“A vacina traz esperança. Mas temos de manter os pés no chão”

Abre aspas

“A vacina traz esperança. Mas temos de manter os pés no chão”

Doraci Maria Vinoscki, 50, atua faz 15 anos como técnica em enfermagem. Trabalhar no cuidado dos outros sempre fez parte do plano de vida dela. Natural de Guaporé, começou a fortalecer essa meta ainda criança. Hoje profissional do quadro do Hospital Estrela, conta os dramas vividos durante a pandemia e o alento às equipes de saúde com o início da vacinação contra a covid-19

“A vacina traz esperança. Mas temos de manter os pés no chão”
(Foto: Divulgação)
Lajeado

Por que escolheu trabalhar no ramo da saúde, com técnica em enfermagem?
Pela sensibilidade de querer ajudar as pessoas. Ainda criança, ouvia meus familiares falarem de alguém que precisou baixar hospital, que estava doente, e aquilo foi amadurecendo essa ideia de um dia, quando crescer, quero ajudar essas pessoas.

Antes de formada, quando tinha alguém próximo, que não tinha algum familiar para acompanhar para o médico, para algum exame, ou para fazer um raio-x, eu me dispunha a ir junto. Antes mesmo de começar o curso, me colocava a disposição.

Por conta disso, penso que foi me dando mais gosto e, sem dúvida, interferiu na minha escolha de ser técnica em enfermagem.

Nestes 15 anos como profissional da área da saúde, quais as vivências que mais te marcaram?
O meu exercício profissional começou no resgate, trabalhando como socorrista na extinta Univias. Durante cinco anos, trabalhei nas rodovias, atendendo vítimas de acidentes. Nestes anos, tive experiências muito complicadas. Ficou marcado em mim alguns acidentes, principalmente quando envolvia crianças. Isso me tocava mais.

Quando chegava no local da ocorrência, sabendo que eu estava preparada para aquele trabalho, mas era sempre um desafio. Nestas situações, tinha de ser profissional, mas não tinha como não se abalar.

O meu encerramento de carreira no resgate foi quando houve a colisão entre uma carreta e um ônibus, em Fazenda Vilanova, na BR-386. Foram 13 mortes no local. Esse foi um momento muito difícil e, sem dúvida, isso também atinge o nosso emocional.

E do outro lado, qual o sentimento quando consegue ajudar? Quando o profissional tem um papel de levar conforto e ajudar na recuperação de um paciente?
Tenho dois sentimentos nestes casos. O primeiro por ter feito a diferença naquele momento, de ter a capacidade, o profissionalismo de saber o que fazer. O outro é quando recebemos o carinho e o reconhecimento das pessoas. Quando algum paciente volta, para agradecer, para dar um mimo, para dizer o quando estão agradecidos, isso motiva muito. Eu já me satisfaço com a minha profissão, pois é o que amo e escolhi fazer. Agora, quando temos esse reconhecimento, é uma mostra de que estou no caminho certo.

E esta pandemia, como tem sido para os técnicos de enfermagem?
No geral, tem sido muito estressante, pois é uma situação dramática e diferente. As pessoas cansaram do distanciamento, do fique em casa, só saia quando necessário, e agora estão transitando mais. Como efeito, aumentam os casos de contaminação. Outro problema dessa pandemia é com relação a saúde mental. Muitos estão sofrendo de ansiedade, de síndrome do pânico e de depressão por essa situação nova. Mudou muito a nossa vida. Dentro da área hospitalar, o técnico em si, se sobrecarregou, pois em pouco tempo a demanda de atendimento cresceu muito.

Qual o sentimento dos profissionais com o início da vacinação?
É um momento de alento, pois já sabemos que estamos em um caminho que pode fazer a diferença. Que podemos daqui a alguns meses ter uma redução nas contaminações, nos casos graves e nas mortes. A vacina traz esperança, mas temos que manter os pés no chão. Ainda vai levar um tempo para vermos os efeitos dessa imunização. Até lá, precisamos seguir nos cuidando.

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