Com muita festa e orgulho. Foi assim que professores e alunos da escola estadual José Plácido de Castro, de Relvado, receberam o resultado do Ideb 2019. A nota de 5.6 obtida pelo 3º ano do Ensino Médio supera inclusive a meta de 2021.
Deixa bem para trás a nota nacional e estadual. “Isso se deve ao trabalho comprometido de todos. Dos professores, do envolvimento dos alunos e da participação das famílias”, resume a diretora Jacinta Ana dos Santos Cagliari.
Os alunos que prestaram o exame já se formaram. “Lembro que quando foram selecionados, nos reunimos e conversamos. Falamos que não era só um resultado para a escola, mas para eles. Pedimos para fazerem o melhor que podiam, para mostrar toda a capacidade que eles têm, pois é isso que a vida espera de nós”, conta a diretora.
O colégio tem 135 alunos, dos anos finais do Ensino Fundamental e Médio. São 16 professores e seis funcionários. Uma escola pequena, em comparação coma as das maiores cidades do Vale. Justo por isso, acredita Jacinta, se tem um grande envolvimento de toda a comunidade escolar.
A participação das famílias nas atividades é um fator positivo da instituição, realça. De acordo com a diretora, há muito diálogo entre professores e famílias. “Quando um aluno não está bem, está faltando ou com notas baixas, chamamos os pais e eles sempre ajudam. Esse comparecimento é fundamental e ajuda muito para termos bons resultados.”
Para chegar ao desempenho das redes, a metodologia do Ideb estabelece dois cálculos: taxa de rendimento escolar (aprovação e evasão) e a média das notas dos alunos nos exames padrão do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
A pesquisa avalia em uma escala de zero a dez. A série de resultados iniciou em 2005, quando foram estabelecidas as metas bienais de qualidade. Os objetivos do índice são feitos de acordo com a realidade de cada rede de ensino, município e escola. A partir das notas prévias são determinados os percentuais desejados a cada dois anos.
Baixo desempenho e muita preocupação
O colégio Padre Fernando, de Roca Sales, teve uma nota inferior a média estadual e nacional. Ficou com 3.4 pontos. Foi a primeira vez que a instituição teve avaliação do 3º ano do Ensino Médio, por isso não havia estabelecido uma métrica para alcançar em 2019.
Ainda assim, a nota traz muita preocupação, reconhece a diretora Bernadete Maria Vuaden Severico. “Tínhamos alguns indicativos. Pouco interesse dos alunos, professores desanimados e famílias distantes da escola. O resultado comprovou isso”, admite.
Para ela, esse baixo desempenho traz a necessidade de repensar diversos aspectos da escola. “Nós, da equipe diretiva, coordenação pedagógica e professores, conversamos muito para encontrar formas de reverter essas dificuldades.”
Investir na formação dos docentes, melhorar os ambientes para que o aluno goste da escola e elaborar projetos para facilitar a aprendizagem são algumas alternativas. Ainda assim, Bernadete realça a necessidade de um esforço coletivo em prol da educação e do conhecimento. Na avaliação dela, a escola não é a única responsável por esse baixo desempenho. “Vamos insistir sempre para melhorar. Estamos nos perguntando muito o porquê dessa nota baixa. Temos algumas sugestões, mas precisamos de engajamento de toda a comunidade escolar.”
A Escola Padre Fernando é a única da rede estadual de Roca Sales. Tem cerca de 330 alunos, com aulas nos três turnos. Atende do 3º ano do Fundamental até o último ano do Ensino Médio.
ENTREVISTA
“Desenvolver a autonomia de pensamento não se opõe à importância de preparar os estudantes à atuação profissional”
• Das 45 escolas com terceiros anos da região, 26 tiveram avaliação do Ideb. Apenas quatro ficaram na média ou abaixo do resultado estadual. O restante teve notas superiores. Como podemos avaliar esse desempenho?
Maria Elisabete Bersch – O objetivo dessas avaliações deve ser a qualificação do ensino. Nesse sentido, os dados devem apontar os avanços alcançados e indicar aspectos a serem qualificados. É importante entender que os instrumentos empregados avaliam aspectos da educação que são comuns em todo o país. No entanto, o currículo das escolas é configurado pela articulação do que está proposto na Base Nacional Comum Curricular, com as especificidades de cada região, município e comunidade.
Dessa forma, as avaliações externas apontam indicadores muito importantes, mas não conseguem dar conta de toda a complexidade da educação. Entendo que temos que comemorar as conquistas, mas também aquelas que decorrem da adequação da escola ao contexto em que se insere e precisam ser observadas no trabalho cotidiano. É a articulação desses dois olhares que aponta para ações que possam vir a qualificar o ensino.
• Quais os principais desafios para evoluir em qualidade no Ensino Médio?
Maria – Precisamos enfrentar algumas questões estruturais. Uma delas se refere a superar a descontinuidade das políticas públicas. Além disso, se faz necessário maior investimento na qualificação das escolas, tanto no que se refere à estrutura, seja laboratórios, bibliotecas e espaços de aprendizagem diversificados, quanto no que se refere ao quadro funcional. Por fim, faz-se necessária também uma política de valorização dos professores e demais profissionais que atuam na educação e na formação continuada desses profissionais.
• De um lado, há quem defenda revisão nos conteúdos, para apresentar atividades práticas e assim formar melhor mão de obra. Por outro, uma análise de que é necessária uma formação intelectual para que os alunos sejam capazes de pensar por si próprio. Como equilibrar essas duas vertentes?
Maria – Talvez um dos grandes problemas que vivenciamos é justamente essa polarização. Desenvolver a autonomia de pensamento, a criação e a criticidade não se opõem à importância de preparar os estudantes para a atuação profissional. Pelo contrário, as experiências de pensamento nos possibilitam ampliar a compreensão de mundo, possibilitando a identificação de problemas sociais e a emergência de novas possibilidades para superar desafios.