“Me disseram que meu currículo é muito qualificado, o que exigiria um salário elevado”. Essa foi a resposta recebida pelo especialista em manutenção, pós-graduado em engenharia e técnico em produção industrial, Luciano da Silva, 43, após participar da seleção em quatro empresas da região.
Com mais de 23 anos de experiência em indústrias, foi demitido na metade de agosto. “Estou no seguro-desemprego. Sempre fui controlado, tenho minhas economias. Por enquanto vou tentando entrar na função para qual tenho conhecimento. Mas quando a água subir e se aproximar do quadril, não há vergonha nenhuma em dar um passo para trás”, conta.
Esse recuo, diz, seria trabalhar em funções abaixo daquelas de supervisor ou responsável pela manutenção. “Me disponho a ganhar menos. Não há problema. Até em atividades diferentes da minha. Mas por enquanto, vou continuar tentando algo na minha área.”
O momento de instabilidade econômica faz com que as vagas disponíveis sejam para linhas de produção e serviços gerais, com menor necessidade de formação e, consequentemente, salários mais baixos, afirma o presidente da Câmara da Indústria e Comércio da região (CIC-VT), Ivandro Rosa. “Os empregos com maiores salários, para maior qualificação, esse vai demorar um pouco mais a ser retomado”, confirma.
Ainda que exista essa dificuldade para mão de obra formada, há uma tendência de retomada da empregabilidade. Os setores da indústria alimentícia e a construção civil puxaram o avanço na empregabilidade, enquanto o segmento calçadista amarga as maiores perdas.
Volta ao mercado
O comerciário Arthur Breyer perdeu o emprego nos primeiros dias de pandemia. Atuava em uma loja do Shopping Lajeado. “Fiquei vários meses sem conseguir trabalho. Entreguei muito currículo e não aparecia nada.”
Em agosto, foi chamado para três vagas, em uma concessionária de veículos, um posto de gasolina e uma loja no centro de Lajeado. Optou pela última. “É o local mais próximo da minha casa. Não precisaria de deslocamento.”
Esse movimento começou em agosto, com 380 vagas criadas. Foi o primeiro mês positivo desde março, quando a pandemia chegou à região.
Analistas acreditam que o que pior da crise causada pelo coronavírus tenha ficado para trás e que tendência para os próximos meses é de continuidade na geração de empregos formais.
A economista e professora da Univates, Fernanda Sindelar, realça: “ao que parece, as atividades econômicas vão retomando na nossa região. A produção das indústrias, o movimento no comércio. A tendência é de continuidade dessa ascensão para o fim do ano.”
Fernanda alerta para o risco da segunda onda de covid-19 na Europa. “Vivemos um período de instabilidade. A pandemia não acabou. O próprio mercado internacional mostra os impactos da volta das restrições em diversos países. Ainda teremos de enfrentar muitas dificuldades.”
Pela região
No fechamento dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o mês de setembro foi o melhor resultado do ano. Com mais de 1,4 mil postos de trabalho criados.
No acumulado do ano, de janeiro a setembro, ainda é preciso avançar, pois o Vale do Taquari está com saldo negativo na empregabilidade. Nos 38 municípios, foram extintos 1.385 postos de trabalho com carteira assinada.
Teutônia e Mato Leitão representam mais de 50% de todas as vagas fechadas. A similaridade entre as duas cidades está o ramo da indústria calçadista. A pandemia forçou a queda na produção e também resultou em menos exportações.