O último capítulo de D’Alessandro

O adeus ao ídolo

O último capítulo de D’Alessandro

Maior ídolo da última década no Estádio Beira-Rio, o camisa 10 se despede neste sábado do Internacional. Craque dentro de campo, o argentino construiu idolatria entre os torcedores e é apontado como um dos maiores jogadores da história do clube

O último capítulo de D’Alessandro
D’Alessandro encerra a sua história no clube como um dos atletas que mais jogou e ganhou títulos pelo Internacional. Última partida pelo Colorado é no sábado, contra o Palmeiras. Créditos: Divulgação
Vale do Taquari

Nem o mais otimista dos colorados imaginava que no dia 31 de julho de 2008 o Internacional estava apresentando um dos jogadores mais importantes de sua história. Que Andrés Nicolás D’Alessandro era bom de bola, todos sabiam. Que ele vestiria a camisa do clube como poucos vestiram na história centenária do Sport Club Internacional, era mais difícil prever.

Lá se vão mais de doze anos. Tempo suficiente para D’Alessandro marcar o seu nome na galeria dos maiores jogadores do clube. Mais de 500 partidas, quase 100 gols, uma coleção de troféus e a idolatria da torcida fizeram do argentino o símbolo colorado por mais de uma década. A camisa 10 e a braçadeira de capitão acharam morada em D’Ale.

Como toda boa história, o conto está chegando ao fim. Beirando os 40 anos, ele acha que agora é o momento ideal para deixar o Internacional. O capítulo final do ídolo com a camisa colorada está marcado para sábado.
Como não podia deixar de ser, o último jogo será em casa, no Estádio Beira-Rio, palco onde ele foi maestro e encantou milhões de torcedores. Torcedores esses que, infelizmente, não poderão se fazer presentes. Às 21h, contra o Palmeiras, D’Alessandro encerra sua trajetória em campo, mas amplifica a idolatria e entra para a lista de mitos que vestiram a camisa vermelha e branca do Internacional.

Idolatria que não se mede

A forma como honrou as cores do clube tornou Andrés D’Alessandro o maior ídolo de uma geração de colorados. Desde os primórdios no clube, em 2008, passando pelo título da Libertadores em 2010 e se estendendo por uma década de vacas magras. D’Ale sempre foi o comandante, capitão, líder de vestiário e maior nome do clube enquanto esteve ali. Nem a breve passagem pelo River Plate, no ano que o Colorado foi rebaixado, diminuiu sua história.

A prova são as inúmeras homenagens prestadas ao jogador. Suas tatuagens de estrela nos cotovelos viraram moda. Autógrafos foram tatuados. Fotos viraram quadros e crianças chegaram a ser batizadas em sua homenagem. E isso só aqui no Vale do Taquari.

O último capítulo

Com contrato até 31 de dezembro, D’Alessandro escolheu se despedir em casa. Mesmo que sem torcida, quis que a última partida pelo Inter fosse no Estádio Beira-Rio. Neste sábado, às 21h, contra o Palmeiras, deve ir a campo. Pode começar como titular, ou até entrar durante a partida. Mas o certo é que irá jogar.
O Internacional recebe o Palmeiras e quer engatar a primeira sequência de vitórias com Abel Braga no Brasileirão. O provável time que começa a partida tem: Marcelo Lomba; Heitor, Rodrigo Moledo, Cuesta e Moisés; Rodrigo Lindoso, Yuri Alberto, Edenilson, D’Alessandro e Patrick; Thiago Galhardo.
O adversário é parada dura, uma vez que o Palmeiras ainda briga por título nas três competições. Até por isso, o time deve ter escalação mista.

Os irmãos Dalessandro

“A história da nossa família começou com o meu pai. Meu nome é Paulo Roberto, mas era para ser Paulo Roberto Falcão. Meu pai é do interior, muito colorado, não conseguiu pôr o nome pois falaram que Falcão era sobrenome. Hoje tenho dois filhos com nome de Dalessandro.”

Essa é a história de Paulo Roberto dos Santos, que era para ser Falcão, e de sua família. Apaixonado pelo camisa 10, assim como sua esposa Joziele Liesenfeld, decidiram colocar o nome do ídolo em seus filhos. Brayan Dalessandros dos Santos, de 6 anos, e Davi Dalessandro dos Santos, de apenas um mês.

Moradores de Estrela, são colorados doentes. “Nunca perco um jogo, meu time é tudo para mim. Se o Inter ganha, meu dia é bom. E dentro do Inter, ninguém é maior que D’Alessandro”, comenta Paulo.

