O grupo musical formado pelos irmãos Gregory começou a se apresentar em uma época em que as bandas se deslocavam de charrete e no lombo de animais. Era década de 50 e não havia caixas de som ou sistemas de auto-falante. Todas as canções eram tocadas de forma acústica.
Arnaldo Gregory foi o mentor da banda. No início, tocava ao lado dos irmãos Armindo e Armando. Com o passar dos anos, a formação mudou com a entrada de músicos com outros sobrenomes como Mallmann e Johann.
“O kerb tinha que ser com o Gregory”, ressalta Enio Johann. Em 1968, ele foi o primeiro guitarrista da banda numa época em que o instrumento popularizado pelo rock ainda era desconhecido no Vale do Taquari.
“A vida é sempre assim”
Na década de 70, o ápice foi a gravação do primeiro disco. Segundo Johann, tudo começou quando um funcionário da Volkswagen gravou uma fita dos músicos da região. Esse material chegou até a gravadora Som Indústria e Comércio S/A de São Paulo, que compactuou em arcar com os custos de um disco, afirma Johann.
Todas as 12 músicas do álbum “A vida é sempre assim” eram covers. A regravação mais famosa foi “Multidão”. Isso porque o dobrado de Odilon Nascimento passou a tocar na Rádio Farroupilha
de Porto Alegre.
Filho de Arnaldo, Mauro Gregory também participou da gravação. Conforme ele, o disco abriu as portas para os clubes do Vale do Caí e parte da Serra Gaúcha. “Era raro a banda ficar um fim de semana sem tocar”, relembra.
Entre os eventos marcantes, Mauro se recorda de um baile de chope que lotou o Centro de Reservistas de Santa Clara no verão de 1977. De forma negativa, fala sobre outra apresentação em Maratá que terminou mais cedo em função de uma briga generalizada. Os músicos tiveram de se esconder atrás das caixas de som.
Para Johann, um dos fatos marcantes foi a gravação de propaganda para um shopping de Porto Alegre. Essa foi a primeira vez que os músicos apareceram na televisão.
Nomes que não deram certo
Muitas variações do nome Gregory foram utilizadas durante os anos. Iniciou como Jazz, mas também foi Orquestra e finalizou como Banda.
Na década de 70, a nomenclatura mudou drasticamente e o Gregory passou a se chamar Alcione. A alteração que durou poucos anos ocorreu após um empresário doar uma bateria para o grupo musical. Em troca, pediu para a banda homenagear o filho adotando seu nome.
Por alguns anos, o Gregory também se chamou Ritmo Harmonia e Melodia (RHM). Entretanto, Mauro destaca que os admiradores da banda ainda se lembravam do antigo nome, o que motivou o retorno do Gregory.
Fim do show
Com a aposentadoria próxima de Arnaldo, os filhos Mauro e Jaime resolveram mudar de estilo, aproveitando a ascensão de bandas de pop rock como Titãs, Paralamas do Sucesso e Barão Vermelho. Em 1984, o Gregory se transformou na Renascença. Em função de questão pessoais, a banda encerrou as atividades em 1991. O último show foi na Ocktoberfest de Santa Cruz do Sul.
Musical Aquarela
O sucesso relâmpago na Argentina e uma quase apresentação em rede nacional. Esses foram fatos que marcaram a passagem de Johann pelo Musical Aquarela – banda que iniciou na década de 80 e segue até hoje em atividade.
Johann foi para o Aquarela em 1986, meses em que o grupo musical trabalhava para o lançamento do primeiro disco chamado “Pensando só em você”. Além de Johann, a banda da época era formada por Silvio Staffen, Nicolau Arenhardt, Ruben Dietrich, Dorival Stumm, Nilo Lammers, João Lenhardt, Lotário Kuhn e Gilberto José Altenhofen, o “Beto”.
Das 12 canções, a maioria eram autorais. A música que mais repercutiu nas rádios locais e da região metropolitana foi a “Coração sofredor”, de autoria de Beto.
Entre os shows marcantes, Johann se recorda de um baile no antigo salão Joriz de Arroio do Meio. A apresentação ao lado da banda Loirinhas de Ouro lotou a casa de festas e parte do público teve de ficar fora.
