Ele analisa que a perda da competitividade gaúcha, em relação a outros estados brasileiros, vem de anos anteriores.
“Nós temos um desempenho bom no agronegócio, mas no geral, temos perdido em relação a outros estados. A economia menos dinâmica recupera os empregos mais devagar. É isso que tem acontecido conosco. A dinâmica é um pouco diferente dos outros estados que puxam a economia brasileira como São Paulo, ou mesmo Santa Catarina”, avalia.
Além dos vizinhos catarinenses, o Paraná puxou o aumento de contratações da região Sul, amenizando, inclusive, o baixo desempenho gaúcho.
No Brasil
A retomada vertiginosa após uma queda expressiva, a chamada recuperação em “V”, pôde ser observada não só no Brasil mas em outras economias como a norte-americana e a chinesa.
Para Eloni Salvi, as estruturas estavam interrompidas mas preparadas para retomar os trabalhos, o que possibilitou um indicativo “promissor” pelo número dos empregos. “O saldo positivo do ano é animador, pois ultrapassamos 130 mil vagas, considerando todo 2020. Dada a conjuntura, até que foi um resultado bastante promissor”, analisa.
A previsão é que a economia brasileira ainda sofra nos primeiros meses do ano. Portugal e Espanha, importantes parceiros comerciais, estão prestes a entrar em mais um período de lockdown. Os voos Brasil-Portugal já foram cancelados. Após o mês de abril, o economista acredita que a consolidação da vacinação no mundo vá criar um clima “eufórico” de muito dinamismo no mercado.
“Eu acredito que, por pressão da sociedade, o governo deve acelerar o passo na vacinação e isso alivia o espírito negativo. Quando nós temos esperança, nos animamos a investir, produzir e consumir. Quando a gente faz a roda girar tudo melhora”, avalia Salvi.
Para ele, o Brasil teve um resultado mais favorável do que se imaginava. Os dados da Pesquisa Nacional de Amostra a Domicílio (Pnad), do IBGE, também foram divulgados ontem. O Brasil se manteve estável, com 14,1 milhões de desempregados.