Observando o esforço da maioria dos brasileiros para não deixar o PIB despencar tanto assim devido à pandemia, apesar do estardalhaço de uma minoria com a covid-19 (a despeito dos malefícios econômico-sociais que podem provocar), dá uma alegria danada com este país e seu povo.
Mas aí, há duas semanas, fatos levaram-me à reflexão aflitiva, a qual não resisti em repartir com vocês. Primeiro, Ministro do STF liberta o líder do PCC, medida esta invalidada pouco depois, levando ao dispêndio de recursos públicos vultosos e à alocação de recursos humanos, na recaptura. E, apesar de confirmada a cassação da sua medida pelo plenário do STF, este ministro persiste em defender sua medida indefensável.
Depois, senador da República é flagrado pela Polícia Federal portando R$ 30 mil nas cuecas, parte, entre as nádegas, presumivelmente desviados de verbas do combate à covid-19. Operações desta natureza, da Polícia Federal, já teriam apurado o desvio de R$ 2 bilhões.
E, nesta semana, mais uma tentativa de desgaste do poder central – democraticamente constituído – maximizando, com meias verdades, um fato em que o presidente da República apenas exerceu a liturgia do cargo. Não abonou ato do ministro da Saúde que acordara com 24 governadores que a vacina Coronavac entraria no Plano Nacional de Imunização. Implicaria na compra de 46 milhões de doses pelo Governo Federal. É desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, com o Instituto Butantan, do governo paulista. A atitude do presidente teve um viés técnico e um político. Quanto ao técnico: como São Paulo pode assegurar o recebimento destas doses em dezembro, faltando a conclusão de fases da testagem e a liberação na Anvisa? Adicionalmente, já existe convênio da União, deste ano, com a universidade inglesa de Oxford, para recebimento de vacina que desenvolve em parceria com o laboratório Astrazeneca, da Suécia, e a Fiocruz, do Rio. Seu estágio de desenvolvimento, igual ao do Coronavac e com recebimento de 210 milhões de doses previsto em 2021. Quanto ao viés político da manifestação presidencial (não confiar no imunizante chinês, país onde surgiu o vírus e enxergar ardil no governador de São Paulo, seu opositor), normal. Seus antecessores também agiram sob este viés. Politicamente FHC articulou emenda constitucional de reeleição, favorecendo-se. Politicamente Lula investiu recursos brasileiros bilionários em obras de infraestrutura em outros países, porque ideologicamente alinhados a ele. Mas, nada disto, à época, estranhamente, foi tão repercutido.
Merecem nossa atenção acontecimentos que possam ser aproveitados por grupos minoritários para levar ao retrocesso político, à ameaça à democracia, ao declínio econômico-social. Visam unicamente o poder. O protagonismo deve ser nosso, a maioria que alavanca este país, na definição do Brasil que queremos.Um país: a) com liberdade de expressão (com responsabilidade) ou de um obscurantismo sem transparência; b) do respeito às instituições e à democracia, com alternância no poder, ou absolutista, dominado por poucos, que concentram a riqueza e socializam a pobreza; c) da livre iniciativa, economicamente ascendente e socialmente justo, ou, refém de poucos casuístas, levando a nação para uma derrocada com final imprevisível, mas, por certo, sofrida; d) de um povo com livre opinião e feliz, a uma massa manipulada por poucos e a serviço de alguns e) de um STF com mandato dos ministros delimitado ou a continuidade dos cargos vitalícios. Não há como continuar silente. O posicionamento há que ser tomado pelos que, de fato, são amantes deste país e do seu futuro. Senão, não adiantará lamentar-se depois.