Vulnerabilidade passou a ser palavra esquecida do dicionário. Parece uma ameaça à positividade que idealizamos para nós, reforçada nas redes sociais como saída para a felicidade plena. Entretanto, ela não é de todo ruim. Trago à tona tal conceito, porque, com humanos, nos são próprios sentimentos tanto bons, quanto maus, bem como todo o espectro diverso de sensações entre eles. Falar sobre vulnerabilidade significa perceber que o estado de fragilidade também nos compõe dentro de nossa subjetividade, despertos em momentos de crise, ansiedade, situações limite, com os quais, não raras vezes, nos deparamos em nossas vidas. Enfrentar nossas “aparentes” fraquezas nos auxilia no autoconhecimento de nossos aspectos sombrios e pouco explorados, possibilitando transformá-los em fortalezas internas e ferramentas de autogerenciamento emocional. Significa maturidade psíquica em perceber que o equilíbrio somente existe se apararmos as arestas que ainda teimam em serem pontos cegos dentro de nós.
Nossa cultura reverencia muito os aspectos vitoriosos das pessoas, o que de fato devemos celebrar e cultivar como realização na vida. Mas o que chamo a atenção é a dificuldade do contato íntimo próprio de cada um consigo e da profundidade de visão advinda disso. Lembremos a flor de lótus, representação simbólica da filosofia hindu, que surge das profundezas do pântano lodoso para desabrochar em oito pétalas de cores, ou seja, a sabedoria que advém do material caótico interno. Assim, ter vulnerabilidades e dificuldades é saber que são partes do processo de crescimento humano, nos ampliando a noção de humildade e de eternos aprendizes diante da grandiosidade da existência. É firmar a estrutura para podermos crescer plenamente em direção à luz que merecemos, por sermos seres pertencentes ao Universo, tal qual a raiz das plantas que lhes sustenta para delas florir.
Dessa forma, a vulnerabilidade não nos faz nem piores, tampouco melhores a nada, nem a ninguém. Ela consiste simplesmente em algo que ainda não foi transformado, um potencial adormecido e ainda não plenamente fortalecido dentro de nós. Talvez seja esse aspecto que nos ajude a sermos mais empáticos, tolerantes e compassivos diante das fraquezas dos outros, percebendo que todos somos falíveis e errantes na vida. E essa consciência nos aproxima como humanidade, burilando nossos sentimentos para vermos o melhor em cada um sempre.