A cada cliente que se aproxima do caixa para pagar a fatura e retirar os medicamentos, a atendente repete, sem muita esperança a mesma pergunta: tem troco? A resposta é quase sempre negativa.
“A maioria dos produtos tem valores quebrados e a gente trabalha com muito desconto, então nosso troco sempre é quebrado”, afirma a gerente de uma farmácia no Centro de Lajeado, Frans Silva. Para garantir o troco, a equipe busca moedas em outros estabelecimentos. O estacionamento rotativo é fonte frequente dos procurados níqueis.
A falta de troco, e principalmente de moedas, é um problema crônico no comércio. As farmácias estão entre os estabelecimentos que mais sofrem com esta situação.
Menor circulação
A redução na circulação de pessoas e o crescimento das compras on-line em função da pandemia são um fator apontado por comerciantes para um agravamento da escassez nos últimos meses.
“Principalmente agora, que deu uma travada na economia, o pessoal está guardando mais em casa mais. Voltou aquele velho costume de guardar em um cofrinho.”, avalia o presidente da CDL Lajeado, Aquiles Mallmann.
Sem poder dar o troco exato, muitas vezes é preciso arredondar o valor para baixo. No fim do dia, a diferença é percebida na hora de fechar o caixa.
Em falta também nos bancos
Gestor de numerários de uma agência bancária da região, Fábio Kremer tem a tarefa de garantir notas e moedas. Ele afirma que, mesmo para os bancos, não está fácil.
“Isso é uma demanda geral, de Boqueirão do Leão a Cruzeiro do Sul. Todas as unidades têm essa necessidade. Questionei a maioria das agências e todas estão com falta, têm só para o uso do dia”, afirma Kremer.
Ele explica que a distribuição do dinheiro de papel e de metal é feita pelo Banco do Brasil. O Vale do Taquari é atendida pela central de Santa Cruz do Sul.
Para encomendar moedas, é exigido um pedido mínimo e o transporte envolve uso de carros fortes. “Para valer a pena, acaba sendo um volume alto. Às vezes, eles mesmos não têm”, diz.
“Errado é guardar no porquinho e esquecer que ele existe”
Carlos Giasson, economista e professor da Univates
• Economista defende que é possível manter hábito de economizar pequenos valores sem reter moedas nos cofrinhos.
• Por que faltam moedas no comércio?
Esse hábito que as pessoa têm de guardar elas, de não colocá-las em circulação explica um pouco. A facilidade da nota acaba fazendo que, de tempos em tempos, ocorra essa acumulação de moedas de metal. Outra situação é que desde o início do Plano Real, temos processo inflacionário e o dinheiro vai perdendo valor. Aquela moeda acaba valendo menos é menos interessante ainda de levarmos ela conosco. Acaba ocorrendo a falta. Ainda, o custo de produção às vezes é maior que o valor da moeda de fato. A Casa da Moeda produz muito pouco, apenas para repor o que foi perdido.
• Que impacto o hábito de reter moedas no “porquinho” tem na economia geral?
O principal impacto é a redução da moeda em circulação. Agora, não é errado guardar, o errado é guardar no porquinho e esquecer que ele existe. O interessante seria de tempos em tempos levar até um local e trocar, no banco ou no comércio.
• Quais outras saídas para economia de pequenos valores?
Uma das soluções seria botar um limite. Por exemplo, junta R$ 10 e deposita. Não espera juntar R$ 50 ou R$ 100, se não fica muito tempo parado. Outra alternativa seria fazer uma poupança programada e deixar as moedinhas para quando vai comprar o pão, vai ao mercadinho. E manter elas sempre visíveis para não esquecer que existem.