A expansão urbana, o envelhecimento dos agricultores e o êxodo rural são os motivos centrais para a redução no número de propriedades rurais. Essa é um movimento nacional também sentido no Vale do Taquari. É o que mostra a segunda edição do Atlas do Espaço Rural.
A obra foi publicada pelo IBGE nessa semana e faz uma análise geográfica inédita sobre as características do produtor e dos estabelecimentos agropecuários, evidenciando as diversidades e desigualdades territoriais presentes nos mais de 5 milhões de propriedades pesquisadas no país.
“A lógica é concentrar e centralizar. Esse é um processo que se acentua com o êxodo rural. Os agricultores envelhecem. Sem ter sucessor para continuar o trabalho, vendem as terras”, analisa a economista e mestre em Desenvolvimento Regional, Cintia Agostini.
Essa tendência vista em todo o país tem mais impacto em áreas grandes, de latifúndios, como no centro-oeste do país. No Vale do Taquari, isso também ocorre, mas em uma escala menor. “A média de propriedades aqui é de 14 hectares. Então essa concentração é em uma escala bem menor, sem grande representação. Mas quando vemos o Mato Grosso, em que uma pequena propriedade tem 300 hectares, há um impacto para o país.”
Essa análise se aproxima dos apontamentos feitos pela geógrafa e coordenadora do Atlas, Adma Hamam de Figueiredo. “Se no passado, o Centro-Oeste já se caracterizava pela pecuária ultraextensiva, o que induzia já a uma concentração fundiária, no presente esse processo se acirrou com a expansão das commodities de soja, de milho e da pecuária bovina.”
Os dados se tornam mais próximos a partir da média de área das propriedades do Centro-Oeste (322 hectares). Esse total é quase cinco vezes maior do que a média nacional (69 hectares).
O livro considera dados dos Censos Agropecuários de 2006 e 2017. Nos 11 anos de análise, o Vale do Taquari teve uma redução de 15% no número de propriedades.
Uso de agrotóxicos cresce
A proporção de estabelecimentos que admitiram usar agrotóxicos aumentou 22,9% nos últimos 11 anos, passando de 27% em 2006 para 33,1% em 2017. Esse avanço tem duas características: menos mão de obra no campo e a necessidade de aumento na produção.
Pelas informações do IBGE, o setor agropecuário avança no uso de tecnologia, informação e conhecimento. Por outro lado, há um paradigma entre os modelos de produção, das práticas poluidoras pregadas a partir da década de 90 (a chamada Revolução Verde), ao mesmo tempo em que aumenta o número de agricultores voltados à produção sem defensivos.
“Percebemos que a maior carga de agrotóxico é usada nas culturas de inverno. No milho, na soja. Como somos uma região com pequenas propriedades, aqueles que optam por outras técnicas, em especial nas hortaliças, sofrem com a deriva das substâncias”, conta a professora da Uergs e coordenadora do núcleo de estudos em agroecologia e produção orgânica da região, Elaine Biondo.
Essa deriva (porção de defensivos aplicados que se depositam em áreas vizinhas) dificulta a obtenção dos selos de qualidade para propriedades livres de agrotóxicos. “Temos estudos que mostram a contaminação do solo e também da água. Inclusive com uma porção de substâncias que persistem ao tratamento e chegam como água potável à população”, alerta.
Associações voltadas à agroecologia
Os agricultores familiares predominam na busca por algum tipo de organização associativa para reunir forças. Já os estabelecimentos monocultores concentram, além de terras, recursos financeiros para a obtenção das mais modernas tecnologias e inovações, mostra o IBGE.
Quando se olha para o Vale do Taquari, a característica local realça o movimento voltado à cooperação. “A sociedade está cada vez mais atenta ao excesso de agrotóxicos. Tanto que temos um avanço considerável no número de produtores que optam pelo modelo ecológico.”
Esse avanço aparece também na área de cultivo e das feiras ecológicas. Conforme a Comissão da Produção Orgânica no RS existem quase 100 pontos destinados ao comércio desses produtos.
Em torno de 34% da população dos três estados do Sul inclui orgânicos na cardápio. Nos últimos sete anos, segundo o Mapa, a área cultivada registra crescimento de 88,5%. Passou de 603,2 mil hectares em 2013 para 1,13 milhão. O número de produtores saltou de 6,7 mil para mais de 15 mil.
Ascensão do turismo rural
As formas de complementar a renda das propriedades também foram analisadas pelo Atlas. O número de agricultores que apresentam outras receitas é significativo nos municípios que compõem a Amazônia Legal e o Semiárido Nordestino.
Há municípios do país, como Monte do Carmo, em Tocantins, que 66,2% das receitas das propriedades rurais são compostas por serviços voltado ao turismo, alimentação e serviços de recepção. De olho em exemplos como este, empreendedores do Vale do Taquari apostam nas belezas naturais para gerar uma nova fonte de renda para o campo.
O movimento conta com o apoio de diversas instituições, e tem como grande líder a Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales). Conforme levantamento da entidade, os roteiros oferecidos atraíram mais de 190 mil visitantes em 2018.
Na avaliação do presidente da Amturvales, Leandro Arenhart, é possível ampliar o turismo rural. “Temos produtos e locais qualificados e estruturados para receber turistas. Dispomos de hotelaria e pousadas rurais organizadas”, afirma.
De acordo com o Atlas do IBGE, em valores absolutos, os estados com maiores receitas voltadas pelos serviços vinculados ao turismo são Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.