Inflação de setembro é a maior em 17 anos

Preços em alta

Inflação de setembro é a maior em 17 anos

Carnes, arroz, leite e óleo de soja impactam sobre o orçamento das famílias. Conforme dados do IBGE, tendência é de continuidade no aumento dos preços para outubro, em especial com o reajuste da gasolina

Inflação de setembro é a maior em 17 anos
(Foto: Divulgação)
Brasil

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, teve alta de 0,64% em setembro. É o maior índice para um mês desde 2003, aponta o IBGE. Pelos dados divulgados na sexta-feira, 9 de outubro, em 12 meses, o indicador teve avanço de 3,14%.

Passa pela desvalorização do real no mercado global, o aumento nos custos de produção e a demanda do consumidor abaixo do previsto. Esse descompasso foi provocado pela pandemia e também da seca que castigou o sul do país entre o fim do ano passado e os primeiros meses de 2020.

O avanço do IPCA em setembro veio acima do previsto. A estimativa apontava para um avanço médio, de 0,54%. O resultado final fez com que diversos analistas revisassem as estimativas para 2020.

Nos primeiros meses deste ano, o Banco Central estimava uma inflação abaixo dos 2%. Agora, frente às constantes elevações nos preços dos alimentos, a taxa desejada é que o IPCA fique abaixo dos 4% no ano.

Óleo de soja acumula alta de 51,3%

O grupo de alimentação e bebidas teve a maior aceleração dos últimos 12 meses. Pela análise do IBGE, foi essa disparada que impulsionou a inflação. Em setembro, as famílias gastaram 2,28% a mais com alimentação.
De acordo com o gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE, Pedro Kislanov, o câmbio da moeda nacional é um dos componentes que influenciam sobre o preço dos alimentos.

Com a desvalorização do real, é mais atraente para as indústrias e para o setor primário concentrarem esforços à exportação, o que acaba restringindo a oferta dos produtos no mercado interno.

Por esse motivo, se tem alta nos preços dos derivados de soja e do arroz. Para se ter uma ideia, o óleo de soja aumentou 51,3% no ano. Já o arroz está 40,6% mais caro do que o pago pelo consumidor em setembro de 2019.

Tendência para outubro

Além dos movimentos no mercado internacional e da taxa de câmbio favorável para negociar pelo dólar, também há um fator sazonal, alerta o economista e professor da Univates, Eloni José Salvi.

“Com relação ao arroz, já havia um alerta de falta do produto no mercado devido a cinco anos de alta nos custos de produção”, lembra. A partir disso, houve um desestímulo aos produtores rurais e a área de cultivo do cereal diminuiu. Com a seca no Rio Grande do Sul, houve ainda mais redução na oferta do produto.

As incertezas sobre a economia mundial e o ajuste fiscal no Brasil têm interferido na cotação da moeda nacional. Pela análise da Fundação Getúlio Vargas (FGV), há um encarecimento das commodities e no preço dos insumos para indústrias e para a produção primária.

Pela análise da fundação, as duas primeiras semanas de outubro já demonstram que os preços continuarão em alta, com tendência de um avanço ainda maior do que os 0,64% contabilizados em setembro. Um dos motivos é o reajuste de 4% no preço da gasolina e 5% no diesel, em vigor desde o dia 10 de outubro.

Fernanda Sindelar, economista e professora da Univates

• A cotação do dólar no preço da soja, a menor oferta de arroz e o aumento no custo de produção das carnes são motivos centrais para aumento de preço para o mercado doméstico, avalia a economista Fernanda Sindelar.

“Quando o IPCA aumenta, significa que o nosso poder de compra diminui”

• A inflação para setembro teve a maior alta em 17 anos. O que isso impacta sobre o orçamento das famílias?
Fernanda Sindelar – Quando o IPCA aumenta, significa que o nosso poder de compra diminui. As famílias sentem maior pressão sobre o orçamento, já que se torna mais caro comprar os produtos por mês. Assim, muitas famílias tiveram de reavaliar as despesas. Para manter o mesmo nível de consumo, as famílias teriam que ampliar a renda, o que na atual conjuntura está difícil. Além disso, o IPCA é utilizado como uma medida de referência para alguns investimentos e financiamentos, o que pode também influenciar, caso alguém esteja pensando em adquirir algum tipo de empréstimo.

• Produtos básicos, como carnes, óleo de soja e arroz acumulam as maiores elevações. Qual o motivo para esse aumento?
Fernanda – Lei da oferta e da procura. O item alimentos foi o que mais contribuiu para que houvesse o aumento do índice de inflação. E, no caso desses produtos básicos, são alguns que apresentaram as maiores altas. No caso da soja, um commodity, o preço é fixado no mercado internacional.
Hoje, a demanda mundial é maior do que a oferta, já que algumas regiões sofreram com a seca, como foi o caso do Rio Grande do Sul. Mas a produção americana também foi afetada. Como a demanda mundial cresceu, isso trouxe aumento nos preços. O mesmo se percebe com o arroz e com a carne.
Com o dólar alto e o real desvalorizado, muitos produtores decidiram ampliar suas exportações, reduzindo a oferta doméstica. Com isso, os preços subiram.

• De que forma essa valorização no preço desses produtos interfere sobre o agricultor?
Fernanda – Esse aumento não chegou de forma homogênea. Por exemplo, os produtores de soja estão recebendo um valor superior pelo preço de produção, pois se beneficiam da cotação do dólar. No caso das carnes, os custos de produção subiram devido ao preço dos grãos no mercado internacional.

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