Avanço dos contágios, equipes esgotadas e a luz no fim do túnel

À espera da vacina

Avanço dos contágios, equipes esgotadas e a luz no fim do túnel

Nove meses de pandemia e o país enfrenta um crescimento exponencial nos contágios. No RS, taxa de infecção supera os números vistos no inverno. Para estancar a doença, cientistas apostam na vacinação em massa. Inglaterra começa aplicação emergencial na próxima semana

Avanço dos contágios, equipes esgotadas e a luz no fim do túnel
Há quatro vacinas em testes no Brasil. Por enquanto, Anvisa não recebeu solicitação de uso emergencial para nenhuma delas. Créditos: Itamar Crispim/Divulgação
Brasil
oktober-2024

A estagnação seguida de queda nos contágios pelo novo coronavírus durou pouco mais de dois meses no RS. Novembro trouxe às autoridades públicas, equipes de saúde e à sociedade uma verdade inconveniente. A covid-19 é uma doença traiçoeira e continua com alto grau de disseminação nas cidades gaúchas.

Ao passo em que o governo de Eduardo Leite volta a impor restrições, o mundo inteiro vive a expectativa da aplicação de uma vacina contra o vírus. O primeiro país a anunciar a aplicação emergencial foi o Reino Unido.

Essa informação animou o mercado internacional e também trouxe esperança de que a pior pandemia do século pode estar perto do fim. Junto com isso, a velocidade para liberar um imunizante seguro e eficaz evoca discussões sobre os riscos de uma vacinação em massa frente ao pouco tempo de pesquisa.

Processo acelerado

Dos testes in vitro até chegar à população, uma vacina demora em média dez anos até ser comprovadamente segura e eficaz. Para o infectologista e professor da Univates, Guilherme de Campos Domingues, em que pesem questionamentos sobre risco de abreviar as pesquisas, o fato é que houve um esforço nunca visto da comunidade científica. “Há muita fantasia e teorias da conspiração para desacreditar esse trabalho.”

Para ele, houve uma revisão nos protocolos que agilizaram a possibilidade de aplicação. Dentro disso, o único fator que traz dúvidas é sobre efeitos colaterais em longo prazo. “Não temos como avaliar o impacto da vacina ao longo dos anos. Temos um histórico de meses, quem sabe meio ano. Mas em nenhuma outra vacina criada houve efeito problemático. Não é provável que isso aconteça agora.”

Não temos como avaliar o impacto da vacina ao longo dos anos. Temos um histórico de meses, quem sabe meio ano. Mas em nenhuma outra vacina criada houve efeito problemático.” Guilherme Domingues

A respeito da aplicação emergencial no Brasil, Domingues estima que até março as doses estejam disponíveis para grupos de risco. No Brasil, há quatro potenciais vacinas em testes (confira no quadro). Todas estão no final de testes clínicos, a chamada fase 3. Algumas submeteram resultados de todo o processo de estudos para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela regulação de vacinas e medicamentos.

Ocupação perto dos 80%

O Vale do Taquari tem 65 leitos de UTI. No dia 12 de novembro, o índice estava em 56,9%. Depois desse dia, a alta na ocupação das vagas tem sido constante. Do dia 24 do mês passado, sempre ficou acima dos 70%. Nessa sexta, conforme a Secretaria Estadual de Saúde (SES), eram 51 pacientes internados. Deste total, 26 confirmados ou suspeitos de covid-19.

No RS, a ocupação superou os 80% nesta sexta-feira. Foram tabulados 5.207 novos casos, com mais 61 óbitos. O total de infecções passa dos 342 mil, com 7.104 mortes. O índice de recuperação está em 91%

“Convivemos com o risco de contaminar a nossa família”

Técnico em enfermagem e presidente do Sindsaúde da região, Carlos Luis Gewehr, faz o plantão noturno em um hospital da região. “A cada dia tem mais gente procurando atendimento. Tivemos um período com uma falsa impressão de que havia amenizado. Mas o vírus está aí, cada vez mais forte.”

A cada dia tem mais gente procurando atendimento. Tivemos um período com uma falsa impressão de que havia amenizado. Mas o vírus está aí, cada vez mais forte.” Carlos Luis Gewehr

Os últimos nove meses tem sido de provação para todos os trabalhadores da saúde. O acúmulo de trabalho, as exigências de cuidado e a falta de profissionais têm levado os trabalhadores ao limite, afirma. “Estamos na linha de frente. A gente se coloca em perigo para ajudar as pessoas. O que pedimos é conscientização de todos para reduzirmos os contágios.”

Quanto à saúde dos profissionais, o aspecto emocional tem sido muito atingido, afirma Gewehr.“Vivemos com muitas dúvidas. Trabalhamos e não sabemos se voltaremos sadios para casa. Convivemos com o risco de contaminar a nossa família. O sentimento é de medo constante.”

Otimismo no Hemisfério Norte

Esta semana, as farmacêuticas Pfizer e a Moderna solicitaram à União Europeia e aos EUA a aprovação emergencial para uso das vacinas contra a covid-19. O composto da Pfizer, feito em parceria com a BioNTech, teve autorização para ser aplicada no Reino Unido.

Na metade de novembro, a Pfizer informou que a eficácia da vacina atingiu os 95%, não causou efeitos colaterais preocupantes e foi capaz de oferecer proteção para pessoas com mais de 65 anos.

Das mais de 40 mil aplicações, foram feitas análises com 170 voluntários que foram diagnosticados com a covid-19. A maioria destes tomaram doses de placebo, uma substância sem efeito terapêutico. Na análise dos cientistas, significa que aqueles que foram imunizados com o composto verdadeiro ficaram protegidos do Sars-CoV-2.

Quanto à vacina da Moderna, o nível de eficácia foi calculado em 94%. O anúncio da farmacêutica se baseou em 95 participantes dos testes clínicos que tiveram covid-19. Deste total, 90 estavam no grupo do placebo.

As etapas para uma vacina

O estudo começa no laboratório, quando são avaliados os componentes para uma melhor formulação da vacina. Passam pela fase pré-clínica, quando são feitos testes em animais. Por fim, a fase clínica. Esta, por sua vez, é subdividida em outras três etapas: as fases 1, 2 e 3.

Na fase 3, é avaliada a eficácia e a segurança do imunizante em desenvolvimento. São esses os dados que ainda precisam ser concluídos nos estudos realizados pelos quatro laboratórios responsáveis pelas vacinas em teste no país.

Conforme a Sociedade Brasileira de Imunizações, um processo normal de registro de uma vacina é feito quando os laboratórios concluem todas as etapas e então submetem um dossiê com os resultados dos estudos pré-clínicos e dos estudos clínicos das fases 1, 2 e 3 para a agência reguladora.

Nesta pandemia, há outro formato, em que as pesquisas são encaminhadas de forma contínua, com resultado de cada etapa dos estudos. O modelo visa agilizar o processo de liberação.

A Anvisa recebeu os dados referentes aos estudos não-clínicos e clínicos de fase 1 e 2 da vacina da Pfizer. A agência também visitou duas fábricas de vacinas: a Sinovac e a Wuxi Biologics, envolvidas, respectivamente, nas pesquisas da CoronaVac e da vacina de Oxford.

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