O presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), João Martins, o superintendente técnico, Bruno Lucchi, e a superintendente de Relações Internacionais, Lígia Dutra, apresentaram nessa terça-feira o balanço 2020 e as perspectivas 2021 para o agronegócio brasileiro.
A pandemia trouxe reflexos na atividade, com aumento nos custos de produção devido a alta na taxa de câmbio. Ainda assim, o saldo foi positivo para o agronegócio do país, avalia a entidade.
De acordo com João Martins, foram mantidos os acordos com mais de 170 países e cumpridas às metas de exportação. Em termos gerais, o Agro teve o segundo maior aumento nos empregos criados, atrás apenas da construção civil. Foram mais de 102 mil vagas criadas de janeiro até outubro. E a participação do agronegócio no Produto Interno Bruto (PIB) teve avanço. Pelo Valor Bruto da Produção (VBP), o crescimento foi de 17,4% em relação a 2019.
De acordo com a CNA, os bons preços dos produtos agropecuários influenciados pela exportação e pelo dólar em alta não refletiram diretamente em ganhos aos produtores. Segundo a entidade, só 1% dos produtores de soja conseguiu comercializar o cereal no maior preço praticado no ano (R$ 156 a saca – preço médio foi de R$ 70); 6% venderam arroz em alta (R$ 104 a saca – preço médio vendido foi de R$ 52).
Já a pecuária de corte e leiteira tiveram aumento de custos de produção que superaram os ganhos. “O custo aumentou severamente para essas cadeias, o que dificultou arrancada do setor. A maioria dos produtores está recuperando perdas”, ressalta o superintendente Bruno Lucchi.
Expectativas e desafios
As projeções da CNA para 2021 indicam aumento de 3% do PIB do agronegócio (R$ 1,8 trilhões) e de 4,2% no VBP (R$ 941 bilhões), além de queda nos preços dos alimentos aos consumidores e maior demanda do mercado externo.
“Vamos atingir 300 milhões toneladas de grãos (4,3% de aumento), um novo recorde, mas que poderia ser ainda maior se não fosse a questão climática. Os produtores de soja, milho e algodão estão com 50% da próxima safra vendida e conseguiram amarrar receita e custos. Porém, para os demais produtores, não há esta sinalização devido ao aumento de custos, como é o caso da pecuária de corte, do leite e hortaliças, por exemplo”, projeta Bruno Lucchi.
Apesar das perspectivas mais positivas, o cenário continua desafiador e dependerá do controle sanitário, da retomada econômica e das reformas tributária e administrativa para, principalmente, reduzir o endividamento do Brasil que já alcançou 96% de comprometimento.
“A cada dez dólares exportados pelo Brasil, cinco foram do agronegócio”
No mercado internacional, resultados positivos conforme análise superintendente de Relações Internacionais da CNA, Lígia Dutra. De janeiro a outubro, o país bateu recorde histórico ao exportar 85,8 bilhões de dólares, aumento de 5,7% no valor e 12,4% de volume.
“A cada dez dólares exportados pelo Brasil, 5 foram do agronegócio”, ressaltou Lígia Dutra ao destacar a soja como carro-chefe, com 58% das exportações. A China é o principal parceiro comercial, com a fatia de 30,8 bilhões de dólares, maior que a soma dos outros quatro destinos: União Europeia (13,7), Estados Unidos (5,6), Japão (2,1) e Coreia do Sul (1,8). “Esses cinco destinos respondem por 63% das exportações do agro brasileiro em 2020”.
O Brasil também registrou aumento nas exportações no ano para a China, Indonésia, Tailândia, Turquia e Venezuela, porém teve queda concentrada para os Estados Unidos, México (-492 milhões de dólares em ambos) e Irã (-1,6 bilhões). Os números, segundo Lígia, mostram a importância do aumento do mercado asiático para o país. A superintendente também informou que para 2021 a previsão da Organização Mundial do Comércio (OMC) é de retomada de mais de 7% na comercialização, o que traz otimismo ao setor.