Futebol como reflexo da sociedade

Opinião

Caetano Pretto

Caetano Pretto

Jornalista

Colunista esportivo.

Futebol como reflexo da sociedade

Mundo

“Você nunca diz “esse cara branco”, você diz “esse cara”. Então por que você está mencionando “cara preto”? Você tem que dizer “esse cara preto”? Por quê?!”.

Eu queria escrever a coluna de hoje sobre mais um encontro entre Messi e Cristiano Ronaldo e como cada jogo entre os dois pode ser o último encontro. No entanto, não consigo ficar indiferente aos acontecimentos dos dois últimos dias.

A frase de abertura do texto foi dita pelo atacante senegalês Demba Ba, do Istanbul Başakşehir, após o quarto árbitro da partida entre a equipe turca e o PSG, Sebastian Colțescu, proferir frases racistas ao camaronês Pierre Webó, ex-atacante e hoje membro da comissão técnica da equipe.

O que se viu após o ocorrido foi um momento histórico no futebol. Jogadores das duas equipes se recusaram a entrar em campo enquanto o árbitro estivesse ali. Cogitou-se seguir a partida no mesmo dia, mas o jogo foi adiado e jogado na tarde de ontem.

O que se viu na Champions League é histórico e precisa ser levado de exemplo. Chega de tolerar o racismo no futebol. Chega de levar o que acontece dentro das quatro linhas como algo à parte do mundo. O futebol é um reflexo da sociedade. E a nossa sociedade é racista.

Essa não foi a primeira vez que algo do tipo ocorreu nos gramados da maior competição entre clubes do mundo. Talvez o fato de ter sido um membro da arbitragem tenha contribuído para a grande repercussão que se viu de terça-feira até hoje. Mas não é um caso isolado. Todo ano vemos exemplos lamentáveis vindo de jogadores, técnicos, torcedores e afins. Torço para que isso ocorra cada vez menos. Mas que se ocorrer, a resposta seja a mesma. Basta de racismo.


Ajoelhados pela história

Após o ocorrido em campo, o que se viu foram enxurradas de mensagens em apoio à Demba Ba, Webó, e todos os atletas que tomaram a decisão de sair de campo. Entre eles estava Neymar, muitas vezes criticado por pouco se posicionar sobre a causa racial. Junto de Mbappé, o astro brasileiro foi quem puxou a fila aos vestiários.

O jogo foi reiniciado na tarde de ontem. As duas equipes novamente fizeram bonito e entraram com camisas pedindo o basta ao racismo. Antes da bola rolar, ajoelharam no meio-campo e ergueram os pulsos. Outro símbolo da causa antirracista.

Mais do que os jogadores, me alegrou ver a repercussão nas redes sociais. Foram raros os casos de amigos, personalidades e pessoas que fizeram chacota ou que não concordaram com a decisão das equipes. Em especial também, a maneira como a equipe do Esporte Interativo, que transmitia a partida, soube lidar com a situação. Mais uma vez, o futebol não é um mundo à parte. Basta de racismo.

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