Não foram poucas as vezes nas quais escutei alguém falando que determinada pessoa conseguiu algo por mera sorte, como se ela não tivesse mérito algum sobre a conquista. No julgamento precipitado e influenciado pela lente da percepção de cada um, as vitórias podem parecer fáceis. Mas no contexto da vida real, sabemos que existe uma condição básica para que as coisas aconteçam de fato: o estado de prontidão, que significa estar-se pronto para que algo aconteça.
Nesse sentido, prontidão pode ser entendida como uma situação a partir da qual se encontram conhecimento, capacidade e merecimento, mas, acima de tudo, esforço para alcançar uma meta. Temos a tendência de ver o que está aparente e manifesto, deixando de levar em conta as dificuldades latentes e esperadas da vida, já que a natureza não dá saltos e que a verdadeira aquisição presume constância, disciplina e evolução. Ou seja, uma construção de habilidades que capacitam e legitimam o lugar a ser alcançado.
Nossa sociedade hoje é extremamente imediatista, e as novas gerações possuem muita dificuldade em lidar com a frustração advinda desse longo caminho de construção pessoal. Zygmunt Baumann, sociólogo e filósofo polonês, autor de inúmeros livros, comenta no seu best-seller, “Modernidade Líquida”, que as pessoas não têm mais visão de longo prazo, sendo impulsionadas pelo resultado instantâneo.
Desistem rapidamente ao primeiro obstáculo. Realmente nos tornamos uma civilização afastada do modo natural de viver, no qual paciência, resiliência e constância acabaram por se perder no vácuo dos acontecimentos, até sermos despertados por uma pandemia que nos fez desacelerar e escutar nossa voz interior. E estar pronto também quer dizer estar consistente e robusto, no sentido de permanecer ao longo do tempo diante de tantas ofertas fugazes e com pouca propriedade.
Dessa forma, conquanto possamos imaginar que basta um pensamento positivo para superarmos os fantasmas internos que exigem profundidade de análise, assim também devemos entender que nos construímos através de um processo longo de crescimento.
Tal qual as árvores precisamos de raízes fortes para nos sustentarmos diante do primeiro vendaval, porque a força e a qualidade estão no processo, não no resultado. Assim, poderemos dizer que nunca foi sorte, sempre foi empenho.