“As vacinas não impedem a transmissão em um primeiro momento”

Chegada da vacina

“As vacinas não impedem a transmissão em um primeiro momento”

Infectologista Fabiano Ramos, um dos coordenadores do processo de testagem da CoronaVac no Hospital São Lucas, da PUC, participou do programa Frente e Verso, da Rádio A Hora 102.9, na manhã desta segunda-feira e destacou as etapas necessárias para começar a gerar a imunização

“As vacinas não impedem a transmissão em um primeiro momento”
(Foto: Divulgação/Matheus Wecki/HSP-PUCRS)
Estado

“A vacinação é um marco. Marco de muita coisa na tentativa de um retorno para a vida mais normal possível”. A afirmação é do infectologista Fabiano Ramos, um dos coordenadores do processo de testagem da CoronaVac no Hospital São Lucas, da PUC. Em entrevista ao programa Frente e Verso, da Rádio A Hora 102.9, na manhã desta segunda-feira, 18, destacou que é preciso mais de uma dose para impedir a transmissão.

“Precisamos de duas doses da vacina. Esse primeiro mês é para completar a vacinação. Depois, vamos ter de 14 a 28 dias depois para a produção de anticorpos. São cerca de dois meses para atingir o pico da proteção”, ressalta o profissional. Além disso, acredita que a diferença no número de casos com relação a comunidade poderá ser vista, de fato, após três meses. “Isso vai depender da nossa capacidade de vacinar e até o momento nós não sabemos como as vacinas se comportam em termos de manutenção dessa proteção”, diz. Os voluntários que participaram da pesquisa serão monitorados durante um ano para ver como a proteção irá se comportar.

Após tomar a vacina, a pessoa não desenvolverá mais a doença, mas ainda poderá transmitir. “Quando a pessoa não desenvolve a doença, isso também significa que essa pessoa tenha uma quantidade de vírus menor no seu organismo e com isso transmita menos. Quanto mais pessoas forem vacinadas, vai acontecendo um bloqueio ao longo do tempo, onde esse vírus vai ter uma quantidade tão pequena, que começa a não ser transmitido para os outros. Individualmente isso não acontece, só vai acontecer na medida que um grande número de população for vacinada, a chamada imunidade de rebanho.”

Reinfecções comuns em profissionais da saúde

Conforme o infectologista, as reinfecções são mais comuns em pessoas da área da saúde. Isso ocorre porque esses profissionais estão mais expostos. “Mesmo tendo anticorpos desenvolvidos por uma doença prévia, essa infecção pode voltar a acontecer”, pondera.

Ele explica que, mesmo que a vacina induza a produção de anticorpos, se essa pessoa se expõe muito a doença e a carga alta de vírus, “a vacina ou os anticorpos induzidos por ela, não vai ter a proteção de 90% a 100% como alguns estudos estão demonstrando.”

O que dizer em relação a eficácia e a segurança?

Precisamos lembrar que esse estudo, diferente de todos os outros, foi um estudo que colocou a vacina ao máximo da prova possível. Ou seja, porque foi feito exclusivamente com profissionais da área da saúde, profissionais que estão muito expostos a doença e muito expostos a uma carga de vírus. Nenhum dos outros estudos teve apenas voluntários da área da saúde. Quando falamos sobre a eficácia, estamos falando de um resultado que é baseado nessa exposição das pessoas. Ou seja, aquelas pessoas que são colocadas ao mesmo tempo, ao mesmo momento sobre essa exposição, metade não vai desenvolver a doença e dessas pessoas, mesmo que desenvolverem doença, 78% ou mais, não vão precisar de atendimento médico. Para uma vacina de vírus inativado, sendo colocado a prova com essa população estudada, os resultados são excelentes. É muito provável que quando colocado essa vacina na população em geral, esses resultados sejam melhores.

Poderiam todas as pessoas serem imunizadas ou vacinando os grupos de risco e mais algumas pessoas que trabalham nas áreas necessárias já seria suficiente?

O ideal seria vacinar todos. Claro com essa dificuldade de logística, vamos priorizar os grupos de maior risco e isso tem muita lógica. Porém, não só a CoronaVac, que é de vírus inativado, mas assim como todas as outras vacinas, elas não preveem uma redução de transmissão viral. A não ser quando essa redução vá acontecer por imunidade de rebanho vinda das vacinas. A gente vai precisar muita gente porque se não vamos ter um vírus circulando e um vírus que a gente não respeita estações do ano, então muito possível que se a gente não tiver um quantitativo de vacinas, uma capacidade de vacinar a maior parte da população esse vírus persista na comunidade ainda por bastante tempo.

Ouça a entrevista na íntegra

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