Saneamento: desafio para os próximos gestores

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Saneamento: desafio para os próximos gestores

No 12º debate do projeto Política Cidadã, participantes avaliam os desafios do saneamento básico para as futuras administrações públicas. Enquanto o abastecimento de água alcança quase toda a totalidade da população, a coleta de efluentes doméstico fica relegada. Como resultado, poluição do solo, das reservas de água, dos rios e prejuízos à saúde das pessoas.

Saneamento: desafio para os próximos gestores
Tratamento de lixo faz parte do debate a cerca do tratamento de lixo. Foto: Fábio Kuhn
Vale do Taquari

O país tem um novo marco do saneamento básico. O documento institui as regras e metas para o abastecimento de água, drenagem das ruas, coleta de lixo e o esgoto. De todas elas, o Vale do Taquari tem gargalos na receptação e tratamento dos efluentes domésticos, no destino do lixo e no tratamento dos dejetos das produções rurais.

Essas temáticas foram abordadas em mais uma edição do projeto Política Cidadã. O debate teve a participação do professor da Univates e pesquisador, Odorico Konrad, do vice-presidente da Associação Pró-Desenvolvimento de Laguiru e integrante do Comitê Hidrográfico da Bacia Taquari-Antas, Rudimar Nestor Landmeier, e do engenheiro civil, doutor em saneamento, Tiago Luis Gomes.

A atração semanal foi transmitida ao vivo na tarde de ontem pela Rádio A Hora 102.9. Até as eleições, em todas as quartas-feiras, ocorrerá um debate sobre temas ligados à política e à cidadania. Os Debates A Hora – Política Cidadã tem patrocínio da Docile, Indufrio, Mak Serviços, Metalúrgica Hassmann, A Mobília e Compacta.

Sem evolução nas últimas quatro décadas

Os números sobre tratamento do esgoto são contraditórios. Por um lado, o IBGE aponta para 86% de alcance no RS. O governo estadual tem outra observação, de cerca de 32%. Algo mais próximo da realidade está na análise do Conselho de Desenvolvimento Regional (Codevat), que aponta o máximo de 11% de residências com algum tipo de tratamento dos efluentes.

Para explicar tamanha discrepância, está a diferença de metodologia. O IBGE tem como base a consulta domiciliar. O Estado considera tratamento inclusive fossas rudimentares, já o Codevat usa como base as informações regionais.

Ainda assim, o professor Odorico Konrad tem dúvidas quanto à veracidade dos dados. “Não chega a 1%. Pode vir e me contestar. Eu ficaria muito feliz se me mostrassem que eu estou errado. A realidade é muito triste. Nos últimos 40 anos não tivemos evolução no tratamento do esgoto.”

Na avaliação dele, em que pese à carência no tratamento dos efluentes, a região é privilegiada por ter água potável de qualidade à população. “Neste aspecto, preciso reconhecer. Evoluímos bastante e podemos dizer que 99% das pessoas tem acesso a água.”

Entre o desejado e o possível

Para o engenheiro e doutor em saneamento, Tiago Luis Gomes, o marco regulatório aprovado entre junho e julho traz metas difíceis de cumprir. O documento estabelece que até 2033, 90% do esgoto seja tratado.

O investimento previsto seria de R$ 500 bilhões. “É pouco. Só o plano para recuperação da bacia do Sinos, que é a quarta mais poluída do país, o orçamento previsto supera R$ 6 bilhões.”

De acordo com ele, é preciso melhor regulação dos serviços. Uma alternativa mais viável, seria estabelecer regras para o uso de fossa, filtro e sumidouro, com exigência de limpeza a cada 12 meses. “Não é o ideal, mas já ajuda. Importante exigir a limpeza do recipiente. Do contrário, vira apenas uma passagem dos efluentes. Hoje as pessoas só limpam quando o cheiro chegou na cozinha.”

Organização social

O Vale do Taquari tem cerca de 300 associações de águas. Organizações sem fins lucrativos que prestam serviços para abastecimento de comunidades e até cidades. Essa característica social, conta Rudimar Nestor Landmeier, pressupõe participação das pessoas. Em cima disso, se estabelecem ações para melhoria das cidades, como aconteceu em Teutônia, relembra.

“Em 2011, na iniciativa Revive Boa Vista, plantávamos árvores nas margens do arroio. Na visita, ficamos tristes e indignados ao ver o esgoto poluindo a água.” A sensação desalentadora tomou corpo. “Como pode, em uma cidade pequena, em que temos orgulho de manter ela limpa e organizada, ter esgoto correndo 24 horas por dia?”

Esse olhar fez com que a associação começasse a elaborar planos e buscar formas de contribuir para mudança disso. Os integrantes visitaram outros locais, para ver o que estava sendo feito. A partir disso, a atuação do grupo passou a ser mais incisiva sobre a municipalidade, com sugestões e cobranças para melhorias no saneamento.

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