A admiração pelo ídolo é o que rege a casa. “Nosso filho olha e diz “olha eu na TV, pai”, amamos ele como jogador e como pessoa. Ele é o nosso rei”, enfatiza. Para eles, a maior alegria construída por D’Ale veio nos clássicos contra o Grêmio. “Ele destruiu o Grêmio em vários clássicos. Eles tremiam a perna. Acho que nunca verei outra pessoa como ele no clube. O D’Alessandro foi feito para o Internacional.”

Autógrafo na memória

Morador de Arroio do Meio, Wagner de Oliveira nunca esquecerá do dia 22 de abril de 2010. O dia em que conheceu o ídolo D’Alessandro, no ano do bicampeonato da Libertadores, em que o argentino foi eleito o melhor jogador do continente.

A partida era a última da fase de grupo da Libertadores. O Colorado venceu o Deportivo Quito por três a zero, gols de Andrezinho, Bolívar e Giuliano, e seguiu rumo às oitavas de final. Aquela campanha terminaria em título.

Wagner viu o jogo da torcida Guarda Popular, enquanto que sua esposa e filho, recém nascido, viram do camarote. “Éramos convidados de um assessor do clube, poderia ter ido no camarote, mas preferi ver da torcida. Até porque eu não pagava ingresso em nenhum setor naquela noite”, lembra.

Oliveira preferiu ver o jogo no calor da torcida, mas não deixou de aproveitar a regalia. Após a partida, pegou o filho Érick, de oito meses, e foi ao vestiário tentar conseguir autógrafos dos jogadores. O mais especial, de D’Alessandro, ele conseguiu. “Ele foi o último a sair do campo, nos encontramos no corredor e pedi o autógrafo. Ele prontamen

te atendeu e assinou a camisa do meu filho.”

Passados dez anos, as camisetas estão guardadas com carinho. Os autógrafos, no entanto, se perderam com o tempo. Imagens, só na cabeça. “As fotos estavam em um computador e eu acabei perdendo. A recordação, no entanto, é sempre lembrada.”

Paixão eternizada na pele

Sheyla Andersen sempre foi colorada, mas viu a paixão se amplificar quando D’Alessandro passou a vestir as cores do clube. “Admiro o jeito dele, não está pelo dinheiro. É muito dedicado e sempre quer o certo, nem que seja preciso gritar e espernear. Ele não mede esforços.”

Em 2017 a admiração pelo camisa 10 foi imortalizada em uma tatuagem. “Peguei autógrafos de internet e montei a tatuagem. Meu tatuador conseguiu replicar a forma como ele assina”, afirma.

Segundo ela, em um primeiro momento as pessoas não querem acreditar, principalmente pela tatuagem não ser pequena. “A intenção é mostrar o quanto gosto dele. Tenho também uma tatuagem com o símbolo do Inter, mas a dele é especial. É o meu maior ídolo.”

Engana-se quem pensa que a homenagem termina na pele de Sheyla. Até sua cachorrinha leva o nome do ídolo. “É uma fêmea, mas levou o nome dele. A D’Ale é mais uma homenagem. Espero que um dia ele possa voltar para ser o nosso técnico.”

O abraço pós “Não viu o jogo?”

Um dos momentos mais marcantes da carreira de D’Alessandro, pelo lado negativo, foi vivido em Lajeado. O ano era 2015, e a partida entre o Lajeadense e o Internacional valia pelo Campeonato Gaúcho, mas também pela Recopa Gaúcha. Ao mesmo tempo em que o Alviazul comemorou um dos principais títulos de sua história, D’Alessandro virou notícia.

Em campo, a partida terminou empatada. Mas como valia título, foi aos pênaltis. O capitão colorado errou a sua cobrança, e não ficou feliz com isso. Ao sair de campo, foi questionado por um repórter e soltou a frase que rodou o mundo: “Que foi? Perdemos o jogo. Ahn? Não viu o jogo? Onde perdemos? Erra quem bate, infelizmente erramos”, disse o argentino.

Irritado, seguiu o rumo e foi parado por um novo repórter, Joilson Pereira. “Volta e meia alguém me encontra e diz que viu o vídeo, que algum canal do Youtube fez conteúdo. O primeiro repórter que o abordou fez alguma pergunta que o tirou do sério, mas comigo foi tranquilo”, lembra.

Joilson tem na cabeça passo a passo do momento. Lembra de ter se aproximado pela beira do campo, de chegar perto do camisa 10, pois era o principal personagem da partida. “Quando me aproximei vi que o clima não estava dos melhores. Quando ele saiu da entrevista, nervoso, estendi o braço para que viesse falar comigo. E ele me abraçou.”

Ele diz que até hoje rolam brincadeiras. Pessoas pergunta se ele virou amigo do argentino, ou se ele estava realmente nervoso. Pereira faz questão de defender quem o abraçou. “É uma figura tão grande, tão diferenciado, que soube deixar de lado a situação. Comigo falou tranquilamente.”

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