A bandeira, a vacina e a nossa  RESPONSABILIDADE

Opinião

Fernando Weiss

Fernando Weiss

Diretor editorial e de produtos

Coluna aborda política e cotidiano sob um olhar crítico e abrangente

A bandeira, a vacina e a nossa RESPONSABILIDADE

Lajeado

Os casos de covid voltaram a subir. E é bem provável que continuarão. Sempre depois de grandes eventos que promovem aglomerações – leiam-se feriadões –, os números disparam uma ou duas semanas depois. De fato, estamos negligentes. É só olhar às ruas, conversar com as pessoas e perceber o comportamento.

As festas das vitórias nas eleições terão consequências, podem anotar. Mas seguimos.

Vivemos em meio à pandemia faz 8 meses. Já estamos bem mais informados e cientes do comportamento do vírus do que em março, quando, vamos combinar, parecia que o mundo acabaria. Isso não significa desmerecer ou ignorar as milhares de pessoas planeta afora que ficaram no meio do caminho em função do coronavírus.

Ainda que tenhamos uma forte onda nesta reta final do ano, precisamos ser assertivos nas medidas. Fechar comércio, indústria, escolas já não pode ser o remédio. Aliás, lamentavelmente muitas escolas sequer voltaram às aulas presenciais e as consequências dessa decisão equivocada amargaremos nos próximos anos. Mas o assunto não é esse.

Usar máscara, atentar aos protocolos sanitários, sem aglomerações, sem compartilhar chimarrão, sem festas. Isso sim. De resto, vida que segue, sem nos iludirmos que o vírus sumiu ou que ele perdeu a letalidade. Vamos aumentar a vigilância, voltar aos cuidados do início, respeitando o vírus, tendo comportamento responsável para proteger, sobremaneira, o grupo de risco. É pelo grupo de risco que todos precisamos nos cuidar.

Vem logo

Russa. Chinesa. Americana. Brasileira. Ou até paraguaia. Se a vacina para a covid-19 tiver a chancela dos órgãos de saúde – os mesmos que validaram as dezenas de vacinas que todos nós tomamos – tomara que ela venha logo.

É promissor assistir pela televisão 120 mil doses da vacina CoronaVac, da chinesa Sinovac, desembarcando em São Paulo, cuja vacina demonstrou capacidade de, em 97% dos casos, produzir resposta imune no organismo. Além disso, outros laboratórios anunciando imunizantes em avançado grau de testagem e eficiência.

A confiança de que, nos próximos meses, será possível começar a imunização, no entanto, não deve servir de desculpa para negligenciar cuidados como distanciamento social, hábitos de higiene e uso de máscara. O vírus circula com força renovada nas últimas semanas. A quantidade de casos, internações e mortes voltou a subir no país. Sem responsabilidade coletiva e individual, o preço pode ser um sofrimento ainda maior até o dia em que todos poderão receber a sua dose. E não importa a cor da bandeira. A maior bandeira deve ser a saúde de todos nós.


“Eu tenho um sonho”

Somos uma sociedade racista. Sustentar o contrário é alimentar um discurso negacionista de que somos racistas. A primeira tarefa para mudarmos – e isso vale para tudo na nossa vida – é aceitar e admitir que somos sim, racistas.

A barbárie que levou Porto Alegre para as manchetes policiais do mundo inteiro é o retrato de uma sociedade racista.  João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, poderia ser branco e ter sido vítima das mesmas agressões fatais. Mas não foi. Era negro. E não se trata de um fato isolado. Casos como de George Floyd, 46 anos, asfixiado por policiais brancos em Mineápolis, Estados Unidos, ou de João Pedro, 14 anos, baleado dentro de casa, em São Gonçalo, Rio de Janeiro, comprovam que a barbárie registrada no Carrefour não é mera fatalidade.

É preciso reagir. A sociedade toda precisa reagir. Primeiro admitir que é racista e, a partir disso, mudar postura e comportamento. Depois, reavivar o discurso de Martin Luther King Jr., em 1963, nesta que foi até hoje a maior convocação por igualdade racial no mundo. Entre as frases mais marcantes proferidas diante de 250 mil pessoas em Washington, o maior líder dos direitos civis da história dos Estados Unidos, declarou: “eu tenho um sonho”, referindo-se à igualdade de raças, cores, gêneros. Passados 57 anos, seu sonho continua retratado em pesadelos como o de Porto Alegre, registrado em 20 de novembro de 2020.

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