Sociedade doente

Opinião

Adair Weiss

Adair Weiss

Diretor Executivo do Grupo A Hora

Coluna com visão empreendedora, de posicionamento e questionadora sobre as esferas públicas e privadas.

Sociedade doente

Lajeado

Você conhece alguém que nunca desliga? Ou você próprio é daquelas pessoas que está sempre fazendo algo, não tira o dedo do celular para saber o próximo recado do Whatsapp ou de qualquer outra mensagem? Quer saber tudo que acontece e não desliga nunca?

Fazer isso durante o dia inteiro no trabalho já é um exagero, imagina quando estamos em casa, momento que deveria servir para o descanso e espairecer com a família ou com nosso ambiente interior.

Pois acredite, sobram estudos para comprovar que os seres humanos estão cada vez mais atucanados e “aprisionados”, especialmente, pelo aparelho celular que virou a “extensão do corpo”. Mas, não apenas o celular pode nos atormentar. Outros aparelhos ou tarefas repetitivas, igualmente, tiram nossa percepção sobre a necessidade de desligarmos.

Estar On durante o dia inteiro, e estender esta conexão noite adentro, inclusive, em fins de semana, tende a trazer reflexos negativos inimagináveis. Os especialistas são unânimes em alertar a população sobre um fenômeno crescente na era digital e neste cotidiano conturbado atual: a SPA – Síndrome do Pensamento Acelerado.

SPA é uma perturbação da mente repleta de pensamentos, cheia e ocupada o tempo todo. Quando acomete o ser humano, ela dificulta a concentração, aumenta a ansiedade e desgasta nossa saúde física e mental. Além de debilitar nossa capacidade de raciocínio e trazer comportamentos “robóticos”, o excesso de estímulos durante o dia causa inúmeras outras consequências.

Existe vasta bibliografia e estudos sobre a SPA. O escritor Augusto Curi desenvolveu, inclusive, uma teoria que denomina de Inteligência Multifocal. Em seu livro traz uma espécie de “antídoto” para a falta de concentração e explica os motivos que levam as pessoas a não dominarem seus pensamentos e sua psique.

Voltando à SPA, importante esclarecer que ela não tem relação com o conteúdo dos pensamentos, sejam eles positivos ou negativos. Eles têm haver com a quantidade e a velocidade dos pensamentos recebidos e processados pelo nosso cérebro.

Normalmente, esta síndrome surge quando a pessoa se mantém atenta, produtiva e sob pressão, constantemente, sem trégua ou pausa. Necessariamente, não tem haver com algo negativo. A pessoa pode gostar ou amar as tarefas. O problema é a repetição e o fato de não descansar, não desligar, estar sempre “conectada”.

O cérebro precisa de descanso. Após um dia estafante, chegar em casa, desligar o celular, evitar a TV, e ficar hermeticamente em contato consigo mesmo é o bom exercício para a SPA. Um livro esclarecedor sobre o assunto pode auxiliar. O problema começa quando sequer percebemos nossa condição.

Os reflexos negativos da SPA vão muito além da falta de concentração. Nos trazer irritabilidade, cansaço excessivo, insônia, lapsos de memória, além de sintomas psicossomáticos como dor de cabeça, queda de cabelo, gastrite e vários outros problemas. O pior de todos é a sensação de que as 24 horas são insuficientes para fazer “tudo” o que está pela frente.

Estudantes, professores, executivos e profissionais da saúde eram os mais afetados até pouco tempo. Na era atual, não existe idade, gênero e nem classe social ou profissão que não experimenta em algum momento da vida esta síndrome. A pressão pode existir até mesmo sobre alguém que não trabalha ou trabalha pouco. O problema é a quantidade de estímulos e conteúdo “enfiados” no cérebro.

Redes sociais são altamente contaminadores e responsáveis pela SPA. Submeter o cérebro ao bombardeio de informações a todo instante, sejam boas ou ruins, é o grande risco. O resultado é que além de ter uma grande quantidade de informações na mente, o pensamento tem se tornado cada vez mais acelerado, sendo mais difícil gerir as emoções associadas a cada situação.

O diagnóstico dessa síndrome é feito pelo psicólogo ou psicanalista com base nos sintomas e relatos da história que a pessoa apresenta, mas a pessoa também pode responder a um questionário para ajudar a identificar essa síndrome mais rápido.
Algumas dicas são recomendadas para não cair nesta armadilha: estudar ou trabalhar com música relaxante, sons da natureza ou música clássica, por exemplo; evitar as redes sociais em excesso e disciplinar o uso, principalmente à noite; e conversar com amigos, familiares ou colegas sobre o assunto. Qualquer uma destas dicas pode despertar o indivíduo antes de piorar o problema.

Ignorar este fenômeno crescente no planeta pode nos levar ao abismo. Não é exagero dizer que a era atual converge para a SPA no trabalho, em casa e no lazer. Quando avançada, a pessoa já não se dá conta, pois dificulta a reflexão, a capacidade de criar, inovar e até a vontade de viver.

Uma vez instalada no cérebro, a síndrome bloqueia a memória, dificulta a empatia e a capacidade de lidar com perdas, reconhecer erros e refletir sobre eles.

Enfim, o cérebro necessita do ócio em determinados momentos. Por isso, se conectar consigo mesmo, em ambiente hermeticamente fechado, é uma excelente recomendação. Do contrário, corremos o risco de encurtar a qualidade física e emocional da nossa vida útil.

Acompanhe
nossas
redes sociais