O tempo é um só…

Opinião

Adair Weiss

Adair Weiss

Diretor Executivo do Grupo A Hora

Coluna com visão empreendedora, de posicionamento e questionadora sobre as esferas públicas e privadas.

O tempo é um só…

Vale do Taquari

“Tudo na nossa vida depende do tempo: os compromissos, as memórias e até os planos futuros. Mas uma equipe de investigadores da Universidade de Harvard e do Instituto Astel­las de Medicina Regenerativa sugere que, afinal, o tempo é algo completamente subjetivo e só existe na nossa cabeça”.

O parágrafo acima é extraído de uma publicação do site portu­guês, ZAP Aeiou, que costuma publicar artigos e pensamentos mais estruturados. Um detalhe: é de 2016, mas o trago à aber­tura, com o título acima, para apimentar a provocação acerca do tempo. Verdadeiramente, o tempo é neutro.

Se a gravitação de Newton, a eletrodinâmica de Maxwell, a relatividade especial e geral de Einstein, a mecânica quân­tica ou nenhuma outra dessas equações depende do tempo, não importa. Isso deixo aos cien­tistas para divergirem sobre e, aqui, me atenho somente a uma narrativa mais simples.

Como diz o slogan de uma recente campanha da Univa­tes: “Não é o tempo, mas o que fazemos com ele”. O mote pegou tão bem que foi usado em vários materiais da universidade com excelente aderência do público.

De fato é o que acredito, ou desejo acreditar. Não importa o tempo em que vivemos ou fazemos algo. Importa o que fazemos enquanto o tempo nos permite. Por isso, cada dia, cada hora ou minuto são diferentes para cada um de nós.

Vejamos: se estou na fila do hospital com algo grave, um minuto parece uma eternidade. Por outro lado, na presença de amigos, familiares ou pessoas queridas, um minuto é nada.

Natal e Ano Novo costumam ser datas reflexivas para muitos. Outros evitam qualquer tipo de pensamento mais aprofundado, e preferem dar vazão à euforia em meio às comemorações. Não existe certo ou errado neste comportamento. Cada um faz o que sente, ou deseja. É o livre arbítrio, ainda que este traga consequências, às vezes, boas e noutras ruins.

O ano de 2020 nos reservou surpresas, lições e sensações das mais diversas. Mais de 190 mil famílias brasileiras foram impactadas pela perda de um ente querido, por causa da covid-19. Outros milhões per­deram familiares por aciden­tes, distintas doenças ou até mesmo pela lei natural da vida.

Outros tantos perderam seu emprego, alguns melhoraram sua condição de vida, enquanto outra parcela emergiu, meteo­ricamente, diante das oportu­nidades que a transformação digital acelerou durante a pandemia.

Mas uma coisa é certa: para todos, o ano teve 365 dias. Cada um com 24 horas de 60 minutos cada uma. O tempo é um só, para mim, pra você, que me lê, que vive ou morre.

Quando nos pegamos a pensar sobre isso, nossa percep­ção sobre o tempo denota certo desconforto. E talvez seja bom para compreendermos que não é o tempo, mas o que fazemos com ele. Eis a sacada da Univa­tes, já referida acima.

Neste enredo de reflexão compartilho particularidades deste 2020, das quais muitos dos leitores do A Hora conhecem. Uma delas foi começar a Rádio A Hora bem no início da pan­demia. O que parecia quase im­possível ou de difícil operação, acabou por elevar o A Hora a um novo patamar. Chegamos ao fim de 2020 com sucesso de audiên­cia e receita publicitária. Fácil não foi, mas prazeroso, sim.

Talvez seja o ânimo, o en­tusiasmo que colocamos nas coisas. Não sei. Às vezes me pergunto por que algumas coi­sas dão certo e, outras, errado? E mais: ainda que as previsões iniciais indiquem o contrário?

Ninguém sabe ao certo por que as surpresas se impõem em circunstâncias e momentos tão adversos. Fato é que cada um de nós está sujeito a elas, sejam boas ou ruins.

E, quanto mais eu penso ou tento entender, mais percebo impossível a tarefa da com­preensão. Prefiro seguir minha intuição ou sentimento de que a “vida precisa valer a pena”, que nossas ações diárias devem fazer sentido, estarem inseridas em um propósito maior.

Quando lembro da metá­fora do homem que “sentava tijolos” e do outro – com o mesmo ofício – respondeu estar “construindo uma escola para alunos”, me remeto ao propó­sito. Afinal, nada pode ser mais prazeroso e forte do que ali­mentar nossa missão. Para isso, preciso saber qual é a minha.

Vastas bibliografias, metáfo­ras e ensinamentos de nossos pais ou avós sugerem que um ser humano sem propósito costuma salientar alguma característica ruim, seja avareza, arrogância, tristeza, mágoa, raiva, indiferen­ça ou mesmo falta de vontade para viver. Existe ainda o grupo que se autossabota, ora colocan­do nos bens materiais, noutra em falsas euforias, toda carga emocional para não enxergar sua falta de propósito. E, ainda existe a ignorância inconsciente. Isso dá mais uma coluna.

No início da pandemia dizía­mos que ela “mudaria a socie­dade”. De fato mudou, mas não sinto que tenhamos evoluído na proporção que esperávamos. Ainda nos faltam empatia e compreensão acentuadas para evoluirmos como sociedade moderna.

E, compreender que o tempo é um só, mas o que fazemos com ele faz diferença, pode ser o co­meço desta evolução coletiva, ou individual. Que tal estabelecer um bom propósito para 2021?

Uma boa semana a todos!

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