Onde o clima de Natal é levado a sério

Natal

Onde o clima de Natal é levado a sério

Casas ornamentadas, iluminações encantadoras, papais noéis que levam a alegria a entidades sociais. A cada ano, famílias e pessoas renovam suas tradições e não medem esforços para manter a magia e o espírito natalino

Onde o clima de Natal é levado a sério
Helena e os papais noéis: na casa da aposentada de 78 anos, há enfeites natalinos que foram adquiridos há meio século
Vale do Taquari

A pandemia mexeu com o cotidiano das famílias e o Natal é mais uma das confraternizações afetadas pelo momento crítico. A orientação das autoridades é para reuniões familiares com até dez pessoas. Mesmo com o clima de fim de ano abalado pelo vírus, famílias mantêm a tradição natalina à risca, das mais diversas formas.

A decoração e ornamentação, por exemplo, não foram abandonadas. Além das vias e praças, empresas e residências de diversas partes se enfeitaram para a data. Seja na fachada ou na área interna, os espaços são tomados por presépios, pinheiros e papais noéis de diferentes tamanhos e formatos.

A casa de Helena Ceci Schwertner, 78, é uma atração à parte. O trecho pouco movimentado da Avenida Benjamin Constant, próximo à Oswaldo Aranha, ganha uma nova cara aos finais de ano, geralmente a partir das últimas semanas de novembro. Quem passa por ali, sobretudo à noite, se encanta com as luzes e decorações.

Mesmo sem o pique de outros tempos, Helena é quem coordena a decoração da casa, com a ajuda da filha Ana Luísa Schwertner e da bisneta Naiana. No imóvel, não há peça que não esteja enfeitada. Da sala ao banheiro, há enfeites que dão um brilho especial para a data. São mais de 300 peças que remetem ao Natal.

Helena começou a tomar gosto pelas decorações natalinas há cerca de meio século, quando ainda residia no bairro Moinhos. E, desde então, nunca falhou um Natal. “Tenho um Papai Noel que já tem 50 anos. E cada ano compro alguma coisa nova. Viajo e encontro coisas diferentes para a decoração”, ressalta.

Enchente e pandemia

Quem vê de longe a casa de Helena toda enfeitada para o Natal não imagina o drama enfrentado pela família no meio do ano. A enchente histórica do rio Taquari, em julho, que atingiu 27,39 metros em Lajeado, chegou ao local. Entre algumas perdas, muitas decorações natalinas que tradicionalmente eram usadas no fim do ano.
Chama a atenção, entre as peças, um Papai Noel gigante, adquirido em uma loja de Lajeado. Ele estava guardado em uma caixa e sobreviveu à enchente. “Ele foi lavado com um lava jato”, comenta a bisneta Naiana.

“Enquanto estiver viva, continuarei fazendo”

A família de Helena costuma decorar a casa também em datas como a Páscoa. Mas é no Natal que as decorações tornam o local uma referência em ornamentação na cidade.

A preparação para o Natal leva cerca de oito dias, estima Helena. A casa fica enfeitada até a primeira semana de janeiro. Além disso, eles costumam espalhar o espírito da data distribuindo doces e lembranças para os visitantes, algo que está mais restrito este ano

Perguntada sobre como projeta os próximos anos, Helena garante: “Enquanto eu viver, todo ano terá decoração de Natal aqui. Minha vida é essa. Pena que neste ano, por conta da pandemia, não temos tantas visitas. Nem o Cedelinho está ocorrendo”, afirma.

Vestindo o personagem

A rotina de um Papai Noel não se resume ao Natal ou à entrega de presentes. Para ser um, é preciso um longo preparo. Mas, principalmente, ter empatia, amor ao próximo e, claro, uma longa barba branca.

Ilceu Inácio Dresch, 78, possui todos estes atributos. Há 20 anos, de maneira inesperada, ele vestiu o famoso traje vermelho pela primeira vez, na creche onde deixava a neta, Maria Clara Schneider Molina. Desde então, nunca mais abandonou o personagem e ainda especializou-se na função, realizando cursos fora de Lajeado.

No currículo de Dresch, estão trabalhos para a Sociedade Lajeadense de Atendimento à Criança e ao Adolescente (Slan), a Associação dos Deficientes Físicos de Lajeado (Adefil), a Vovolar, no Presídio Estadual de Lajeado, no Hospital Bruno Born e também já atuou em municípios como Arroio do Meio, Canudos do Vale e Cruzeiro do Sul.

“É muito bonito participar destas coisas. Nos asilos, as velhinhas ficam muito felizes. Sempre gostei desse trabalho mais beneficente”, comenta Dresch.

Inspiração da neta

Num certo dia em que buscava a neta na creche, Dresch soube que a escolinha não tinha um Papai Noel para fazer atividade de fim de ano. Sem muita noção de como funcionava o trabalho do Bom Velhinho, ele se colocou a disposição.

“Nem tinha roupa para isso. Me deram uma máscara e fui. No outro ano, deixei a barba crescer, fui convidado de novo, e assim foi indo. Começaram a me convidar para o Natal da Slan também Cheguei a ficar 11 anos sem tirar toda a barba. Agora estou há quase oito anos, apenas aparando”, brinca.

Ao longo dos anos, Dresch, que trabalhou por décadas como despachante, passou a ser conhecido também por dar vida ao Papai Noel. E se especializou. “Participei de uma feira em São Paulo, em 2018, e também desde 2011, passei a ir no Encontro dos Papais Nóeis em Gramado. Fiz muitas amizades. O evento chegava a reunir mais de 120 profissionais de todo o estado”, lembra.

Sem trabalhos

Dresch recebeu alguns pedidos particulares para trabalhar de Papai Noel este ano. Porém, ele teve uma fratura no fêmur, em abril. Pela idade avançada, a recuperação é lenta, inviabilizando o trabalho.
“Não recebi ligações das creches em que trabalhava, certamente porque eles não terão eventos. Este ano, infelizmente está sem condições. Tem que respeitar também a questão do distanciamento, por causa do vírus”, afirma.

“Proporcionar a alegria dos vizinhos e de crianças me motiva a continuar”

Juliano Mallmann, morador do bairro Jardim do Cedro, de Lajeado, começou com a tradição de iluminar sua casa em 2015, para participar de um concurso, que premiava a casa mais decorada do município. Na ocasião, conquistou o 3º lugar. “O resultado me despertou felicidade e satisfação”, relembra.

Mesmo sem a continuidade do concurso, Mallmann seguiu com as decorações com o passar dos anos. “Proporcionar a alegria dos vizinhos e de crianças me motiva a continuar. Todos os anos promovo alguma mudança e inovo na decoração”, explica. Para ele, o Natal e a decoração trazem lembranças dos tempos de criança que passava com sua família.

Neste ano, devido à pandemia, Mallmann antecipou a decoração e montou a iluminação já em outubro. “Foi um ano sombrio, com muitas pessoas afetadas. Quis transformar o fim de ano em alegria”, relata.

De acordo com o morador do Jardim do Cedro, o Natal é um período de reflexão. “É tempo de viver o amor em família e com amigos. E, com a decoração é minha forma de refletir o momento”, explica. Além das casas, também fez a decoração de empresas de Estrela e Teutônia.

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