Causa animal domina pauta nas maiores câmaras do Vale

Legislativo

Causa animal domina pauta nas maiores câmaras do Vale

Região elegeu cinco vereadoras ligadas aos direitos dos animais. Em Lajeado e Estrela, o tema está presente em quase metade dos projetos apresentados pelos parlamentares

Causa animal domina pauta nas maiores câmaras do Vale
Ana da Apama (e) e Tiane Cagliari: em Lajeado e Estrela, representantes de entidades de proteção aos animais tiveram expressivas votações (Fotos: Divulgação)

Nas primeiras semanas da legislatura, os vereadores da maior câmara do Vale apresentaram cinco projetos de lei. Duas dessas propostas são ligadas aos direitos dos animais. Ambas foram apresentadas pela vereadora mais votada de Lajeado, Ana Rita Azambuja (MDB), que trazia na urna o nome da ONG Amando e Protegendo Muito os Animais (Apama).

O projeto de lei de número 01 institui o censo municipal de animais, visando o controle populacional. Outra proposta proíbe os fogos de artifício de alto impacto sonoro. Os projetos tramitam na câmara.

“Para algumas pessoas, pode parecer besteira a causa animal. Mas essas pessoas que votaram em mim querem esses projetos e querem essas mudanças”, afirma Ana.

A defesa dos direitos dos animais é uma pauta crescente na política. No estado, há casos de deputados que foram eleitos tendo os pets como principal bandeira, como Regina Becker (PTB), em 2014, e Rodrigo Maroni (Pode), em 2018.

Nas eleições de 2020, o fenômeno chegou com força ao Vale do Taquari. Foram eleitas vereadoras ligadas aos direitos dos animais em pelo menos cinco cidades da região: Lajeado, Estrela, Teutônia, Cruzeiro do Sul e Fazenda Vilanova.

Elas querem trabalhar de forma integrada para construir soluções entre os municípios. Quando perguntadas se não é desproporcional a atenção dada aos animais nos Legislativos, respondem de forma semelhante: há diversos vereadores nas câmaras e cada um pode propor o debate sobre os temas que avaliar pertinentes.

“Membros das famílias”

Ana Rita defende a importância da causa. “Os animais hoje em dia fazem parte das famílias, são membros das famílias. E dentro da causa animal, a gente fala também em saúde pública. Já ocorreu de crianças pegarem sarna e outras zoonoses.”

Ana afirma que os fogos de artifício barulhentos trazem prejuízo também aos humanos, principalmente os autistas, e que trabalha na formulação de projetos voltados a outras áreas, como o Meio Ambiente.

Semana da doação

Em Estrela, a pauta dos direitos dos animais também se faz presente. Única mulher entre os 13 vereadores, Tiane Cagliari (PV) é fundadora da Associação Estrelense de Proteção Animal (Aepa).

Seu primeiro projeto propõe a criação da Semana de Adoção, Proteção e Bem-Estar dos animais A matéria está em tramitação. Para Tiane, a ascensão de candidatos ligados aos animais abre espaço a uma pauta que antes esquecida na região.

“É um tema que vem crescendo anualmente graças a Deus. Sou voluntária da ONG há 16 anos e o espaço para que a gente expusesse nossas ideias era mínimo. Na câmara, tenho mais espaço para pôr em prática ações que até hoje não consegui”, afirma.

Projetos protocolados

Hoje (14h às 22h)

Lajeado
Criação do Censo Municipal de Animais
Proibição de fogos de artifício de alto impacto sonoro

Estrela
Criação da Semana de Adoção, Proteção e Bem-Estar dos Animais no Município de Estrela.

“O legislador tem que pensar antes de tudo nas pessoas”

• Para o cientista político Fredi Camargo, as pautas animais são importantes para a sociedade, mas há que se ter uma dosagem adequada, pois a prioridade do poder público é o ser humano.

• Qual a origem desse fenômeno?
Isso tem uma questão psicanalítica também. O pessoal está adotando animais, exatamente pelo movimento de baixa natalidade e pela questão do próprio comportamento mercadológico das famílias hoje em dia. Não tem mais a figura do pai provedor e da mãe dona de casa, cuidando da prole. Hoje tem a necessidade de os dois estarem no mercado de trabalho e quererem compensar afetivamente com algum ser vivo e um filho é mais difícil, pois envolve por exemplo questões financeiras e de tempo.

• Há uma priorização dos animais em relação aos humanos?
Esse vínculo afetivo que se criou em relação aos humanos carentes e esses animais pode ser sim comparado quase ao vínculo afetivo de um humano com outro humano. Esse humano é eleitor e aquele líder que defende quem ele ama vai ganhar sua simpatia. Através de um afeto paralelo, ele direciona esse voto. É uma escolha mais passional que racional.

• Qual o impacto desta escolha passional?
Também é uma questão de saúde pública. Quem não tem animal doméstico pode ser mordido por cão de rua, ficar doente e ser atendido pelo SUS. Mas é necessário ter uma dosagem correta. A causa animal não é ruim, mas muitas vezes se deixa de lado questões humanas para combater um problema que é menor. Temos que ter o bom senso que o poder público tem prioridade, que é o ser humano. O legislador tem que pensar antes de tudo nas pessoas.

 

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