“Os momentos de crise  nos transformam”

Abre aspas

“Os momentos de crise nos transformam”

Aos 26 anos, Rita de Cássia Quadros da Rosa, 38, descobriu um câncer em estágio avançado entre o coração e o pulmão. O medo de morrer sem ter atingido os objetivos traçados na vida serviu de estímulo. Em meio à quimioterapia, fez o Enem e ficou em 1º lugar para uma bolsa do Prouni. Contra-mestre de Capoeira e apaixonada por esportes, escolheu a Educação Física por ser uma disciplina fora da sala de aula e com um contato mais próximo dos alunos. Natural de Rio Pardo, mora em Lajeado faz 11 anos, onde atua na rede municipal.

“Os momentos de crise  nos transformam”
Lajeado
oktober-2024

• Quando descobriu que estava com câncer?
Eu tinha 26 anos. Estava me sentido mal. Sentia dores no peito, dificuldade para respirar, tinha dificuldade para enxergar. O quadro foi piorando e fui a cinco médicos até conseguir o diagnóstico. Era um câncer muito agressivo, chamado de linfoma. Estava entre o coração e o pulmão. Fui levada direto para Porto Alegre, para fazer a cirurgia. Logo depois já comecei o tratamento. Foram três anos de quimioterapia.
Sempre fui uma pessoa muito ativa. E neste período, tinha dificuldade de ir do quarto até a cozinha. Foi muito doloroso, tanto pela medicação, quanto pela doença e pelas transformações no corpo.

• O que sentiu quando descobriu a doença?
Um medo terrível de morrer sem ter feito nada da vida. Para quem tem câncer, o pior momento é entre a biopsia e a cirurgia inicial. É quando descobrimos se tem tratamento ou não. Dependendo do prognóstico, é muito difícil pensar positivo.
Então comecei a repensar várias coisas. Sempre carreguei comigo uma vontade de fazer algo, de contribuir para esse lugar onde estamos. Imaginava o que poderia ter feito e não fiz.

• Estava na faculdade nesta época? Como foi conciliar a doença e os estudos?
Eu tinha feito um semestre e havia trancado a faculdade. Não tínhamos como pagar pelo curso. Em meio à quimioterapia, o governo havia lançado o Prouni. Com bolsas integrais para alunos carentes. Foi ali que vi minha oportunidade. Eu lembro até hoje o dia da prova do Enem. Estava carequinha, com aparência de uma pessoa doente. Eu passava e ficava todo mundo me olhando. Os olhares dizem muitas coisas. Algumas sentiam pena e outras repulsa.

Eu estava muito debilitada. Sentia náuseas, precisei sair da prova várias vezes para ir ao banheiro. Lembro que eram 300 candidatos para dez bolsas na Unisc. Foi muito concorrido e mesmo assim eu venci. Fiquei em primeiro lugar.

• O que essa vitória representou?
Por mais que eu não seja de acreditar em sinais, vi ali que teria outra chance de viver. A alegria foi tão grande que me fez esquecer um pouco a dor. Quando as aulas começaram, foram mais desafios. Muitas pessoas não sabiam da minha condição. Teve um professor que não me liberou de uma prova de atletismo. Me fez correr. No outro dia, não conseguia caminhar direito. Mas eu fiz.

• Como era a Rita antes e como é hoje?
Tudo isso me mostrou que sou uma pessoa muito forte. Sou capaz de passar pelas dificuldades de cabeça erguida. Descobri que tenho um amor imenso por ser professora, por conviver com meus alunos. Sou uma pessoa apaixonada pela vida. Sei do meu lugar no mundo e sei que posso transformar as coisas. Os momentos de crise nos transformam. A doença me ajudou a ser o que sou.

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