A história de quem está de plantão no Natal

Comemoração

A história de quem está de plantão no Natal

Como será a celebração natalina no presídio, hospital e abrigos de menores e idosos? Enquanto a maioria da população se reúne com a família para celebrar o aniversário de Jesus, há trabalhadores que garantem a continuidade de serviços essenciais no feriado mais popular da cultura cristã

A história de quem está de plantão no Natal
Para atender casos de emergência, profissionais do HBB não param no Natal (Foto: Fábio Kuhn)
Vale do Taquari

A ceia natalina no Hospital Bruno Born (HBB) se torna uma “janta melhorada”. Cada funcionário traz algum alimento para compor a mesa daqueles que estarão a postos para atendimentos de saúde e casos de emergência.

No Natal deste ano, serão 120 profissionais trabalhando na casa de saúde de Lajeado. “Não estamos em casa, mas comemoramos com a família do HBB”, afirma a enfermeira coordenadora do Pronto Atendimento 24h e Emergência, Rosa Lemos.

Estar longe em datas comemorativas faz parte das exigências de boa parte dos profissionais da saúde. Para o médico da emergência, André Pinheiro Weber, celebrações como o Natal acabam se tornando um dia normal no ano. “Se o médico não trabalha, os outros estão em risco e isso não é justo”, resume.

Embora tenham que trabalhar em um momento que muitos festejam, os profissionais afirmam o gosto pela profissão. “Ter o senso de dever cumprido no fim do dia é muito bom”, ressalta Weber. “Importante é a amizade que se forma aqui dentro, passamos os feriados juntos e comemoramos juntos”, aponta Rose.

Atendimentos de infartos costumam aumentar no Natal em função do excesso de alimentos, citam os profissionais. Outras ocorrências recorrentes nas festividades de fim de ano são relacionadas ao psicológico.
“Pessoas que, por algum motivo, não têm familiares próximos sentem mais a solidão. O Natal é uma data em que se foca esse contato com a família e é quando as pessoas estão mais propensas a sentir falta disso”, ressalta Rosa.

Em função da pandemia do coronavírus, o HBB cancelou atividades natalinas na área interna hospitalar. Em outros anos, a magia do Natal era levada para dentro da casa de saúde através do trabalho de voluntários e entidades.

Vovolar

Quando Glaci Guzzon Garcia começou a trabalhar na Vovolar, em 2000, o Natal era muito diferente na entidade de amparo aos idosos carentes de Lajeado. Visitas não eram incentivadas e havia poucas festividades.

Passados 20 anos, a profissional que se tornou coordenadora realizou mudanças. Até o Papai Noel visita as internas em evento que ocorre tradicionalmente na semana do Natal e tem ainda cantorias, dança e missas. Para a ceia, a mesa é decorada com um frango assado, saladas diversas e até churrasco.

Em função da pandemia, atividades natalinas da Vovolar ocorreram fora dos portões (Foto: Divulgação)

“Faço atividades que também gostaria de ter. Vejo que elas se emocionam muito, principalmente com o Papai Noel. A reação é a mesma como se fossem crianças”, relata ao falar das 16 mulheres que estão internadas na entidade atualmente.

Com orgulho, Glaci ressalta que trabalhará o 20° Natal na entidade. “Não estou na Vovolar por acaso. Para mim é uma missão e vejo o Natal como uma data normal como outros dias do ano”, reforça. Em 2020, o plantão natalino será feito por duas profissionais.

Em função da pandemia do coronavírus, os eventos dentro da Vovolar foram cancelados. Mas as famílias encontraram uma forma de se comunicar com os internos por meio de ações na rua, onde eram realizadas apresentações, cantadas músicas e entregue presentes.

Amam

Já é tradicional a ceia com participação de voluntários na Associação dos Menores de Arroio do Meio (Amam). O evento integra crianças e funcionários que ficam de plantão durante as festividades religiosas e neste ano deverá ter ainda a presença de cerca de dez pessoas da comunidade arroio-meense.

O abrigo da Amam conta com sete crianças que passarão o Natal longe das famílias. Serão dois profissionais responsáveis por cuidar dos jovens durante as festividades natalinas. Conforme a diretora Taina Pires, os profissionais podem levar familiares para a ceia, o que acaba animando mais a véspera de Natal de todos.

Profissionais da Amam decoram o pinheirinho para ceia natalina com voluntários (Foto: Fábio Kuhn)

“Quem acaba sentindo mais são as crianças internas se lembrando mais da família e tendem a ficar ansiosas. Ai os profissionais que ficam precisam dar esse carinho, pois as crianças do abrigo acabam sendo um pouco nossas também”, cita Tainá.

Conforme ela, o que marca o trabalho em dias de Natal são as lágrimas das crianças ao receberem os presentes e a generosidade da comunidade em contribuir com doações para que a data seja mais alegre no abrigo dos menores.

Para a monitora Jéssica Lara, é a expectativa dos jovens em poder passar o Natal com a família que mais chama a atenção. Cita o caso de três irmãos que neste ano retornaram para Horizontina para passar o feriado com a mãe. “Eles nem dormiam direito, o presente foi estar com a família”, conclui.

Presídio de Arroio do Meio

“A gente cumpre a pena com o preso no Natal”, comenta o chefe de segurança do Presídio Estadual de Arroio do Meio, Elton Ribeiro. Atuando no sistema prisional faz mais de 30 anos, o profissional sente a carga emocional que colegas carregam em passar uma data comemorativa longe dos familiares.

A prisão de Arroio do Meio terá dois policiais penais e dois brigadianos trabalhando no Natal de 2020, informa o diretor do presídio Rogério Tatsch. Uma “janta diferente” acaba sendo a única regalia desses profissionais na data.

Presídio de Arroio do Meio terá dois brigadianos e dois policiais penais atuando no Natal (Foto: Fábio Kuhn)

Tatsch e Ribeiro reforçam que o período tende a ser mais “tenso” atrás das grades. “O apenado está mais estressado Também quer passar esse momento com a família, mas não pode. É um mês crítico para o sistema penitenciário”, percebe Tascth.

O diretor está desde 2009 na casa prisional. Embora perceba essa preocupação maior no Natal, nunca registrou fatos atípicos nesse período. “Como o presídio é menor, sempre foi tranquilo”, ressalta.

Para amenizar a saudade das famílias, o Conselho da Comunidade do presídio arroio-meense realiza anualmente a festa do preso na semana de Natal. O evento contava com a participação dos familiares, distribuição de presentes para filhos dos apenados e celebração religiosa.

A covid-19 cancelou a programação festiva desse ano. O contato com familiares foi possível apenas em visitas de uma hora realizadas nessa quarta, 23.

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