A eleição dos “pets”

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

A eleição dos “pets”

Vale do Taquari

O pleito de 2020 mostrou um comportamento curioso do eleitor no Vale do Taquari, e também em regiões próximas. A entrada de políticos ligados à causa animal chama a atenção. Em Lajeado, um fenômeno. Ana Rita Silva Azambuja é a responsável pela ONG Apama, localizada no bairro Conventos, e considerado o principal espaço de acolhimento de animais abandonados e vítimas de maus tratos em toda a região. Ela é a vereadora mais votada da história do município. Ela conquistou impressionantes 1.740 votos.

“Ana da Apama” é a consolidação local de uma tendência mundial: o amor pelos “pets”. E essa ligação cada vez maior entre humanos e animais domésticos invade rapidamente a política. Em Estrela, Tiane Cagliari (PV), presidente da AEPA, uma outra ONG que cuida de animais abandonados e vítimas de maus tratos, também recebeu apoio maciço do eleitorado e garantiu uma vaga na câmara legislativa local. Ela concorreu pela primeira vez e foi a sexta mais votada. Em Santa Cruz do Sul, a vereadora mais votada, Bruna Molz (Republicanos), também é ligada à causa animal.


Cota de gênero

A polêmica Cota de Gênero já era uma preocupação do Ministério Público antes mesmo do início da campanha. Com a obrigação de inscrever no mínimo 30% de mulheres para concorrer à vereança, os partidos sempre enfrentam dificuldades para a composição desse quadro. Em Lajeado, o MP investiga o caso de uma candidata do PSB que finalizou o pleito sem votos. Há suspeita de que o nome dela tenha sido utilizado indevidamente para preencher uma lacuna. O partido nega.

É uma situação complexa. O ideal é termos uma diversidade natural de gêneros, sexos, cores e etnias em nossas câmaras legislativas, sem a necessidade de cotas ou obrigações para as siglas partidárias. Mas ainda há um abismo entre o ideal e o real neste aspecto. Em todos os 38 municípios, são 69 mulheres contra 289 homens eleitos vereadores. Na majoritária, só uma mulher eleita, na simpática Poço das Antas. É pouco. Nós precisamos de mais mulheres na política!


Abstenções

Três municípios do Vale do Taquari figuram na lista das 10 cidades do Brasil com menores índices de abstenções. Capitão, a segunda no país com apenas 3,3%, Vespasiano Corrêa, com 4%, e Canudos do Vale, com 4,2%. Por outro lado, só Westfália registrou queda neste índice entre todas as cidades do Vale do Taquari. Era uma situação prevista pelo TSE em função da pandemia. Mas é uma situação que, mesmo em proporções distintas, se repete a cada quatro anos. E isso é preocupante.


Um liberal

A Câmara de Lajeado movimentou um eleitorado novo. A presença de Alex Schmitt, advogado, empresário e ex-presidente da ACIL, deve mexer com alguns paradigmas do plenário lajeadense. Schmitt representa um perfil novo do empresariado local. É um perfil mais atento às políticas liberais na área econômica, e que até poucos anos atrás ainda restava distante do cenário político nacional. Entre as pautas já levantadas pelo quarto vereador mais votado neste domingo, um verdadeiro vespeiro local: a abertura do comércio aos domingos. Mas ele não deve parar por aí.


Eleições 2020

O maior partido político do país não comandará uma só prefeitura entre os seis principais municípios do Vale do Taquari. O MDB perdeu com candidatos a prefeito (a) em Lajeado, perdeu em Estrela, e também perdeu em Arroio do Meio. Em Encantado, concorreu a vice e também perdeu. Nessas respectivas cidades, as prefeituras serão governadas pelo PP, PTB, PP e PSDB. Já em Teutônia e Taquari, o comando geral será do renascido PDT.


Eleições 2020 II

Por outro lado, o MDB mantém a supremacia no número de total de prefeituras no Vale do Taquari. São 13 prefeitos eleitos, contra 11 do PP, cinco do PDT, três do PL, dois do PSDB, e um representante para PSL, DEM, PSB e PTB. O PT não elegeu um só prefeito. O último dos moicanos, Emanuel Hassen de Jesus (PT), o “Maneco”, atual prefeito de Taquari, fez campanha para o vice, André Brito (PDT), e não indicou um sucessor petista para a vaga.


Eleições 2020 III

Em Lajeado, uma das maiores vantagens no Estado. Marcelo Caumo (PP) atingiu impressionantes 71,2% dos votos válidos na cidade. Fez 29,7 mil votos. Mais do que duplicou o número de votos em relação ao seu primeiro pleito disputado em 2012, e ganhou quase 10 mil novos votos em relação a 2016. Por outro lado, Márcia Scherer (MDB) reduziu o seu eleitorado. No pleito passado, ela fez 13 mil votos. Dessa vez, não chegou a 10 mil. E Daniel Fontana (PSB) ficou no 4,8%.


Eleições 2020 IV

Eu errei. Escrevi que o PT de Lajeado poderia se posicionar publicamente a favor de candidato A ou B. Mas isso não ocorreu. Nos santinhos dos candidatos petistas, uma lacuna. Nas redes sociais e afins, silêncio. É um contingente alto de militantes fora da majoritária. Em 2012, Luís Fernando Schmidt (PT) ficou em terceiro lugar na disputa pela prefeitura. Mesmo assim, alcançou 12,7 mil votos. É um número expressivo. É mais do que Márcia Scherer e Daniel Fontana conquistaram, juntos, em 2020.


Eleições 2020 V

Em Teutônia, o atual prefeito Jonatan Brönstrup (PSDB) perdeu 1.055 votos em relação ao pleito de 2016. A frustrada busca pela reeleição ainda carece de análises. Naquela cidade, e historicamente, é tudo decidido “no detalhe”. Embora apertada, a vitória de Celso Forneck (PDT) é expressiva. É grandiosa. Ele conquistou 1.561 votos a mais em relação ao pleito anterior, quando foi derrotado por apenas 694 votos pelo mesmo adversário tucano.

Acompanhe
nossas
redes sociais