Famosos na argentina
Nas décadas de 80 e 90, o Aquarela tocou, pelo menos, três vezes nas cidades argentinas de Leandro Alem e Posadas. Uma delas foi em um baile de chope organizado pela cervejaria Quilmes.
Para promover o evento, a banda participou de uma entrevista na televisão argentina, situação que gerou status de estrela no país vizinho. “A gente não conseguia andar na rua. Éramos escoltados pela polícia na ida aos clubes para evitar tumultos”, relembra.
Embora a fama seja desejada, Johann classifica esse assédio como ruim e afirma que as passagens pela Argentina acabaram se tornando caóticas. “Ficou chato, a gente queria andar livremente e não podia”, comenta.
Quase sucesso nacional
O Aquarela podia ter se apresentado no Programa do Ratinho. Conforme Johann, a banda foi cogitada para estar em rede nacional no SBT. Só que o empresário na época deixou de entrar em contato após interesse da produção do programa. “Essas oportunidades só apareciam uma vez. Se não mostrasse interesse logo, nunca mais”, pontua.
Outra oportunidade que o Aquarela teve de deslanchar em âmbito nacional foi quando a banda recebeu convite para tocar em uma feira de Espírito Santos. Seria o local mais longínquo que o grupo teria se apresentado até a década de 90.
Conforme Johann, os músicos já tinham agendado show em um clube de Santa Cruz do Sul. Até tentaram mudar a data, sem sucesso. “A gente não queria trocar o certo pelo duvidoso, mas se tivéssemos ido bem no Espírito Santos, talvez poderíamos ter estourado”, comenta.
Mesmo sem ter conseguido o reconhecimento nacional, Johann afirma não haver ressentimentos na carreira que durou mais de cinco décadas. Ter estabilidade financeira e uma vida
tranquila já foram sinônimos de sucesso, conclui.
A nova Aquarela
A banda segue em atividades até hoje, mas com uma composição muito diferente do passado. Nestor Paulo Lang é o músico mais antigo e está no Aquarela desde 1994. Os demais integrantes se juntaram à banda a partir de 2012.
Conforme Lang, investimentos na infraestrutura e qualidade do som são diferenciais do Aquarela de hoje em comparação ao passado. O grupo também conquistou mercado em mais regiões do RS e tem músicas tocando no Paraná e Santa Catarina.
Mesmo em meio à pandemia, o Aquarela lançou uma nova canção chamada “Coração coraçãozinho” e já tem participações em eventos programados para 2021.
Banda Harmonia
Heinz Rockenbach, 52, é conhecido no setor comercial e até já foi presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Lajeado. Só que antes de se tornar um empresário bem sucedido, também se aventurou no ramo da música ao integrar a Banda Harmonia.
O grupo também era composto por Dário e Jair Sebastiani, Paulo Halmenschlager, Jacó Ulsenheimer (Pedro Klain), Irineu Schmitz, Irineu Scheibler e Eugênio Schwing.
A primeira apresentação ocorreu em 1988, num casamento em Cruzeiro do Sul. “Me lembro de ter dado um frio na barriga”, comenta Rockenbach. Em pouco tempo, os músicos estavam tocando na maioria dos municípios do Vale do Taquari e Rio Pardo.
Uma apresentação marcante para Rockenbach foi registrada em Arroio do Meio. A Banda Harmonia abriu o show do Mercado Municipal, mas o ônibus que transportava os instrumentos da atração principal atrasou. Assim, por alguns minutos os dois grupos dividiram o palco.
Em 1995, Rockenbach enfrentou um dilema profissional. Estava em dúvida entre investir mais na banda e gravar um CD ou voltar as atenções para o comércio próprio. Acabou escolhendo a loja. Poucos anos depois, o Harmonia encerrou as atividades.
Embora tenha participado da banda apenas sete anos, o empresário destaca que a experiência foi marcante. Até hoje, ainda se recorda com saudades dos ensaios das quintas-feiras em Picada Santa Clara e dos anos em que se apresentava nos palcos da região.