“Me deram uma grande chance na vida, de estudar”

Abre aspas

“Me deram uma grande chance na vida, de estudar”

O gosto por lidar com a terra o fez Elias de Marco, 64, escolher a formação de técnico em agropecuária. Função que exerce há mais de 40 anos, sendo 36 na Emater de Arroio do Meio

“Me deram uma grande chance na vida, de estudar”
Arroio do Meio
oktober-2024

Elias de Marco, 64, saiu do interior de Guaporé em busca do sonho de sempre trabalhar no campo. Morava em uma pequena propriedade, de cinco hectares, com os pais, Adele e Marcos de Marco Filho, e mais 22 irmãos, sendo 12 de sangue e dez adotados. Se produzia pouco e as dificuldades eram muitas, relembra. Ficar com a família não era uma opção. O gosto por lidar com a terra o fez escolher a formação de técnico em agropecuária. Função que exerce há mais de 40 anos, sendo 36 na Emater de Arroio do Meio.

• Por que escolheu trabalhar no campo?

É uma história muito forte, muito marcante. Tínhamos cinco hectares de terra. Meu pai e minha mãe tiveram 12 filhos e ainda criaram dez órfãos. Ao todo, tive 22 irmãos. Só por isso, dá para imaginar. Quando me perguntam de onde eu vim, sempre me emociono. Éramos muito pobres. A produção era pouca para sustentar tantas pessoas. Meus irmãos tinham de sair de casa muito cedo para trabalhar.

Alguns foram para fábricas, para trabalhos na cidade. Eu queria ficar no campo. Conversei com meu pai sobre o que eu pensava para o meu futuro e tinha um pessoal da minha terra natal que tinha saído para fazer cursos técnicos.

Lembro que o prefeito da época, lá pelos anos 70, era amigo do meu pai. Ele ia lá em casa conversar. Ele era engenheiro agrônomo e sempre falava da chegada da tecnologia. Que o campo teria de inovar e que produziria mais na mesma área. Aquilo foi me despertando para buscar conhecimento.

• Com tamanha dificuldade, como foi sair de casa e ingressar na escola técnica?

Eu tinha voltado do quartel e fui visitar a escola técnica Bom Pastor, de Nova Petrópolis. Era particular, e eu não tinha como pagar. Então, lembro que fui visitar e conversei com o diretor, o professor Afonso. Contei do meu desejo de trabalhar com a agricultura, de produzir conhecimento voltado ao campo. Então ele me inscreveu. Ganhei uma bolsa de estudos.

Me deram uma grande chance na vida, de estudar. Foi o que me fez ser alguém. Serei sempre grato a tudo que fizeram por mim. Só que além da mensalidade, eu teria que me sustentar. Então eu trabalhava, limpava pátio, ia para a roça. Trabalhava todos os fins de semana, os feriados, pois minha família não tinha renda para me ajudar. Tudo o que fiz foi com muito esforço e convicção.

Foram três anos sozinho lá. Mas fui muito bem recebido. Em pouco tempo estava integrado na comunidade de Nova Petrópolis. Treinava futebol, participava das atividades sociais. Tive a chance de conhecer muitas pessoas.

• O dia 5 de novembro foi o dia do Técnico Agrícola. O que representa esse trabalho para você?

A maior força do nosso país é o agro. Produzimos muitas riquezas e muitos alimentos. O Brasil, até 2050 será responsável por 50% da alimentação do mundo. É um setor de muitas oportunidades. Para conseguirmos chegar nessas metas é preciso conhecimento. O técnico, que vai lá, encontra o agricultor, conversa, é um multiplicador desses conhecimentos. Eu me sindo realizado, pois é uma atividade que não tem rotina. Eu visito desde agricultores pobres, até produtores que se tornaram verdadeiros empresários rurais, que usam tecnologias e fazem muitos investimentos. Como técnico, posso dizer, trabalhar na Emater é um sonho realizado, pois sou um defensor desse trabalho. Sinto que contribuímos muito para o desenvolvimento da nossa região, do nosso estado e do nosso país.

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