Oficialmente nesta sexta-feira, 20, é celebrado o Dia da Consciência Negra. A data, que marca a morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, remete à luta contra a discriminação racial e por mais direitos à população negra.
Em alguns espaços, a participação dos negros cresceu nas últimas décadas. Mas ainda há discrepâncias, como no meio político. No Vale, que tem um baixo percentual de população negra, a presença na política também é ínfima, a julgar pelos resultados das urnas no último domingo.
Dos 358 vereadores eleitos, apenas três são negros: Claudir Agostinho Damásio (MDB), de Coqueiro Baixo; Paulinho (MDB), de Roca Sales, e Maria do Carmo da Silva Santos (PDT), em Taquari. Ao todo, foram 60 candidatos.
Já nas eleições majoritárias, onde sequer haviam candidatos negros na cabeça de chapa, dos dois postulantes a vice-prefeito, um acabou eleito: Paulo Lima, em Putinga. Porém, ele corre o risco de nem tomar posse, já que a chapa foi indeferida pela Justiça Eleitoral. A coligação recorreu e a decisão deve sair nos próximos dias.
Dívida histórica
A baixa representatividade negra na política regional, para a historiadora e doutoranda, Karen Daniela Pires, encontra explicações no passado. Ela lembra que, em outras áreas, também há poucos negros ocupando posições de destaque.
“Por que eles não estão como vereadores e prefeitos? É porque se tem uma dívida histórica muito grande. Para entender o contexto da pouca participação dos negros na política, temos que olhar para o passado. Não é falta de vontade deles, e sim que as oportunidades são desiguais. Estamos em uma região que se considera branca e pouco valoriza a cultura negra”, salienta.
Karen é uma das palestrantes de hoje, na 3ª Kizomba, em Lajeado, evento que marca as celebrações do Mês da Consciência Negra. Em live, falará sobre “O sujeito negro no contexto histórico de Lajeado e região”, com Gilson dos Anjos, no IFSul.
O evento é realizado pelo Centro de Cultura Afro-Brasileira de Lajeado, Grupo Capoeira Oxóssi e Grupo de Cultura Afro-black, com apoio da prefeitura, IFSul, Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas, Grupo de Pagode Santa Malícia, e Univates.
Comprometimento com a causa
Para Anjos, é importante que os candidatos negros eleitos também tenham comprometimento com a luta por mais direitos. “A região carece de pessoas que sejam militantes da causa, da defesa da população negra. As pessoas não podem ser preteridas pela sua cor de pele, e sim pela personalidade”, salienta.
De acordo com Anjos, Lajeado, maior cidade do Vale, teve um número ínfimo de candidatos negros, sendo que um deles foi alvo de comentários racistas. “Teve pessoas que afirmaram que não votariam numa chapa porque o candidato a vice-prefeito era negro. Fazendo isso, não estava discriminando apenas o candidato, mas também todos os negros”, lamenta.