No lugar dos eventos, a recreação, aulas de artes e oficinas das mais diversas. Os administradores de casas de festas infantis de Lajeado usam a criatividade para inventar programações para as crianças e manter os espaços com algum tipo de funcionamento.
Os eventos estão parados desde março, quando tiveram início as restrições decorrentes da pandemia.
Para manter os espaços abertos foi necessário aprovar protocolos preventivos junto ao comitê municipal. Algumas casas de festas infantis obtiveram liberação para oferecer atrativos às crianças.
“São quase sete meses sem trabalhar, sem poder realizar festa. Tivemos muitos eventos cancelados, onde temos de fazer a devolução integral do valor, mesmo sem ter entrada de caixa”, afirma a gerente de uma casa Francine Lenhard.
Pintura de bolachas, bolhas de sabão e até o famoso aplicativo Tik Tok estão entre as atividades propostas com objetivo de estimular a criatividade dos pequenos.
De olho no pós-pandemia
Enquanto acompanha os desdobramentos das negociações entre o setor e o governo do estado, a empresa de Francine abriu agendamentos a partir de novembro e já tem procura. Os clientes buscam garantir uma data para o caso de os eventos serem liberados até lá. Caso a liberação não saia, as datas são canceladas e o dinheiro, devolvido.
Sem festas há quase sete meses, Francine avalia que o setor tem uma demanda represada. Ela acredita que 2021 vai ser um ano de agenda cheia.
“A maioria das crianças não teve festa grande este ano, então acredito que no próximo ano todas essas vão querer fazer”.
Baixo retorno financeiro
Francine afirma que, em função do número reduzido de crianças, o retorno financeiro não é satisfatório. “Financeiramente, não valeria a pena. Aceitamos até 30 crianças, para poder ter os devidos cuidados. Dá só o custo de abrir, só pra movimentar a casa e dizer que estamos voltando em breve”, avalia.
A percepção é a mesma da proprietária de uma casa de festas infantis do bairro Montanha, Caroline Ferri, 41. Na tarde de sexta-feira, 9, ela realizava atividades recreativas para 18 crianças. “Não temos lucro com isso, mas abrimos a casa para dar alegria às crianças e para que percebam que podemos retornar”, afirma.
A empreendedora até tentou inovar e levar parte dos brinquedos, comes e bebes para a casa dos clientes.
Entretanto cita que a iniciativa teve pouca adesão. “Deu para contar nos dedos de uma mão o número de famílias que fizeram, isso porque já tinham contratado o serviço antes e aceitaram com essa mudança”, conta.
Nos sete meses sem atividades, Caroline afirma ter gasto as economias de quatro anos do empreendimento. Principal custo foi com o aluguel, que teve até de ser negociado com os locadores.
Para a empresária, a volta das atividades com protocolos de cuidado é uma questão de sobrevivência. “Todas as atividades estão retomando. Acredito que aqui dentro, adotando restrições, as crianças estarão seguras”, prevê.
Antes da pandemia, a casa de festas de Caroline realizava cerca de 40 festas por mês e atuava com 22 funcionários freelances.
Eventos devem voltar em novembro, projeta setor
Em todo o estado, proprietários de casas de festas infantis se mobilizam pela flexibilização das regras e uma retomada das atividades.
Proprietários dos estabelecimentos se organizam por meio de grupos de Whatsapp para pressionar o estado. Representantes da União das Casas de Festas e Eventos (UCFE), Serafim Marques de Souza Neto conta que recebe cerca de 300 mensagens por dia em grupos de Whatsapp que reúnem empreendimentos de mais de 120 cidades gaúchas.
Proprietário de três casas, duas em Novo Hamburgo e uma em Estância Velha, ele conta que teve de fechar uma delas e mudar a matriz de imóvel, em função do custo do aluguel.
O empresário acredita que as festas infantis sejam liberadas a partir do mês que vem. “Pelo que sinto nas reuniões, novembro abre. Isso se não tivermos surpresa antes. O que vier antes é lucro”, avalia. Algumas prefeitura liberaram atividades, contrariando o estado, é o caso de Venâncio Aires.
Na última quarta-feira, representantes do setor apresentaram à secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, uma proposta de protocolo para a reabertura. Após a reunião, o documento foi adaptado e reenviado ontem. O setor aguarda agora a resposta do comitê de crise do Estado.
Neto acredita que não será necessária a realização de um evento-teste, o que deve ocorrer com os bailes.
“O importante para nós é virar essa chave, nós temos que abrir. E aí vamos ajustando os protocolos de segurança na prática e, de forma planejada, aumentando nossa flexibilização”, projeta.
Do protesto ao tapete
No fim de setembro, o grupo chegou a planejar uma manifestação em Porto Alegre, mas recuou do ato conforme as negociações avançaram. “Hoje a nossa luta está no tapete, nas reuniões, na parte burocrática”, afirma Neto.
Após o encontro de quarta-feira, a secretária Arita Bergmann destacou que a análise técnica sobre a viabilidade do projeto ficará a cargo do comitê estadual de crise. “É importante que seja construída, de forma conjunta, a melhor alternativa com vistas à segurança das pessoas que vão participar de um evento infantil”, afirmou.
Segmento se organiza
Em paralelo à retomada, a UCFE busca formas de os empresários buscarem saídas financeiras e financiamentos para garantir a sustentabilidade dos negócios no retorno. “Muitas já fecharam e muitas não vão conseguir aguentar o tranco na volta”, estima Neto.
Ele estima que o estado tenha mais de mil estabelecimentos, sendo mais de 200 na região metropolitana.
Seu próximo objetivo é que a mobilização deixe um legado de maior organização do setor, com a criação de associações nos municípios.