Idiocracia nas redes se alastra na vida real

Opinião

Adair Weiss

Adair Weiss

Diretor Executivo do Grupo A Hora

Coluna com visão empreendedora, de posicionamento e questionadora sobre as esferas públicas e privadas.

Idiocracia nas redes se alastra na vida real

Lajeado

Em 2017, escrevi uma coluna sobre a sátira americana, Idiocracia – A Vida Imita a Arte, disponível na internet. Na ocasião, discorria sobre a ignorância e o radicalismo reinantes na era atual. O filme sugere a decadência humana até 2500, quando o ser humano será um completo idiota, incapaz de raciocinar ou fazer simples interpretações. Nele, os personagens são humanos alienados e robóticos, comandados por um líder completamente transtornado, doido. O filme causa uma energia estranha quando assistido, mas permite reflexão e uma boa analogia, guardadas as proporções, com o avanço atual da “idiocracia” coletiva, ainda mais quando tentamos acompanhar as redes sociais. Faz apenas três anos que escrevi o texto, mas o cenário piorou bastante. Certamente, não levaremos 500 anos para chegar ao estado deplorável do filme, a continuar esta escalada sem noção.

A sociedade insiste em avançar com a intolerância e o desrespeito. O reflexo é a falta de empatia entre os seres humanos, violência por razões banais, egoísmo e apego por causas quase fúteis, ou ainda, movimentos que criam uma sensação de utilidade, quase numa auto-sabotagem.

Há poucos dias me vi estreito em uma discussão sobre animais e seres humanos. Foi um sábado, lindo de sol. Mas não consegui calar quando escutei que “um animal merece mais respeito e cuidado que um humano”. E mais: “que num eventual acidente, a preferência de salvamento seria SEMPRE para o animal. Por que o ser humano é um bicho ruim, do mau”, exclamaram em minha volta, tentando me convencer que deveria pensar igual.

Senti um soco no meu estômago. Respirei fundo e perguntei: “se a tua mãe e o teu cão de estimação precisassem de socorro, quem tu salvaria, se tivesses de optar?” Pronto, arrumei confusão…

A resposta à minha pergunta não veio. Mas em seu lugar, uma tentativa de desqualificar meu questionamento, em alto tom e raso argumento de que esta pergunta é “jogo baixo”. Foi só o que veio, além de outras queixas sem fundamento.

Tentando estabelecer empatia, fiz uma afirmação contundente: “se a tua mãe e o meu melhor animal de estimação estivessem em perigo, eu sempre salvaria a tua mãe, mesmo que nunca tivesse a conhecido”. Após alguns segundos de silêncio, nova tentativa para invalidar meu argumento.

Realmente, naquela tarde meus argumentos não teriam eco naquele espaço. Aliás, eu era apenas um contra três. O fixo preconceito reinante de que “o ser humano é insano” e que os animais são “bichinhos indefesos’, me forçou aquietar e apenas ouvir.

Compartilho esta história com os caros leitores para encontrar empatia entre os mais sensatos. Me preocupa a insanidade sem freio das pessoas que tentam encontrar justificativas evasivas, sem ao menos considerar uma segunda opção.

E o que foi a repercussão extremada de ambos os lados acerca do homem assassinado no Carrefour, em Poa? Opiniões tolas e egoístas, rasas e sem o menor fundamento se espalharam pelas redes igual pólvora. Cada um tentando convencer ou justificar seus pensamentos extremos, ora com superficialidades ou ideologismos falidos, sem o menor cabimento.

Nós, seres humanos, parece estarmos tentando nos redimir da falta de responsabilidade e compromisso para com nós mesmos: os seres humanos. Criamos causas e movimentos para justificar nossa omissão e indiferença com aquilo que, verdadeiramente, poderia dar sentido ao convívio humano. Nos escondemos atrás de “causas” “bonitas e sensíveis”, mas que pouco ou quase nada contribuem para resolver o cerne do problema.

Por último, remeto a reflexão ao uso das redes sociais. Legiões de pessoas manipuladas pelos algoritmos, permitindo uma alienação robotizada nunca antes vista na história da humanidade. Ainda que muitos pensam dominar a ferramenta, mal se dão conta que a tecnologia robotizada entrega mais do mesmo, criando um pensamento seletivo e cada vez mais orientado a uma ideia fixa. E o efeito manada se agiganta, sempre mais.

É por isso que a vociferação de absolutismos como de esquerda contra direita, negros contra brancos, ricos contra pobres ou gays contra héteros, ganha escala. Nunca esquecerei da atriz Regina Casé, durante o último Festival Internacional de Publicidade em Gramado, quando conclamou os jovens a “colocarem abaixo os algoritmos” para viverem suas vidas “fora dos guetos das redes sociais”. Os aplausos soaram como um coro. Foi então que imaginei que venceríamos esta “praga” que aproximou, mas dividiu as pessoas.

Passados quatro anos, nada parece ter mudado. Só piorado.

Enfim, ainda assim, termino com a mesma convicção expressada naquele sábado, ao me despedir do embate relativo aos humanos e animais: não consigo perder a esperança nas pessoas. Minha luta será sempre por seres humanos melhores. Em primeiro lugar, meu esforço será ao encontro dos humanos, pois, uma sociedade melhor cuidará mais dos animais, será menos preconceituosa, menos machista, mais humana. E não o contrário.

Eis a luta: discordar e questionar o que parece o novo normal!

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