O açúcar não é o único vilão

Saúde

O açúcar não é o único vilão

Saiba como é a vida de quem convive com o diabetes

O açúcar não é o único vilão

Cansaço e perda de peso foram os primeiros sinais de uma grande mudança na rotina da designer de interiores Karine Coelho, 31. Logo após completar 15 anos, a jovem começou a sentir alguns sintomas. “Eram férias e lembro de estar no litoral e não ter vontade de aproveitar. Só dormia, bebia muita água, urinava e voltava para cama”.

O comportamento da adolescente, antes muito ativa, despertou a preocupação dos pais. Ao retornar para casa, a família buscou atendimento médico. “Achavam que eu estava com depressão”. O diagnóstico, no entanto, era o diabetes.

“Lembro da minha mãe chorando e eu sem entender, afinal minha vó era diabética desde que me lembrava, toma apenas um remédio e sempre viveu tranquilamente. Foi quando o médico disse que eu precisaria fazer injeções todos os dias, para o resto da minha vida, que eu entendi que a coisa era séria”

Karine é portadora de diabetes tipo 1, uma versão autoimune da doença. O pâncreas não produz insulina, por isso, ela precisa aplicar a insulina que o órgão deveria produzir.

 

Rotina de cuidados

O tratamento começou com insulinas disponíveis pelo SUS, lembra Karine. A dieta era rigorosa, com doses de insulina fixas para cada refeição. Alguns anos depois, o endocrinologista trocou as insulinas por outras consideradas de melhor qualidade, uma de longa duração e aplicável uma vez ao dia, e outra para ser administrada três vezes por dia, antes das refeições, ou quando a glicose estivesse elevada, explica.

“Na época, eram as melhores disponíveis no mercado, então eram bem caras. Entrei com pedido judicial para recebê-las pelo estado e consegui”.

Há cinco anos, Karine decidiu procurar por um médico especialista na diabetes tipo 1 e hoje o tratamento é realizado com as mesmas insulinas, porém com o auxílio da contagem de carboidratos, o que permite que a jovem se alimente sem tantas restrições. “Aplico a dose correspondente a quantia de carboidratos do alimento sempre 15 minutos antes de comer”.

A tecnologia também é uma grande aliada do tratamento. Karine monitora a glicemia a cada hora com o Freestyle Libre, um aparelho que fica grudado no braço por 14 dias e mede a glicose em tempo real, sem precisar furar os dedos, e envia os resultados para um aplicativo no celular.

Assim como o aparelho, existem outras tecnologias que possibilitam efeito ainda mais imediato, como insulinas ultrarrápidas, a insulina inalada e a bomba de infusão de insulina, que simula um pâncreas artificial, explica.

O acompanhamento médico é feio por meio de exames clínicos há cada três meses. Alguns são realizados no próprio consultório médico, como o de sensibilidade dos pés.

Karine precisa ter uma rotina médica interdisciplinar preventiva, uma vez que a doença pode atingir outros órgãos além do pâncreas. Por isso, também realiza um check-up geral uma vez por ano.

 

Aceitação do diabetes

Karine conta que ainda tem dificuldade de aceitar o diabetes. “Com o auxílio da terapia entendi que não preciso aceitar, mas sim conviver com a doença da melhor forma possível. O interesse de me manter viva e saudável é meu, mas aceitar ser doente ainda é um pouco embaraçoso”.

A jovem costumava ter vergonha de contar que era diabética ou de administrar a insulina na frente de alguém. “Comentários como ‘minha vó morreu de diabetes’ ou ‘meu tio perdeu a perna por causa do diabetes’ me deixavam muito irritada. Hoje tento explicar da melhor forma possível e, quando perguntam o que é o aparelho no meu braço, explico e, no mais, dou risada”.

Para ela, além do avanço na tecnologia, é fundamental disseminar informação sobre a doença. “Passei anos da minha vida acreditando que o doce me mataria, sendo que o problema vai muito além de apenas o doce. O vilão, na verdade, é o carboidrato que vira glicose. Ou seja, mesmo não comendo doce, eu vivia com a glicose elevada”.

