“Guerreiro”, “Fiel”, “Tigre”, “Moleque” e “Quartel”. Estes eram alguns dos nomes que tutores colocaram em seus cães no distante ano de 1897. É desta época os primeiros registros que se tem conhecimento em Lajeado de um Censo Animal, ainda que com finalidade diferente.
Os registros estão documentados no Arquivo Histórico Municipal, em um caderno chamado de “Matrícula dos Cães da Villa de Lageado no Exercício de 1897”. O material pertencia à Fazenda, setor que ganhou status de secretaria com as sucessivas reformulações administrativas.
Na época, o intendente do município era Coronel Júlio May, que hoje dá nome à rua que sedia a Prefeitura de Lajeado. Sua gestão iniciou em 1896 e atravessou o século seguinte, terminando em 1902.
May, por sinal, também tinha o seu cão, com registro e tudo. Se chamava “Quartel”. Tinha a cor da pele vermelha e uma coleirinha no pescoço. Foi o segundo animal de estimação matriculado na Fazenda. O primeiro foi “Brinquedo”, de propriedade de Carlos Mayer.
Na lista dos primeiros proprietários de cães de Lajeado, há também outros ex-intendentes, como Francisco Oscar Karnal, João Batista de Mello, Carlos Fett Filho e Leopoldo Heineck, além de outras figuras históricas, como Mathias Rockenbach Filho, Germano Berner e Leonardo Matte.
Curiosidades de outros tempos
Há outra Matrícula de Cães ainda conservada, de 1907. Este é o último registro do tipo que se tem nos arquivos do município. Além do nome do animal e do tutor, também estava identificada a cor do cão.
Bastante utilizada para se referir à pelagem dos cavalos, a cor “baio” aparecia frequentemente nos registros.
No Arquivo Histórico, também consta o primeiro Código de Posturas de Lajeado, instituído pelo intendente da época, Bento Rodrigues da Rosa. Naquela época, não era permitido à população ter “animaes cavallares, vaccuns e outros quaesquer”. Os infratores estavam sujeitos à multa. A criação de gado era permitida em terreno próprio e fechado.
Controle populacional
Os arquivos históricos do município ficam em evidência em um momento onde a discussão sobre controle populacional dos animais ganha força. Ana Rita de Azambuja (MDB) foi eleita vereadora tendo a causa animal como bandeira. Ela apresentou um projeto de lei que institui o Censo Animal em Lajeado.
A matéria, protocolada no legislativo no começo da semana, prevê que o Censo seja uma política permanente, de realização bianual (duas vezes por ano), a ser executada pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
“Ele é primordial para nós traçarmos estratégias e ações de controle populacional de animais e combate aos maus tratos. Para que se faça qualquer projeto posterior relacionado aos direitos dos animais, é muito importante saber o que nós temos no município”, afirma Ana, que é fundadora e presidente da ONG Amando, Protegendo e Ajudando Muitos Animais (Apama).
No projeto, Ana propõe que seja feito registro fotográfico dos animais e cadastro dos tutores. “É um banco de dados onde podemos identificar aquele animal que apareceu na rua, que pode ter se perdido ou sido abandonado”, salienta.
Tentativas recentes
A ideia de realizar um Censo Animal não é novidade em Lajeado. Em 2011, durante o penúltimo ano do mandato de Carmen Regina Cardoso, o governo municipal promoveu a pesquisa, através do Centro de Controle de Zoonoses e Vetores.
Conforme dados publicados em uma reportagem de 2013 do Jornal A Hora, 4,4 mil famílias tinham animais domésticos em Lajeado. No total, foram contados 7.451 cães e 2.278 gatos. Estes números não são oficiais, pois o estudo completo não foi localizado pela Secretaria do Meio Ambiente.
Na época, o levantamento foi feito pelas agentes de saúde, que visitavam famílias, contabilizavam o número de animais domésticos nas residências e aplicavam um questionário com os tutores.
“Se tentou duas vezes nos últimos anos a realização de um novo Censo Animal, com o auxílio do IBGE. Também procuramos os agentes de saúde para auxiliar. Mas estamos estudando novamente a proposta”, admite o atual secretário de Meio Ambiente, Luis André Benoitt.