O segredo para um bom controle glicêmico nada mais é do que uma alimentação balanceada, atividades físicas e informação, considera.

 

Como prevenir e tratar o diabetes

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) afirma que o diabetes é uma das doenças não transmissíveis mais comuns na sociedade, acometendo 463 milhões de adultos em todo o mundo.

De acordo com o médico endocrinologista, Elton Fagundes, ela se caracteriza como uma alteração metabólica crônica causada pela falta de insulina no organismo ou incapacidade de ação deste hormônio produzido pelo pâncreas.

“O diabetes é traiçoeiro, pois boa parte dos pacientes, principalmente os diabéticos tipo 2, são assintomáticos”, explica Fagundes. Com isso, acredita-se que mais de 50% das pessoas acometidas pela doença não saibam que a possuem.

Existem vários tipos de diabetes, sendo os mais prevalentes e conhecidos o tipo 1 e tipo 2. O primeiro gênero, ao qual Karine trata, manifesta-se em pessoas jovens e caracteriza-se por uma doença autoimune das células beta pancreáticas. Neste caso, ocorre a falta da produção de insulina.

Já o diabetes tipo 2, como esclarece Fagundes, é quando há produção inadequada do hormônio ou o corpo possui resistência a ele. “Normalmente, estes pacientes conseguem se tratar com medicação. No primeiro caso, obrigatoriamente, as pessoas serão tratas com insulina”.

Questionado sobre os fatores de risco, o endocrinologista afirma que é importante analisar o histórico familiar. Mas o sedentarismo e o sobrepeso estão fortemente relacionados a doença, principalmente para os casos de tipo 2.

Com a evolução da medicina, cada vez mais os tratamentos estão individualizados. Hoje o mercado oferece uma variedade de insulinas e anti hiperglicemiantes orais e injetáveis. “Cada caso tem a sua especificidade. A gente avalia várias questões como a indicação da doença, questões econômicas e disponibilidade de acesso ao tratamento”, salienta Fagundes.

Para prevenir a doença, o médico recomenda a prática de atividades físicas, controle da alimentação e exames periódicos. Todo cuidado é importante, pois o diabetes pode gerar inúmeras complicações agudas e crônicas. O diagnóstico precoce pode auxiliar na reversão do quadro, mas a rotina do paciente é um dos fatores determinantes para o avanço da doença.

 

O diagnóstico

O diagnóstico de diabetes ocorre por meio do exame de glicemia, em jejum. Se o resultado for maior ou igual a 126, em dois episódios, a doença é confirmada. Nos casos em que a taxa de glicose fica entre 99 e 126, realiza-se o exame da curva glicêmica, também chamado de teste oral de tolerância à glicose, ou TOTG.

“A pessoa ingere uma dose de glicose e duas horas depois é realizado o exame. Se ele apontar o índice acima de 200, o paciente é diabético”, explica.

 

Dica da nutri

Um dos pontos importantes do tratamento da diabetes é a dieta. Conforme a nutricionista Daiane Weschenfelder, o primeiro ponto a ser observado é a ingesta calórica. Se o paciente estiver acima do peso, o recomendado é ajustar um plano alimentar para a redução.

Os carboidratos simples e de alto índice glicêmico são os vilões da alimentação de um diabético. Também existem frutas com teor de frutose alto que também podem alterar a glicemia também.

Porém, mesmo alimentos considerados “proibidos” podem ser consumidos eventualmente, se a glicemia estiver controlada e com a orientação de um nutricionista.

 

Alerta vermelho

  • Açúcares, como doces e chocolates.
  • Gorduras saturadas, como manteiga, bacon e pele de frango.
  • Carboidratos refinados, como alimentos a base de farinha branca.
  • Comidas consideradas dietéticas, que não contém açúcar, mas podem ter alto índice de carboidratos

 

Sinal verde

  • Ao invés de sucos, prefira a fruta in natura pois contém mais fibras
  • Prefira o leite desnatado, que possui menos gordura que o integral
  • Consuma legumes e verduras, pois garantem fibras, vitaminas, minerais e antioxidantes
  • Opte por grãos integrais, com maior teor de fibras, como chia, linhaça, quinoa e aveia

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